Passou o Outono já, já torna o frio...
- Outono de seu riso magoado.
Álgido Inverno! Oblíquo o sol, gelado...
- O sol, e as águas límpidas do rio.
Águas claras do rio! Águas do rio,
Fugindo sob o meu olhar cansado,
Para onde me levais meu vão cuidado?
Aonde vais, meu coração vazio?
Ficai, cabelos dela, flutuando,
E, debaixo das águas fugidias,
Os seus olhos abertos e cismando...
Onde ides a correr, melancolias?
- E, refractadas, longamente ondeando,
As suas mãos translúcidas e frias...
Camilo Pessanha _ Nasceu em Lisboa em 1826. Concluiu o curso de Direito na Universidade de Coimbra em 1891. Em 1894 radicou-se em Macau, onde faleceu em 1926. Aí ensinou Filosofia no liceu local. Poeta do mais genuíno simbolismo português, a sua poesia revela um intimismo extremo e uma profunda melancolia. Recorreu ao inebriamento do ópio, refugiando-se na ligação afectiva da sua companheira chinesa. Os seus poemas são de uma grande perfeição formal. Escrevia para si próprio, nunca cuidando de divulgar a obra que foi construindo e que só foi organizada e publicada em 1969 em dois volumes organizados pela escritora Ana de Castro Osório, em dois volumes: "Clepsidra" e "Outros Poemas".
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