quarta-feira, 31 de março de 2010

Semana "ANTÓNIO RAMOS ROSA" ( III)


Poeta e ensaísta português, natural de Faro. Nasceu em 17 de Outubro de 1924. Quando a Segunda Guerra Mundial terminou, Ramos Rosa rumou a Lisboa. Na capital, trabalhou no comércio, actividade que logo abandonou para se dedicar à poesia. Também tradutor e ensaísta, escreveu dezenas de volumes de poesia. Recebeu numerosos prémios nacionais e estrangeiros, entre os quais o Prémio Pessoa, em 1988. É geralmente tido como um dos grandes poetas portugueses contemporâneos. Ramos Rosa, foi considerado o poeta do presente absoluto, da «liberdade livre”. É comparado com os grandes escritores nacionais. Urbano Tavares Rodrigues considerou-o como o empolgante poeta das coisas primordiais, da luz, da pedra e da água.

Onde mora a memória obscura, onde
esse cavalo persiste como um relâmpago de pedra,
onde o corpo se nega, onde a noite ensurdece,
caminho sobre pedras na minha casa pobre.
Não conheço esse lago, não fui a esse país.
Mas aqui é um termo ou princípio novo.
Com a baba do cavalo, com os seus nervos mais finos
reconstruí o corpo, silenciei os membros.
Não se estancou a sede, no mesmo caos de agora,
mas a língua rebenta, as vértebras estalam
por uma nova língua, por um cavalo que una
a terra à tua boca, e a tua boca à água.

(de Ciclo do Cavalo,1975)

terça-feira, 30 de março de 2010

Semana "ANTÓNIO RAMOS ROSA" (II)



Poeta e ensaísta português, natural de Faro. Nasceu em 17 de Outubro de 1924. Quando a Segunda Guerra Mundial terminou, Ramos Rosa rumou a Lisboa. Na capital, trabalhou no comércio, actividade que logo abandonou para se dedicar à poesia. Também tradutor e ensaísta, escreveu dezenas de volumes de poesia. Recebeu numerosos prémios nacionais e estrangeiros, entre os quais o Prémio Pessoa, em 1988. É geralmente tido como um dos grandes poetas portugueses contemporâneos. Ramos Rosa, foi considerado o poeta do presente absoluto, da «liberdade livre”. É comparado com os grandes escritores nacionais. Urbano Tavares Rodrigues considerou-o como o empolgante poeta das coisas primordiais, da luz, da pedra e da água.
 


Semelhante à imóvel
transparência
à inesgotável face
à pedra larga onde o olhar repousa
Água sombra e a figura
azul quase um jardim por sob a sombra
a iminência viva aérea
de uma palavra suspensa
na folhagem
Semelhante ao disperso ao ínfimo
chama-se agora aqui o sono da erva
a ligeireza livre
a nuvem sobre a página

(de A Nuvem sobre a Página,1978)

segunda-feira, 29 de março de 2010

Semana "ANTÓNIO RAMOS ROSA" ( I )


Poeta e ensaísta português, natural de Faro. Nasceu em 17 de Outubro de 1924. Quando a Segunda Guerra Mundial terminou, Ramos Rosa rumou a Lisboa. Na capital, trabalhou no comércio, actividade que logo abandonou para se dedicar à poesia. Também tradutor e ensaísta, escreveu dezenas de volumes de poesia. Recebeu numerosos prémios nacionais e estrangeiros, entre os quais o Prémio Pessoa, em 1988. É geralmente tido como um dos grandes poetas portugueses contemporâneos. Ramos Rosa, foi considerado o poeta do presente absoluto, da «liberdade livre”. É comparado com os grandes escritores nacionais. Urbano Tavares Rodrigues considerou-o como o empolgante poeta das coisas primordiais, da luz, da pedra e da água.

Um astro
Ouve a longa incoerência da palavra e a memória
do sangue que se apaga. Ouve a terra taciturna.
Tudo é furtivo e as sombras não acolhem. Nenhum jardim
de segredos. Nenhuma pátria entre as ervas e a areia.
Onde é que nasce a sombra e a claridade?
Eis as vertentes da terra árida e negra. Quem
reconhece o equilíbrio das evidências serenas?
Estas palavras têm o odor de portas enterradas.
Como dominar a desmesura da ausência e a vertigem?
Como reunir o obscuro em palavras evidentes?
Escuta, escuta a longa incoerência da terra
e da palavra. Ao longo da distância
murmura a perfeição monótona de um mar.
Num pudor de esquecimento um astro se aveluda
em denso azul na corola do silêncio.


(de Volante Verde,1986)
 

domingo, 28 de março de 2010

Semana “SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN” (VII)


A 2 Julho de 2004 silenciava-se a voz da poetisa que marcara nas últimas seis décadas a literatura portuguesa na qual deixou inesquecível marca tal a qualidade da poesia que nos deixou. Poetisa como a si própria se chamava. Outras mulheres querem que se lhes chame poetas. Mas Sophia preferia assumir o que não entendia como inferioridade mas como significativa diferença. Nascera na cidade do Porto em 6 de Novembro de 1919, de família numerosa, aristocrática e de raízes dinamarquesas por parte de seu pai. Veio para Lisboa para frequentar a Faculdade de Letras mas não chegou a concluir o curso de Filologia Clássica. Estreou-se em 1944 com o livro “Poesias”, uma colectânea onde já assomavam os temas que estiveram presentes ao longo da sua obra: o mar, a casa, o amor, a transparência luminosa dos céus do Sul, a exaltação dos comportamentos nobres e a dimensão ética das belas atitudes. Além da poesia deixou-nos também belos escritos em prosa, alguns deles a pensar nos mais novos. Foi premiada com distinções de elevado significado, entre as quais se destacam: Prémio Camões, em 1999; Prémio Max Jacob, em 2001; Prémio de poesia Ibero-americana rainha Sofia, em 2003.



