I Rosa que só tens nexo Fora da tua imagem: Aqui és só reflexo Do universo unido No instante florido Que ofereces aos que te olham, Sem te ver, de passagem. II Girassol que na retina Da planície se dissolve. És a cor mais repentina Da aragem que te envolve. Girassol que só te viras Ao que não te fica perto E só giras porque giras Sobre o teu eixo secreto. . Girassol que sem volume Volume que sem contorno No despegar-se resume Só a pressa do retorno. III É um outono que não é outono. Tampouco a estação por que se espera Na dor de nos deixarern ao abandono As ninfas que são flores na primavera. . No entanto nas coisas o segredo De uma só alma põe a sabedoria Dando à terra repouso no arvoredo De que o cedro é a sagrada biografia. IV Há noites que são feitas dos rneus braços E um silêncio comum às violetas. E há sete luas que são sete traços De sete noites que nunca forarn feitas. Há noites que levarnos à cintura Como um cinto de grandes borboletas. E um risco a sangue na nossa carne escura Duma espada à bainha dum cometa. Há noites que nos deixam para trás Enrolados no nosso desencanto E cisnes brancos que só são iguais A mais longínqua onda do seu canto. Há noites que nos levam para onde O fantasma de nos fica mais perto; E é sempre a nossa voz que nos responde E só o nosso nome estava certo. Há noites que são lírios e são feras E a nossa exactidão de rosa vil Reconcilia no frio das esferas Os astros que se olham de perfil. V Há um cipreste que se dissimula No dia que nos leva pela mão. E entre brasas de sol que ardem na rua Uma pomba que faz de coração. . Voa: uma linha recta para a lua Em sonhos que nos levam de balão. Perversidade de uma paz futura Onde só chegaremos de caixão? E nada nos recorda esse futuro Escondido atrás das nuvens que trouxeram Ao nosso rosto os olhos prematuros Das órbitas reais que nos esperam. Natália Correia Poesia Completa Publicações Dom Quixote 1999
sábado, 23 de fevereiro de 2013
A recusa das imagens evidentes
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