A mágoa é um vício, a ele volto pelas madeiras desta casa, as memórias são mais que os sinais pendurados ao longo das paredes, não descrevo o que vejo. O que sinto quase está no silêncio, deixa de ser tempo o tempo da noite, nos papéis há desenhos que o matam, pontos ganhos, contas de somar, fáceis artimanhas evitando as palavras. Nada difere de como ponho a mão na testa, de como se afasta o sol para trás dos castanheiros. Tento dizer que sou como vós, leves amantes de suaves lazeres, contradigo, desminto, nada acontece. Para o dia de hoje um pequeno esboço de tristeza, derrota de cumprir, tarefa de vencer, antes da noite os ombros, as rugas, terão significado preciso. Só o recomeço será tempo de sorrisos. (Gestos de miradoiro) Helder Moura Pereira (1949) Antologia da Poesia Portuguesa Contemporânea Um Panorama Organização de Alberto da Costa e Silva Alexei Bueno Lacerda Editores 1999
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013
A mágoa é um vício
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