Choveu! E logo da terra humosa
Irrompe o campo das liliáceas.
Foi bem fecunda, a estação pluviosa!
Que vigor no campo das liliáceas!
Calquem. Recalquem, não o afogam.
Deixem. Não calquem. Que tudo invadam.
Não as extinguem. Porque as degradam?
Para que as calcam? Não as afogam.
Olhem o fogo que anda na serra.
É a queimada... Que lumaréu!
Podem calcá-lo, deitar-lhe terra,
Que não apagam o lumaréu.
Deixem! Não calquem! Deixem arder.
Se aqui o pisam, rebenta além.
_ E se arde tudo? _ Isso que tem?
Deitam-lhe fogo, é para arder...
Camilo Pessanha, in 'Clepsidra'
Camilo Pessanha nasceu na cidade de Coimbra onde se formou em Direito. Foi para Macau onde exerceu a função de professor de Filosofia. Acometido de tuberculose, viciado em ópio, faleceu em Macau.
Foi, sem sombra de dúvidas, o maior e mais autêntico poeta simbolista português. Fortemente influenciado pela poesia do poeta francês Verlaine, a sua poesia influenciou vários poetas modernistas como, por exemplo, Fernando Pessoa. A sua poesia caracteriza-se pela musicalidade marcante e pela intensidade dramática. Os temas centrais dos seus poemas foram a ilusão, a dor, o pessimismo, o exílio e a desilusão em relação à Pátria distante, que estão muito presentes em "Clepsidra" considerada a sua obra mais importante.
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