A 2 Julho de 2004 silenciava-se a voz da poetisa que marcara nas últimas seis décadas a literatura portuguesa na qual deixou inesquecível marca tal a qualidade da poesia que nos deixou. Poetisa como a si própria se chamava. Outras mulheres querem que se lhes chame poetas. Mas Sophia preferia assumir o que não entendia como inferioridade mas como significativa diferença. Nascera na cidade do Porto em 6 de Novembro de 1919, de família numerosa, aristocrática e de raízes dinamarquesas por parte de seu pai. Veio para Lisboa para frequentar a Faculdade de Letras mas não chegou a concluir o curso de Filologia Clássica. Estreou-se em 1944 com o livro “Poesias”, uma colectânea onde já assomavam os temas que estiveram presentes ao longo da sua obra: o mar, a casa, o amor, a transparência luminosa dos céus do Sul, a exaltação dos comportamentos nobres e a dimensão ética das belas atitudes. Além da poesia deixou-nos também belos escritos em prosa, alguns deles a pensar nos mais novos. Foi premiada com distinções de elevado significado, entre as quais se destacam: Prémio Camões, em 1999; Prémio Max Jacob, em 2001; Prémio de poesia Ibero-americana rainha Sofia, em 2003.
Casa Branca
Casa branca em frente
ao mar enorme,
Como o teu jardim de
areia e flores marinhas
E o teu silêncio intacto
em que dorme
O milagre das coisas
que eram minhas.
A ti eu voltarei após o
incerto
Calor de tantos gestos
recebidos
Passados os tumultos e
o deserto
Beijados os fantasmas,
percorridos
Os murmúrios da terra
indefinida.
Em ti renascerei num
mundo meu
E a redenção virá nas
tuas linhas
Onde uma coisa
se perdeu
Do milagre das coisas
que eram minhas.
(In “Poesia I”)
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