sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Carta a Ângela



Para ti, meu amor, é cada sonho
de todas as palavras que escrever,
cada imagem de luz e de futuro,
cada dia dos dias que viver.

Os abismos das coisas, quem os nega,
se em nós abertos inda em nós persistem?
Quantas vezes os versos que te dou
na água dos teus olhos é que existem!

Quantas vezes chorando te alcancei
e em lágrimas de sombra nos perdemos!
As mesmas que contigo regressei
ao ritmo da vida que escolhemos!

Mais humana da terra dos caminhos
e mais certa, dos erros cometidos,
foste de novo, e sempre, a mão da esperança
nos meus versos errantes e perdidos.

Transpondo os versos vieste à minha vida
e um rio abriu-se onde era areia e dor.
Porque chegaste à hora prometida
aqui te deixo tudo, meu amor!

(In  Poesias)


 
Carlos de Oliveira – Nasceu no Brasil, em Belém do Pará, em 10 de Agosto de 1921. Filho de imigrantes portugueses, veio aos dois anos para Portugal. Fixou-se em Cantanhede, mais precisamente na vila de Febres, onde o pai exercia Medicina. Ingressou na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra em 1941. Terminou a licenciatura em Ciências Histórico-Filosófias em 1947. Durante esse período o seu primeiro livro de poemas Turismo, em 1942, em 1943 publicou o seu primeiro romance, Casa na Duna, em 1944, o romance Alcateia, em 1945 publica um novo livro de poesias, Mãe Pobre. Instalou-se definitivamente em Lisboa, no ano seguinte à licenciatura. Em 1953 publica Uma Abelha na Chuva, o seu quarto romance, unanimemente reconhecido como uma das mais importantes obras da literatura portuguesa, que Fernão Lopes transpôs para o filme homónimo terminado em 1971. Em 1968 publica dois novos livros de poesia, Sobre o Lado Esquerdo e Micropaisagem. Publicou em 1971 O Aprendiz de Feiticeiro, colectânea de crónicas e artigos, e Entre Duas Memórias, livro de poemas, pelo qual lhe é atribuído no ano seguinte o Prémio de Imprensa. Em 1976 reúniu toda a sua poesia em Trabalho Poético. Publica em 1978 o seu último romance Finisterra, obra que lhe proporciona a atribuição do Prémio Cidade de Lisboa, no ano seguinte.
Morreu na sua casa em Lisboa a 1 de Julho de 1981, com 60 anos incompletos.

Sem comentários: