terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

À minha mãe (reivindicação de uma formosura)

Escuta nas noites como se rasga a seda
e ao chão cai sem ruido a chávena de chá
como uma magia
tu que só palavras doces tens para os mortos
e um ramo de flores levas na mão
para esperar a Morte
que cai do seu corcel, ferida
por um cavaleiro que a agarra com os seus lábios brilhantes
e pelas noites chora pensando que o amavas,
e diz sai ao jardim e contempla como caem as estrelas
e falemos em sussurro para que ninguém nos escute
vem, escuta-me falemos dos nossos objectos
tenho uma rosa tatuada na face e um bastão com
punho em forma de pato
e dizem que chove por nós e que a neve é nossa
e agora que o poema morre
digo-te como uma criança, vem
construí um diadema
(sai ao jardim e verás como a noite nos envolve)



Leopoldo María Panero
Poemas do manicómio de Mondragón
Alma Azul

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