Pirata
 
Sou o único homem a bordo do meu barco.
Os outros são monstros que não falam,
Tigres e ursos que amarrei aos remos,
E o meu desprezo reina sobre o mar.
 
Gosto de uivar no vento com os mastros
E de me abrir na brisa com as velas,
E há momentos que são quase esquecimento
Numa doçura imensa de regresso.
 
A minha pátria é onde o vento passa,
A minha amada é onde os roseirais dão flor,
O meu desejo é o rastro que ficou das aves,
E nunca acordo deste sonho e nunca durmo.

sábado, 27 de março de 2010

Semana “SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN” (VI)


A 2 Julho de 2004 silenciava-se a voz da poetisa que marcara nas últimas seis décadas a literatura portuguesa na qual deixou inesquecível marca tal a qualidade da poesia que nos deixou. Poetisa como a si própria se chamava. Outras mulheres querem que se lhes chame poetas. Mas Sophia preferia assumir o que não entendia como inferioridade mas como significativa diferença. Nascera na cidade do Porto em 6 de Novembro de 1919, de família numerosa, aristocrática e de raízes dinamarquesas por parte de seu pai. Veio para Lisboa para frequentar a Faculdade de Letras mas não chegou a concluir o curso de Filologia Clássica. Estreou-se em 1944 com o livro “Poesias”, uma colectânea onde já assomavam os temas que estiveram presentes ao longo da sua obra: o mar, a casa, o amor, a transparência luminosa dos céus do Sul, a exaltação dos comportamentos nobres e a dimensão ética das belas atitudes. Além da poesia deixou-nos também belos escritos em prosa, alguns deles a pensar nos mais novos. Foi premiada com distinções de elevado significado, entre as quais se destacam: Prémio Camões, em 1999; Prémio Max Jacob, em 2001; Prémio de poesia Ibero-americana rainha Sofia, em 2003.

Exílio
 
Quando a pátria que temos não a temos
Perdida por silêncio e por renúncia
Até a voz do mar se torna exílio
E a luz que nos rodeia é como grades
 
 
25 DE ABRIL
 
Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo
 

Se tanto me dói que as coisas passem
 
Se tanto me dói que as coisas passem
É porque cada instante em mim foi vivo
Na busca de um bem definitivo
Em que as coisas de Amor se eternizassem

sexta-feira, 26 de março de 2010

Semana “SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN” (V)


A 2 Julho de 2004 silenciava-se a voz da poetisa que marcara nas últimas seis décadas a literatura portuguesa na qual deixou inesquecível marca tal a qualidade da poesia que nos deixou. Poetisa como a si própria se chamava. Outras mulheres querem que se lhes chame poetas. Mas Sophia preferia assumir o que não entendia como inferioridade mas como significativa diferença. Nascera na cidade do Porto em 6 de Novembro de 1919, de família numerosa, aristocrática e de raízes dinamarquesas por parte de seu pai. Veio para Lisboa para frequentar a Faculdade de Letras mas não chegou a concluir o curso de Filologia Clássica. Estreou-se em 1944 com o livro “Poesias”, uma colectânea onde já assomavam os temas que estiveram presentes ao longo da sua obra: o mar, a casa, o amor, a transparência luminosa dos céus do Sul, a exaltação dos comportamentos nobres e a dimensão ética das belas atitudes. Além da poesia deixou-nos também belos escritos em prosa, alguns deles a pensar nos mais novos. Foi premiada com distinções de elevado significado, entre as quais se destacam: Prémio Camões, em 1999; Prémio Max Jacob, em 2001; Prémio de poesia Ibero-americana rainha Sofia, em 2003.

Hora
 
Sinto que hoje novamente embarco
Para as grandes aventuras,
Passam no ar palavras obscuras
E o meu desejo canta --- por isso marco
Nos meus sentidos a imagem desta hora.
 
Sonoro e profundo
Aquele mundo
Que eu sonhara e perdera
Espera
O peso dos meus gestos.
 
E dormem mil gestos nos meus dedos.
 
Desligadas dos círculos funestos
Das mentiras alheias,
Finalmente solitárias,
As minhas mãos estão cheias
De expectativa e de segredos
Como os negros arvoredos
Que baloiçam na noite murmurando.
 
Ao longe por mim oiço chamando
A voz das coisas que eu sei amar.
 
E de novo caminho para o mar.


 

quinta-feira, 25 de março de 2010

Semana “SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN” (IV)


A 2 Julho de 2004 silenciava-se a voz da poetisa que marcara nas últimas seis décadas a literatura portuguesa na qual deixou inesquecível marca tal a qualidade da poesia que nos deixou. Poetisa como a si própria se chamava. Outras mulheres querem que se lhes chame poetas. Mas Sophia preferia assumir o que não entendia como inferioridade mas como significativa diferença. Nascera na cidade do Porto em 6 de Novembro de 1919, de família numerosa, aristocrática e de raízes dinamarquesas por parte de seu pai. Veio para Lisboa para frequentar a Faculdade de Letras mas não chegou a concluir o curso de Filologia Clássica. Estreou-se em 1944 com o livro “Poesias”, uma colectânea onde já assomavam os temas que estiveram presentes ao longo da sua obra: o mar, a casa, o amor, a transparência luminosa dos céus do Sul, a exaltação dos comportamentos nobres e a dimensão ética das belas atitudes. Além da poesia deixou-nos também belos escritos em prosa, alguns deles a pensar nos mais novos. Foi premiada com distinções de elevado significado, entre as quais se destacam: Prémio Camões, em 1999; Prémio Max Jacob, em 2001; Prémio de poesia Ibero-americana rainha Sofia, em 2003.

