Mário de Andrade. Este grande poeta brasileiro e um dos maiores da lusofonia, nasceu em 9 de Outubro de 1893 em São Paulo, Brasil e viveu toda a sua vida nesta cidade onde morreu em, 25 de Fevereiro de 1945 foi poeta, romancista, crítico de arte, musicólogo do movimento modernista do Brasil e produziu um grande impacto na renovação literária e artística do seu país.
Dele se escolheu este belo texto, muito poético mas pleno de um profundo sentido da existência, revelando uma inteligente, sábia e crítica atitude perante a vida. Para maior apreensão do seu sentido, aportuguesaram-se algumas expressões e palavras.
“Contei os meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do que já vivi até agora.
Tenho muito mais passado do que futuro.
Sinto-me como aquele menino que ganhou uma bacia de jabuticabas.
As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, passou a roer o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inchados.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando os seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas que, apesar da idade cronológica, são imaturos.
Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário-geral do coral.
'As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos'.
O meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência.
A minha alma tem pressa...
Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana,
muito humana; que sabe rir dos seus tropeços, não se encanta com triunfos,
não se considera eleita antes da hora, não foge da sua mortalidade,
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade,
O essencial faz a vida valer a pena.
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