domingo, 21 de março de 2010

Semana "MIGUEL TORGA" (VII )


Miguel Torga nasceu em 12 de Agosto de 1907 em S. Martinho da Anta, concelho de Sabrosa, Trás-os-Montes e faleceu em 17 de Agosto de 1995. De seu verdadeiro nome, chamava-se Adolfo Correia da Rocha. Frequentou apenas por um ano, o seminário em Lamego. Em 1920 partiu para o Brasil, onde foi recebido na fazenda de um tio, com quem regressou depois a Portugal e que se prontificou a custear-lhe os estudos em Coimbra. Em apenas três anos fez o curso do liceu. Matriculou-se na Faculdade de Medicina, onde terminou o curso em 1933.
 Como médico, teve uma breve estadia no Porto, ainda exerceu a profissão na terra natal, passou por Miranda do Corvo, mas foi em Coimbra que estabeleceu consultório, no Largo da Portagem desta cidade onde viveu a maior parte da sua vida.
Em 1936 adoptou o pseudónimo de Miguel Torga que o havia de imortalizar. Simbolicamente, “torga” é o nome de uma urze campestre com raízes muito duras infiltradas por entre as rochas, sendo muito amarga e difícil de arrancar.
Escreveu uma obra vasta e marcante, em poesia, prosa e teatro que foi publicada em edição completa pelas Publicações D. Quixote em 2000 e reeditada por “Planeta de Agostini”em 2003.
Com ideias que se demarcavam do salazarismo, foi preso e pensou em sair do país, mas não o fez por se sentir profundamente ligado à pátria, longe da qual seria um "cadáver a respirar". A sua poesia reflecte as apreensões, esperanças e angústias do seu tempo. Nos volumes do seu Diário, em prosa e em verso, encontramos crítica social, apontamentos de paisagem, esboço de contos, apreciações culturais e também magníficos textos da mais alta poesia. Considerado um dos maiores poetas contemporâneos, Miguel Torga editou os seus próprios livros, a suas expensas, durante muitos anos.

ARIANE

Ariane é um navio.    
Tem mastros, velas e bandeira à proa,          
E chegou num dia branco, frio,        
A este rio Tejo de Lisboa.     

Carregado de Sonho, fundeou         
Dentro da claridade destas grades...
Cisne de todos, que se foi, voltou    
Só para os olhos de quem tem saudades...   

Foram duas fragatas ver quem era    
Um tal milagre assim: era um navio  
Que se balança ali à minha espera     
Entre as gaivotas que se dão no rio. 

Mas eu é que não pude ainda por meus passos        
Sair desta prisão em corpo inteiro,    
E levantar âncora, e cair nos braços  
De Ariane, o veleiro.
 

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