Porque
 
Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão
Porque os outros têm medo mas tu não
 
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
 
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
 
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

 

quarta-feira, 24 de março de 2010

Semana “SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN” (III)


A 2 Julho de 2004 silenciava-se a voz da poetisa que marcara nas últimas seis décadas a literatura portuguesa na qual deixou inesquecível marca tal a qualidade da poesia que nos deixou. Poetisa como a si própria se chamava. Outras mulheres querem que se lhes chame poetas. Mas Sophia preferia assumir o que não entendia como inferioridade mas como significativa diferença. Nascera na cidade do Porto em 6 de Novembro de 1919, de família numerosa, aristocrática e de raízes dinamarquesas por parte de seu pai. Veio para Lisboa para frequentar a Faculdade de Letras mas não chegou a concluir o curso de Filologia Clássica. Estreou-se em 1944 com o livro “Poesias”, uma colectânea onde já assomavam os temas que estiveram presentes ao longo da sua obra: o mar, a casa, o amor, a transparência luminosa dos céus do Sul, a exaltação dos comportamentos nobres e a dimensão ética das belas atitudes. Além da poesia deixou-nos também belos escritos em prosa, alguns deles a pensar nos mais novos. Foi premiada com distinções de elevado significado, entre as quais se destacam: Prémio Camões, em 1999; Prémio Max Jacob, em 2001; Prémio de poesia Ibero-americana rainha Sofia, em 2003.


Casa Branca

Casa branca em frente
ao mar enorme,
Como o teu jardim de
areia e flores marinhas
E o teu silêncio intacto
em que dorme
O milagre das coisas
que eram minhas.

A ti eu voltarei após o
incerto
Calor de tantos gestos
recebidos
Passados os tumultos e
o deserto
Beijados os fantasmas,
percorridos
Os murmúrios da terra
indefinida.

Em ti renascerei num
mundo meu
E a redenção virá nas
tuas linhas
Onde uma coisa
se perdeu
Do milagre das coisas
que eram minhas.

(In “Poesia I”)

 

terça-feira, 23 de março de 2010

Semana "SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN" (II)


A 2 Julho de 2004 silenciava-se a voz da poetisa que marcara nas últimas seis décadas a literatura portuguesa na qual deixou inesquecível marca tal a qualidade da poesia que nos deixou. Poetisa como a si própria se chamava. Outras mulheres querem que se lhes chame poetas. Mas Sophia preferia assumir o que não entendia como inferioridade mas como significativa diferença. Nascera na cidade do Porto em 6 de Novembro de 1919, de família numerosa, aristocrática e de raízes dinamarquesas por parte de seu pai. Veio para Lisboa para frequentar a Faculdade de Letras mas não chegou a concluir o curso de Filologia Clássica. Estreou-se em 1944 com o livro “Poesias”, uma colectânea onde já assomavam os temas que estiveram presentes ao longo da sua obra: o mar, a casa, o amor, a transparência luminosa dos céus do Sul, a exaltação dos comportamentos nobres e a dimensão ética das belas atitudes. Além da poesia deixou-nos também belos escritos em prosa, alguns deles a pensar nos mais novos. Foi premiada com distinções de elevado significado, entre as quais se destacam: Prémio Camões, em 1999; Prémio Max Jacob, em 2001; Prémio de poesia Ibero-americana rainha Sofia, em 2003.
                                                                                                               

Data
à memória d’Eustache Deschamps

Tempo de solidão e de incerteza
Tempo de medo e de traição
Tempo de injustiça e de vileza
Tempo de negação

Tempo de covardia e tempo de ira
Tempo de mascarada e de mentira
Tempo de escravidão

Tempo dos coniventes sem cadastro
Tempo de silêncio e de mordaça
Tempo onde o sangue não tem rasto
Tempo de ameaça

segunda-feira, 22 de março de 2010

Semana SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN (I)


A 2 Julho de 2004 silenciava-se a voz da poetisa que marcara nas últimas seis décadas a literatura portuguesa na qual deixou inesquecível marca tal a qualidade da poesia que nos deixou. Poetisa como a si própria se chamava. Outras mulheres querem que se lhes chame poetas. Mas Sophia preferia assumir o que não entendia como inferioridade mas como significativa diferença. Nascera na cidade do Porto em 6 de Novembro de 1919, de família numerosa, aristocrática e de raízes dinamarquesas por parte de seu pai. Veio para Lisboa para frequentar a Faculdade de Letras mas não chegou a concluir o curso de Filologia Clássica. Estreou-se em 1944 com o livro “Poesias”, uma colectânea onde já assomavam os temas que estiveram presentes ao longo da sua obra: o mar, a casa, o amor, a transparência luminosa dos céus do Sul, a exaltação dos comportamentos nobres e a dimensão ética das belas atitudes. Além da poesia deixou-nos também belos escritos em prosa, alguns deles a pensar nos mais novos. Foi premiada com distinções de elevado significado, entre as quais se destacam: Prémio Camões, em 1999; Prémio Max Jacob, em 2001; Prémio de poesia Ibero-americana rainha Sofia, em 2003.
                                                                                                               
O Poema
O poema me levará no tempo
Quando eu já não for eu
E passarei sozinha
Entre as mãos de quem lê
O poema alguém o dirá
Às searas

Sua passagem se confundirá
Com o rumor do mar com o passar do vento

O poema habitará
O espaço mais concreto e mais atento

No ar claro nas tardes transparentes
Suas sílabas redondas

(Ó antigas ó longas
Eternas tardes lisas)

