Simples como é
a claridade é a coisa
mais difícil de encontrar
talvez porque a distância que nos
separa longa muito longa
e nítida
seja a torre de chumbo do nosso
próprio isolamento
talvez porque sentir
o aparecimento da madrugada
seja a origem do desespero
sombra trópico lâmina
entre nós dois
ouve o que te digo
não esqueças os meus lábios
mesmo quando desfeitos
e a claridade
essa não a procures não nunca
deixa-a ir comigo
até ao esgotamento do meu sangue
até ao limite
do meu corpo em carne viva
In O Surrealismo na Poesia Portuguesa,
organização, prefácio e notas de Natália Correia
2ª edição, frenesi, 2002
MÁRIO-HENRIQUE LEIRIA, autor surrealista português,
nasceu em Lisboa, 2 de Janeiro de 1923
e morreu em Cascais, 9 de Janeiro de 1980.
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