quinta-feira, 25 de março de 2010

Semana “SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN” (IV)


A 2 Julho de 2004 silenciava-se a voz da poetisa que marcara nas últimas seis décadas a literatura portuguesa na qual deixou inesquecível marca tal a qualidade da poesia que nos deixou. Poetisa como a si própria se chamava. Outras mulheres querem que se lhes chame poetas. Mas Sophia preferia assumir o que não entendia como inferioridade mas como significativa diferença. Nascera na cidade do Porto em 6 de Novembro de 1919, de família numerosa, aristocrática e de raízes dinamarquesas por parte de seu pai. Veio para Lisboa para frequentar a Faculdade de Letras mas não chegou a concluir o curso de Filologia Clássica. Estreou-se em 1944 com o livro “Poesias”, uma colectânea onde já assomavam os temas que estiveram presentes ao longo da sua obra: o mar, a casa, o amor, a transparência luminosa dos céus do Sul, a exaltação dos comportamentos nobres e a dimensão ética das belas atitudes. Além da poesia deixou-nos também belos escritos em prosa, alguns deles a pensar nos mais novos. Foi premiada com distinções de elevado significado, entre as quais se destacam: Prémio Camões, em 1999; Prémio Max Jacob, em 2001; Prémio de poesia Ibero-americana rainha Sofia, em 2003.

Porque
 
Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão
Porque os outros têm medo mas tu não
 
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
 
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
 
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

 

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