Mesmo que eu morra o poema encontrará
Uma praia onde quebrar as suas ondas

E entre quatro paredes densas
De funda e devorada solidão
Alguém seu próprio ser confundirá
Com o poema no tempo

(In “Livro Sexto”)

domingo, 21 de março de 2010

Semana "MIGUEL TORGA" (VII )


Miguel Torga nasceu em 12 de Agosto de 1907 em S. Martinho da Anta, concelho de Sabrosa, Trás-os-Montes e faleceu em 17 de Agosto de 1995. De seu verdadeiro nome, chamava-se Adolfo Correia da Rocha. Frequentou apenas por um ano, o seminário em Lamego. Em 1920 partiu para o Brasil, onde foi recebido na fazenda de um tio, com quem regressou depois a Portugal e que se prontificou a custear-lhe os estudos em Coimbra. Em apenas três anos fez o curso do liceu. Matriculou-se na Faculdade de Medicina, onde terminou o curso em 1933.
 Como médico, teve uma breve estadia no Porto, ainda exerceu a profissão na terra natal, passou por Miranda do Corvo, mas foi em Coimbra que estabeleceu consultório, no Largo da Portagem desta cidade onde viveu a maior parte da sua vida.
Em 1936 adoptou o pseudónimo de Miguel Torga que o havia de imortalizar. Simbolicamente, “torga” é o nome de uma urze campestre com raízes muito duras infiltradas por entre as rochas, sendo muito amarga e difícil de arrancar.
Escreveu uma obra vasta e marcante, em poesia, prosa e teatro que foi publicada em edição completa pelas Publicações D. Quixote em 2000 e reeditada por “Planeta de Agostini”em 2003.
Com ideias que se demarcavam do salazarismo, foi preso e pensou em sair do país, mas não o fez por se sentir profundamente ligado à pátria, longe da qual seria um "cadáver a respirar". A sua poesia reflecte as apreensões, esperanças e angústias do seu tempo. Nos volumes do seu Diário, em prosa e em verso, encontramos crítica social, apontamentos de paisagem, esboço de contos, apreciações culturais e também magníficos textos da mais alta poesia. Considerado um dos maiores poetas contemporâneos, Miguel Torga editou os seus próprios livros, a suas expensas, durante muitos anos.

ARIANE

Ariane é um navio.    
Tem mastros, velas e bandeira à proa,          
E chegou num dia branco, frio,        
A este rio Tejo de Lisboa.     

Carregado de Sonho, fundeou         
Dentro da claridade destas grades...
Cisne de todos, que se foi, voltou    
Só para os olhos de quem tem saudades...   

Foram duas fragatas ver quem era    
Um tal milagre assim: era um navio  
Que se balança ali à minha espera     
Entre as gaivotas que se dão no rio. 

Mas eu é que não pude ainda por meus passos        
Sair desta prisão em corpo inteiro,    
E levantar âncora, e cair nos braços  
De Ariane, o veleiro.
 

sábado, 20 de março de 2010

Semana "MIGUEL TORGA" (VI )


Miguel Torga nasceu em 12 de Agosto de 1907 em S. Martinho da Anta, concelho de Sabrosa, Trás-os-Montes e faleceu em 17 de Agosto de 1995. De seu verdadeiro nome, chamava-se Adolfo Correia da Rocha. Frequentou apenas por um ano, o seminário em Lamego. Em 1920 partiu para o Brasil, onde foi recebido na fazenda de um tio, com quem regressou depois a Portugal e que se prontificou a custear-lhe os estudos em Coimbra. Em apenas três anos fez o curso do liceu. Matriculou-se na Faculdade de Medicina, onde terminou o curso em 1933.
 Como médico, teve uma breve estadia no Porto, ainda exerceu a profissão na terra natal, passou por Miranda do Corvo, mas foi em Coimbra que estabeleceu consultório, no Largo da Portagem desta cidade onde viveu a maior parte da sua vida.
Em 1936 adoptou o pseudónimo de Miguel Torga que o havia de imortalizar. Simbolicamente, “torga” é o nome de uma urze campestre com raízes muito duras infiltradas por entre as rochas, sendo muito amarga e difícil de arrancar.
Escreveu uma obra vasta e marcante, em poesia, prosa e teatro que foi publicada em edição completa pelas Publicações D. Quixote em 2000 e reeditada por “Planeta de Agostini”em 2003.
Com ideias que se demarcavam do salazarismo, foi preso e pensou em sair do país, mas não o fez por se sentir profundamente ligado à pátria, longe da qual seria um "cadáver a respirar". A sua poesia reflecte as apreensões, esperanças e angústias do seu tempo. Nos volumes do seu Diário, em prosa e em verso, encontramos crítica social, apontamentos de paisagem, esboço de contos, apreciações culturais e também magníficos textos da mais alta poesia. Considerado um dos maiores poetas contemporâneos, Miguel Torga editou os seus próprios livros, a suas expensas, durante muitos anos.




Afonso de Albuquerque     

Quando esta escrevo a Vossa Alteza
Estou com um soluço que é sinal de morte. 
Morro à vista de Goa, a fortaleza     
Que deixo à índia a defender-lhe a sorte.    

Morro de mal com todos que servi,  
Porque eu servi o rei e o povo todo. 
Morro quase sem mancha, que não vi
Alma sem mancha à tona deste lodo.           
De Oeste a Leste a índia fica vossa; 
De Oeste a Leste o vento da traição 
Sopra com força para que não possa 
O rei de Portugal tê-la na mão.         

Em Deus e em mim o império tem raízes     
Que nem um furacão pode arrancar...          
Em Deus e em mim, que temos cicatrizes    
Da mesma lança que nos fez lutar.   

