quinta-feira, 18 de março de 2010

Semana "MIGUEL TORGA" ( IV )


Miguel Torga nasceu em 12 de Agosto de 1907 em S. Martinho da Anta, concelho de Sabrosa, Trás-os-Montes e faleceu em 17 de Agosto de 1995. De seu verdadeiro nome, chamava-se Adolfo Correia da Rocha. Frequentou apenas por um ano, o seminário em Lamego. Em 1920 partiu para o Brasil, onde foi recebido na fazenda de um tio, com quem regressou depois a Portugal e que se prontificou a custear-lhe os estudos em Coimbra. Em apenas três anos fez o curso do liceu. Matriculou-se na Faculdade de Medicina, onde terminou o curso em 1933.
 Como médico, teve uma breve estadia no Porto, ainda exerceu a profissão na terra natal, passou por Miranda do Corvo, mas foi em Coimbra que estabeleceu consultório, no Largo da Portagem desta cidade onde viveu a maior parte da sua vida.
Em 1936 adoptou o pseudónimo de Miguel Torga que o havia de imortalizar. Simbolicamente, “torga” é o nome de uma urze campestre com raízes muito duras infiltradas por entre as rochas, sendo muito amarga e difícil de arrancar.
Escreveu uma obra vasta e marcante, em poesia, prosa e teatro que foi publicada em edição completa pelas Publicações D. Quixote em 2000 e reeditada por “Planeta de Agostini”em 2003.
Com ideias que se demarcavam do salazarismo, foi preso e pensou em sair do país, mas não o fez por se sentir profundamente ligado à pátria, longe da qual seria um "cadáver a respirar". A sua poesia reflecte as apreensões, esperanças e angústias do seu tempo. Nos volumes do seu Diário, em prosa e em verso, encontramos crítica social, apontamentos de paisagem, esboço de contos, apreciações culturais e também magníficos textos da mais alta poesia. Considerado um dos maiores poetas contemporâneos, Miguel Torga editou os seus próprios livros, a suas expensas, durante muitos anos.

A Terra

Também eu quero abrir-te e semear
Um grão de poesia no teu seio!
Anda tudo a lavrar,
Tudo a enterrar centeio,
E são horas de eu pôr a germinar
A semente dos versos que granjeio.
 …………………………………….

Terra, minha mulher!
Um amor é o aceno,  
Outro a quentura que se quer
Dentro dum corpo nu, moreno!        

A charrua das leivas não concebe     
Uma bolota que não dê carvalhos;    
A minha, planta orvalhos...   
Água que a manhã bebe        
No pudor dos atalhos.           

Terra, minha canção! 
Ode de pólo a pólo erguida  
Pela beleza que não sabe a pão         
Mas ao gosto da vida!           


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