sábado, 13 de novembro de 2010

DESCOBRINDO ... Fernado Pessoa (1888 - 1935)

Hoje de manhã saí muito cedo

Hoje de manhã saí muito cedo,
Por ter acordado ainda mais cedo
E não ter nada que quisesse fazer...

Não sabia que caminho tomar
Mas o vento soprava forte, varria para um lado,
E segui o caminho para onde o vento me soprava nas costas.

Assim tem sido sempre a minha vida, e
Assim quero que possa ser sempre --
Vou onde o vento me leva e não me
Sinto pensar.

                    Alberto Caeiro
 
Pessoa criou uma biografia para Caeiro que se encaixa com perfeição na sua poesia, como podemos observar nos 49 poemas da série O Guardador de Rebanhos. Segundo Pessoa, foram escritos na noite de 8 de Março de 1914, de um só fôlego, sem interrupções. Esse processo criativo espontâneo traduz exactamente a busca fundamental de Alberto Caeiro: Nasceu em em 1889, em Lisboa, e morreu em 1915, mas viveu quase toda a sua vida no campo. Não teve profissão, nem educação quase nenhuma: apenas a instrução primária. Era de estatura média e frágil, mas não o aparentava. Era louro e de olhos azuis. Ficou órfão de pai e mãe muito cedo e deixou-se ficar em casa a viver dos rendimentos. Vivia com uma velha tia-avó. Escrevia mal o português. Foi o pretenso mestre de Álvaro de Campos e de Ricardo Reis.  Era anti-metafísico, menos culto e complicado do que R. Reis, mas mais alegre e franco.
  “Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
   Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é.
   Mas porque a amo, e amo-a por isso,
   Porque quem ama nunca sabe o que ama
   Nem por que ama, nem o que é amar...”

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