Em mais alguém, Senhor, em mais ninguém
O meu sonho cresceu e avassalou     
A semente daninha que de além       
A tua mão, Senhor, lhe semeou.       

Por isso a índia há de acabar em fumo         
Nesses doiros paços de Lisboa;        
Por isso a pátria há de perder o rumo           
Das muralhas de Goa.           
Por isso o Nilo há de correr no Egipto         
E Meca há de guardar o muçulmano
Corpo dum moiro que gerou meu grito        
De cristão lusitano.    

Por isso melhor é que chegue a hora 
E outra vida comece neste fim...      
Do que fiz não cuido agora:                                                                          
A índia inteira falará por mim.          





sexta-feira, 19 de março de 2010

Semana "MIGUEL TORGA" ( V)

Miguel Torga nasceu em 12 de Agosto de 1907 em S. Martinho da Anta, concelho de Sabrosa, Trás-os-Montes e faleceu em 17 de Agosto de 1995. De seu verdadeiro nome, chamava-se Adolfo Correia da Rocha. Frequentou apenas por um ano, o seminário em Lamego. Em 1920 partiu para o Brasil, onde foi recebido na fazenda de um tio, com quem regressou depois a Portugal e que se prontificou a custear-lhe os estudos em Coimbra. Em apenas três anos fez o curso do liceu. Matriculou-se na Faculdade de Medicina, onde terminou o curso em 1933.
Como médico, teve uma breve estadia no Porto, ainda exerceu a profissão na terra natal, passou por Miranda do Corvo, mas foi em Coimbra que estabeleceu consultório, no Largo da Portagem desta cidade onde viveu a maior parte da sua vida.
Em 1936 adoptou o pseudónimo de Miguel Torga que o havia de imortalizar. Simbolicamente, “torga” é o nome de uma urze campestre com raízes muito duras infiltradas por entre as rochas, sendo muito amarga e difícil de arrancar.
Escreveu uma obra vasta e marcante, em poesia, prosa e teatro que foi publicada em edição completa pelas Publicações D. Quixote em 2000 e reeditada por “Planeta de Agostini”em 2003.
Com ideias que se demarcavam do salazarismo, foi preso e pensou em sair do país, mas não o fez por se sentir profundamente ligado à pátria, longe da qual seria um "cadáver a respirar". A sua poesia reflecte as apreensões, esperanças e angústias do seu tempo. Nos volumes do seu Diário, em prosa e em verso, encontramos crítica social, apontamentos de paisagem, esboço de contos, apreciações culturais e também magníficos textos da mais alta poesia. Considerado um dos maiores poetas contemporâneos, Miguel Torga editou os seus próprios livros, a suas expensas, durante muitos anos.




A largada      

Foram então as ânsias e os pinhais    
Transformados em frágeis caravelas 
Que partiam guiadas por sinais         
Duma agulha inquieta como elas...   

Foram então abraços repetidos         
À Pátria-Mãe-Viúva que ficava        
Na areia fria aos gritos e aos gemidos          
Pela morte dos filhos que beijava.    

Foram então as velas enfunadas       
Por um sopro viril de reacção
Às palavras cansadas 
Que se ouviam no cais dessa ilusão. 

Foram então as horas no convés       
Do grande sonho que mandava ser   
Cada homem tão firme nos seus pés 
Que a nau tremesse sem ninguém tremer.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Semana "MIGUEL TORGA" ( IV )


Miguel Torga nasceu em 12 de Agosto de 1907 em S. Martinho da Anta, concelho de Sabrosa, Trás-os-Montes e faleceu em 17 de Agosto de 1995. De seu verdadeiro nome, chamava-se Adolfo Correia da Rocha. Frequentou apenas por um ano, o seminário em Lamego. Em 1920 partiu para o Brasil, onde foi recebido na fazenda de um tio, com quem regressou depois a Portugal e que se prontificou a custear-lhe os estudos em Coimbra. Em apenas três anos fez o curso do liceu. Matriculou-se na Faculdade de Medicina, onde terminou o curso em 1933.
 Como médico, teve uma breve estadia no Porto, ainda exerceu a profissão na terra natal, passou por Miranda do Corvo, mas foi em Coimbra que estabeleceu consultório, no Largo da Portagem desta cidade onde viveu a maior parte da sua vida.
Em 1936 adoptou o pseudónimo de Miguel Torga que o havia de imortalizar. Simbolicamente, “torga” é o nome de uma urze campestre com raízes muito duras infiltradas por entre as rochas, sendo muito amarga e difícil de arrancar.
Escreveu uma obra vasta e marcante, em poesia, prosa e teatro que foi publicada em edição completa pelas Publicações D. Quixote em 2000 e reeditada por “Planeta de Agostini”em 2003.
Com ideias que se demarcavam do salazarismo, foi preso e pensou em sair do país, mas não o fez por se sentir profundamente ligado à pátria, longe da qual seria um "cadáver a respirar". A sua poesia reflecte as apreensões, esperanças e angústias do seu tempo. Nos volumes do seu Diário, em prosa e em verso, encontramos crítica social, apontamentos de paisagem, esboço de contos, apreciações culturais e também magníficos textos da mais alta poesia. Considerado um dos maiores poetas contemporâneos, Miguel Torga editou os seus próprios livros, a suas expensas, durante muitos anos.

A Terra

Também eu quero abrir-te e semear
Um grão de poesia no teu seio!
Anda tudo a lavrar,
Tudo a enterrar centeio,
E são horas de eu pôr a germinar
A semente dos versos que granjeio.
 …………………………………….

