Como médico, teve uma breve estadia no Porto, ainda exerceu a profissão na terra natal, passou por Miranda do Corvo, mas foi em Coimbra que estabeleceu consultório, no Largo da Portagem desta cidade onde viveu a maior parte da sua vida.
Em 1936 adoptou o pseudónimo de Miguel Torga que o havia de imortalizar. Simbolicamente, “torga” é o nome de uma urze campestre com raízes muito duras infiltradas por entre as rochas, sendo muito amarga e difícil de arrancar.
Escreveu uma obra vasta e marcante, em poesia, prosa e teatro que foi publicada em edição completa pelas Publicações D. Quixote em 2000 e reeditada por “Planeta de Agostini”em 2003.
Com ideias que se demarcavam do salazarismo, foi preso e pensou em sair do país, mas não o fez por se sentir profundamente ligado à pátria, longe da qual seria um "cadáver a respirar". A sua poesia reflecte as apreensões, esperanças e angústias do seu tempo. Nos volumes do seu Diário, em prosa e em verso, encontramos crítica social, apontamentos de paisagem, esboço de contos, apreciações culturais e também magníficos textos da mais alta poesia. Considerado um dos maiores poetas contemporâneos, Miguel Torga editou os seus próprios livros, a suas expensas, durante muitos anos.
A largada
Foram então as ânsias e os pinhais
Transformados em frágeis caravelas
Que partiam guiadas por sinais
Duma agulha inquieta como elas...
Foram então abraços repetidos
À Pátria-Mãe-Viúva que ficava
Na areia fria aos gritos e aos gemidos
Pela morte dos filhos que beijava.
Foram então as velas enfunadas
Por um sopro viril de reacção
Às palavras cansadas
Que se ouviam no cais dessa ilusão.
Foram então as horas no convés
Do grande sonho que mandava ser
Cada homem tão firme nos seus pés
Que a nau tremesse sem ninguém tremer.
Foram então as ânsias e os pinhais
Transformados em frágeis caravelas
Que partiam guiadas por sinais
Duma agulha inquieta como elas...
Foram então abraços repetidos
À Pátria-Mãe-Viúva que ficava
Na areia fria aos gritos e aos gemidos
Pela morte dos filhos que beijava.
Foram então as velas enfunadas
Por um sopro viril de reacção
Às palavras cansadas
Que se ouviam no cais dessa ilusão.
Foram então as horas no convés
Do grande sonho que mandava ser
Cada homem tão firme nos seus pés
Que a nau tremesse sem ninguém tremer.
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