segunda-feira, 17 de maio de 2010

Semana "MÁRIO CESARINY" ( II )



Mário Cezariny, pintor e poeta português, nasceu em Lisboa em 9 de Agosto de1923 e morreu na sua cidade natal em 26 de Novembro de 2006. A sua formação artística inclui o curso da Escola de Artes Decorativas António Arroio e estudos na área de música, com Fernando Lopes Graça.
Afastou-se muito cedo do movimento neo-realista dominante em Portugal. Viveu algum tempo em Paris, onde conheceu André Breton, em 1947. Atraído pelas propostas do movimento surrealista francês, ainda nesse ano, integrou o Grupo Surrealista de Lisboa tornando-se um dos mais importantes defensores do movimento em Portugal.
Cesariny, de personalidade inquieta e questionadora, adoptou uma atitude estética de constante experimentação. A atitude anárquica que adoptou marcou a sua obra e a sua vida.
A sua produção poética, por vezes pontuada de um corrosivo humor, foi também fortemente marcada pela assumida desconstrução que levou a cabo com as suas experiências na pintura. O sentido de contestação dos comportamentos considerados apropriados, a assumpção de atitudes consideradas inaceitáveis e marginais, a confrontação das regras instituídas ou considerados normais, animam intrinsecamente a sua poesia. Recorrendo a enumerações caóticas, utilizando situações sem sentido ou de humor negro, parodiando hábitos e regras de sociabilidade formal, brincando com trocadilhos e jogos verbais, portanto, recorrendo a processos tipicamente surrealistas, cria uma linguagem onde coloca em confronto o quotidiano modo de viver e o insólito de casos ou atitudes aparentemente descabidos.


Faz-se luz pelo processo
de eliminação de sombras
Ora as sombras existem
as sombras têm exaustiva vida própria
não dum e doutro lado da luz mas do próprio seio dela
intensamente amantes   loucamente amadas
e espalham pelo chão braços de luz cinzenta
que se introduzem pelo bico nos olhos do homem

Por outro lado a sombra dita a luz
não ilumina   realmente   os objectos
os objectos vivem às escuras
numa perpétua aurora surrealista
com a qual não podemos contactar
senão como amantes
de olhos fechados
e lâmpadas nos dedos   e na boca


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