Terra, minha mulher!
Um amor é o aceno,  
Outro a quentura que se quer
Dentro dum corpo nu, moreno!        

A charrua das leivas não concebe     
Uma bolota que não dê carvalhos;    
A minha, planta orvalhos...   
Água que a manhã bebe        
No pudor dos atalhos.           

Terra, minha canção! 
Ode de pólo a pólo erguida  
Pela beleza que não sabe a pão         
Mas ao gosto da vida!           


quarta-feira, 17 de março de 2010

Semana "MIGUEL TORGA" ( III )



 
Miguel Torga nasceu em 12 de Agosto de 1907 em S. Martinho da Anta, concelho de Sabrosa, Trás-os-Montes e faleceu em 17 de Agosto de 1995. De seu verdadeiro nome, chamava-se Adolfo Correia da Rocha. Frequentou apenas por um ano, o seminário em Lamego. Em 1920 partiu para o Brasil, onde foi recebido na fazenda de um tio, com quem regressou depois a Portugal e que se prontificou a custear-lhe os estudos em Coimbra. Em apenas três anos fez o curso do liceu. Matriculou-se na Faculdade de Medicina, onde terminou o curso em 1933.
 Como médico, teve uma breve estadia no Porto, ainda exerceu a profissão na terra natal, passou por Miranda do Corvo, mas foi em Coimbra que estabeleceu consultório, no Largo da Portagem desta cidade onde viveu a maior parte da sua vida.
Em 1936 adoptou o pseudónimo de Miguel Torga que o havia de imortalizar. Simbolicamente, “torga” é o nome de uma urze campestre com raízes muito duras infiltradas por entre as rochas, sendo muito amarga e difícil de arrancar.
Escreveu uma obra vasta e marcante, em poesia, prosa e teatro que foi publicada em edição completa pelas Publicações D. Quixote em 2000 e reeditada por “Planeta de Agostini”em 2003.
Com ideias que se demarcavam do salazarismo, foi preso e pensou em sair do país, mas não o fez por se sentir profundamente ligado à pátria, longe da qual seria um "cadáver a respirar". A sua poesia reflecte as apreensões, esperanças e angústias do seu tempo. Nos volumes do seu Diário, em prosa e em verso, encontramos crítica social, apontamentos de paisagem, esboço de contos, apreciações culturais e também magníficos textos da mais alta poesia. Considerado um dos maiores poetas contemporâneos, Miguel Torga editou os seus próprios livros, a suas expensas, durante muitos anos.




Sei um ninho

Sei um ninho.
E o ninho tem um ovo.
E o ovo, redondinho,
Tem lá dentro um passarinho
Novo.

Mas escusam de me atentar:
Nem o tiro, nem o ensino.
Quero ser um bom menino
E guardar
Este segredo comigo.
E ter depois um amigo
Que faça o pino
A voar...

terça-feira, 16 de março de 2010

Semana "MIGUEL TORGA" ( II )


Miguel Torga nasceu em 12 de Agosto de 1907 em S. Martinho da Anta, concelho de Sabrosa, Trás-os-Montes e faleceu em 17 de Agosto de 1995. De seu verdadeiro nome, chamava-se Adolfo Correia da Rocha. Frequentou apenas por um ano, o seminário em Lamego. Em 1920 partiu para o Brasil, onde foi recebido na fazenda de um tio, com quem regressou depois a Portugal e que se prontificou a custear-lhe os estudos em Coimbra. Em apenas três anos fez o curso do liceu. Matriculou-se na Faculdade de Medicina, onde terminou o curso em 1933.
 Como médico, teve uma breve estadia no Porto, ainda exerceu a profissão na terra natal, passou por Miranda do Corvo, mas foi em Coimbra que estabeleceu consultório, no Largo da Portagem desta cidade onde viveu a maior parte da sua vida.
Em 1936 adoptou o pseudónimo de Miguel Torga que o havia de imortalizar. Simbolicamente, “torga” é o nome de uma urze campestre com raízes muito duras infiltradas por entre as rochas, sendo muito amarga e difícil de arrancar.
Escreveu uma obra vasta e marcante, em poesia, prosa e teatro que foi publicada em edição completa pelas Publicações D. Quixote em 2000 e reeditada por “Planeta de Agostini”em 2003.
Com ideias que se demarcavam do salazarismo, foi preso e pensou em sair do país, mas não o fez por se sentir profundamente ligado à pátria, longe da qual seria um "cadáver a respirar". A sua poesia reflecte as apreensões, esperanças e angústias do seu tempo. Nos volumes do seu Diário, em prosa e em verso, encontramos crítica social, apontamentos de paisagem, esboço de contos, apreciações culturais e também magníficos textos da mais alta poesia. Considerado um dos maiores poetas contemporâneos, Miguel Torga editou os seus próprios livros, a suas expensas, durante muitos anos.


Súplica

Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas           
Que te fiz.      
Deixa-me ser feliz     
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.       

Perde-se a vida a desejá-la tanto.     
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor 
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria... 
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.





segunda-feira, 15 de março de 2010

Semana "MIGUEL TORGA" ( I )

Miguel Torga nasceu em 12 de Agosto de 1907 em S. Martinho da Anta, concelho de Sabrosa, Trás-os-Montes e faleceu em 17 de Agosto de 1995. De seu verdadeiro nome, chamava-se Adolfo Correia da Rocha. Frequentou apenas por um ano, o seminário em Lamego. Em 1920 partiu para o Brasil, onde foi recebido na fazenda de um tio, com quem regressou depois a Portugal e que se prontificou a custear-lhe os estudos em Coimbra. Em apenas três anos fez o curso do liceu. Matriculou-se na Faculdade de Medicina, onde terminou o curso em 1933.
Como médico, teve uma breve estadia no Porto, ainda exerceu a profissão na terra natal, passou por Miranda do Corvo, mas foi em Coimbra que estabeleceu consultório, no Largo da Portagem desta cidade onde viveu a maior parte da sua vida.
Em 1936 adoptou o pseudónimo de Miguel Torga que o havia de imortalizar. Simbolicamente, “torga” é o nome de uma urze campestre com raízes muito duras infiltradas por entre as rochas, sendo muito amarga e difícil de arrancar.
Escreveu uma obra vasta e marcante, em poesia, prosa e teatro que foi publicada em edição completa pelas Publicações D. Quixote em 2000 e reeditada por “Planeta de Agostini”em 2003.
Com ideias que se demarcavam do salazarismo, foi preso e pensou em sair do país, mas não o fez por se sentir profundamente ligado à pátria, longe da qual seria um "cadáver a respirar". A sua poesia reflecte as apreensões, esperanças e angústias do seu tempo. Nos volumes do seu Diário, em prosa e em verso, encontramos crítica social, apontamentos de paisagem, esboço de contos, apreciações culturais e também magníficos textos da mais alta poesia. Considerado um dos maiores poetas contemporâneos, Miguel Torga editou os seus próprios livros, a suas expensas, durante muitos anos.


Vila Nova, 3 de Dezembro de 1935
- Morreu Fernando Pessoa.
Mal acabei de ler a notícia no jornal, fechei a porta do consultório e meti-me pelos montes a cabo.
Fui chorar com os pinheiros e com as fragas a morte do nosso maior poeta de hoje (…)
(Excerto do "Diário")

domingo, 14 de março de 2010

Semana "JOSÉ RÉGIO" ( VII )


José Régio, (1901 – 1969), pseudónimo de José Maria dos Reis Pereira, natural de Vila do Conde. Como escritor, José Régio dedicou-se ao romance, ao teatro, à poesia e ao ensaio.
Centrais, na sua obra, são as problemáticas do conflito entre Deus e o Homem, o indivíduo e a sociedade, numa análise crítica das relações humanas e da solidão. Estreou-se, em 1926, com o volume de poesia Poemas de Deus e do Diabo, a que se seguiram Biografia (1929, poesia), Jogo da Cabra-Cega (1934, primeiro romance), As Encruzilhadas de Deus (1936, livro de poesia e tido como a sua obra-prima).
Com Branquinho da Fonseca e João Gaspar Simões fundou, em 1927, a revista Presença que marcou o segundo modernismo português e de que Régio foi o principal impulsionador e ideólogo. Para além da sua colaboração assídua nesta revista, deixou também textos dispersos por publicações como a Seara Nova, Ler, O Comércio do Porto e o Diário de Notícias. No mesmo ano iniciou a sua vida profissional como professor de liceu, primeiro no Porto (apenas alguns meses) e, a partir de 1928, em Portalegre, onde permaneceu mais de trinta anos. Só em 1967 regressou a Vila do Conde, onde morreu dois anos mais tarde.
Participou activamente na vida pública, fazendo parte da comissão concelhia de Vila do Conde do Movimento de Unidade Democrática (MUD), apoiando o general Nórton de Matos na sua candidatura à Presidência da República e, mais tarde, a candidatura do general Humberto Delgado. Integrou ainda a Comissão Eleitoral de Unidade Democrática (CEUD), nas eleições de 1969.




Soneto de amor


Não me peças palavras, nem baladas,
Nem expressões, nem alma...Abre-me o seio,
Deixa cair as pálpebras pesadas,
E entre os seios me apertes sem receio.

Na tua boca sob a minha, ao meio,
Nossas línguas se busquem, desvairadas...
E que os meus flancos nus vibrem no enleio
Das tuas pernas ágeis e delgadas.

E em duas bocas uma língua..., - unidos,
Nós trocaremos beijos e gemidos,
Sentindo o nosso sangue misturar-se.

Depois... - abre os teus olhos, minha amada!
Enterra-os bem nos meus; não digas nada...
Deixa a Vida exprimir-se sem disfarce!

sábado, 13 de março de 2010

Semana "JOSÉ RÉGIO" ( VI )

José Régio, (1901 – 1969), pseudónimo de José Maria dos Reis Pereira, natural de Vila do Conde. Como escritor, José Régio dedicou-se ao romance, ao teatro, à poesia e ao ensaio.
Centrais, na sua obra, são as problemáticas do conflito entre Deus e o Homem, o indivíduo e a sociedade, numa análise crítica das relações humanas e da solidão. Estreou-se, em 1926, com o volume de poesia Poemas de Deus e do Diabo, a que se seguiram Biografia (1929, poesia), Jogo da Cabra-Cega (1934, primeiro romance), As Encruzilhadas de Deus (1936, livro de poesia e tido como a sua obra-prima).
Com Branquinho da Fonseca e João Gaspar Simões fundou, em 1927, a revista Presença que marcou o segundo modernismo português e de que Régio foi o principal impulsionador e ideólogo. Para além da sua colaboração assídua nesta revista, deixou também textos dispersos por publicações como a Seara Nova, Ler, O Comércio do Porto e o Diário de Notícias. No mesmo ano iniciou a sua vida profissional como professor de liceu, primeiro no Porto (apenas alguns meses) e, a partir de 1928, em Portalegre, onde permaneceu mais de trinta anos. Só em 1967 regressou a Vila do Conde, onde morreu dois anos mais tarde.
Participou activamente na vida pública, fazendo parte da comissão concelhia de Vila do Conde do Movimento de Unidade Democrática (MUD), apoiando o general Nórton de Matos na sua candidatura à Presidência da República e, mais tarde, a candidatura do general Humberto Delgado. Integrou ainda a Comissão Eleitoral de Unidade Democrática (CEUD), nas eleições de 1969.



Narciso
Dentro de mim me quis eu ver. Tremia,
Dobrado em dois sobre o meu próprio poço...
Ah, que terrível face e que arcabouço
Este meu corpo lânguido escondia!

Ó boca tumular, cerrada e fria,
Cujo silêncio esfíngico bem ouço!
Ó lindos olhos sôfregos, de moço,
Numa fronte a suar melancolia!

Assim me desejei nestas imagens.
Meus poemas requintados e selvagens,
O meu Desejo os sulca de vermelho:

Que eu vivo à espera dessa noite estranha,
Noite de amor em que me goze e tenha,
...Lá no fundo do poço em que me espelho!

José Régio, in 'Biografia'

sexta-feira, 12 de março de 2010

Semana "JOSÉ RÉGIO" ( V )

José Régio, (1901 – 1969), pseudónimo de José Maria dos Reis Pereira, natural de Vila do Conde. Como escritor, José Régio dedicou-se ao romance, ao teatro, à poesia e ao ensaio.
Centrais, na sua obra, são as problemáticas do conflito entre Deus e o Homem, o indivíduo e a sociedade, numa análise crítica das relações humanas e da solidão. Estreou-se, em 1926, com o volume de poesia Poemas de Deus e do Diabo, a que se seguiram Biografia (1929, poesia), Jogo da Cabra-Cega (1934, primeiro romance), As Encruzilhadas de Deus (1936, livro de poesia e tido como a sua obra-prima).
Com Branquinho da Fonseca e João Gaspar Simões fundou, em 1927, a revista Presença que marcou o segundo modernismo português e de que Régio foi o principal impulsionador e ideólogo. Para além da sua colaboração assídua nesta revista, deixou também textos dispersos por publicações como a Seara Nova, Ler, O Comércio do Porto e o Diário de Notícias. No mesmo ano iniciou a sua vida profissional como professor de liceu, primeiro no Porto (apenas alguns meses) e, a partir de 1928, em Portalegre, onde permaneceu mais de trinta anos. Só em 1967 regressou a Vila do Conde, onde morreu dois anos mais tarde.
Participou activamente na vida pública, fazendo parte da comissão concelhia de Vila do Conde do Movimento de Unidade Democrática (MUD), apoiando o general Nórton de Matos na sua candidatura à Presidência da República e, mais tarde, a candidatura do general Humberto Delgado. Integrou ainda a Comissão Eleitoral de Unidade Democrática (CEUD), nas eleições de 1969.


Testamento do Poeta
Todo esse vosso esforço é vão, amigos:
Não sou dos que se aceita... a não ser mortos.
Demais, já desisti de quaisquer portos;
Não peço a vossa esmola de mendigos.

O mesmo vos direi, sonhos antigos
De amor! olhos nos meus outrora absortos!
Corpos já hoje inchados, velhos, tortos,
Que fostes o melhor dos meus pascigos!

E o mesmo digo a tudo e a todos, - hoje
Que tudo e todos vejo reduzidos,
E ao meu próprio Deus nego, e o ar me foge.

Para reaver, porém, todo o Universo,
E amar! e crer! e achar meus mil sentidos!....
Basta-me o gesto de contar um verso.

José Régio, in 'Poemas de Deus e do Diabo'
 


quinta-feira, 11 de março de 2010

Semana "JOSÉ RÉGIO" ( IV )


José Régio, (1901 – 1969), pseudónimo de José Maria dos Reis Pereira, natural de Vila do Conde. Como escritor, José Régio dedicou-se ao romance, ao teatro, à poesia e ao ensaio.
Centrais, na sua obra, são as problemáticas do conflito entre Deus e o Homem, o indivíduo e a sociedade, numa análise crítica das relações humanas e da solidão. Estreou-se, em 1926, com o volume de poesia Poemas de Deus e do Diabo, a que se seguiram Biografia (1929, poesia), Jogo da Cabra-Cega (1934, primeiro romance), As Encruzilhadas de Deus (1936, livro de poesia e tido como a sua obra-prima).
Com Branquinho da Fonseca e João Gaspar Simões fundou, em 1927, a revista Presença que marcou o segundo modernismo português e de que Régio foi o principal impulsionador e ideólogo. Para além da sua colaboração assídua nesta revista, deixou também textos dispersos por publicações como a Seara Nova, Ler, O Comércio do Porto e o Diário de Notícias. No mesmo ano iniciou a sua vida profissional como professor de liceu, primeiro no Porto (apenas alguns meses) e, a partir de 1928, em Portalegre, onde permaneceu mais de trinta anos. Só em 1967 regressou a Vila do Conde, onde morreu dois anos mais tarde.
Participou activamente na vida pública, fazendo parte da comissão concelhia de Vila do Conde do Movimento de Unidade Democrática (MUD), apoiando o general Nórton de Matos na sua candidatura à Presidência da República e, mais tarde, a candidatura do general Humberto Delgado. Integrou ainda a Comissão Eleitoral de Unidade Democrática (CEUD), nas eleições de 1969.


Quando eu nasci

Quando eu nasci,
ficou tudo como estava,
Nem homens cortaram veias,
nem o Sol escureceu,
nem houve Estrelas a mais...
Somente,
esquecida das dores,
a minha Mãe sorriu e agradeceu.
Quando eu nasci,
não houve nada de novo
senão eu.
As nuvens não se espantaram,
não enlouqueceu ninguém...
P'ra que o dia fosse enorme,
bastava
toda a ternura que olhava
nos olhos de minha Mãe...