quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Poema das coisas belas

 António Gedeão é o pseudónimo de Rómulo de Carvalho, que exerceu a actividade de docente de Físico-Químicas no ensino liceal .
Revelou-se como poeta apenas em 1956, com  "Movimento Perpétuo", a que se seguiram outras obras  como "Teatro do Mundo" (1958), "Máquina de Fogo" (1961), "Poema para Galileu" (1964), "Linhas de Força" (1967), "Poemas Póstumos" (1983), "Novos Poemas Póstumos" (1990). A sua poesia que foi reunida em "Poesias Completas" (1964), teve fontes de inspiração  heterogéneas mas articuladas de modo original. Nelas conseguiu comunicar o sofrimento e a solidão humana, muitas vezes com recorrendo a um registo algo  irónico. Alguns dos seus textos poéticos foram amplamente divulgados através de músicas de intervenção, como no caso, muito conhecido, do poema "Pedra Filosofal".
  Na data em que celebrou o seu nonagésimo aniversário, António Gedeão foi alvo de uma homenagem nacional, tendo sido condecorado com a Grã-Cruz da Ordem de Sant'iago de Espada. 


As coisas belas,
as coisas que deixam cicatrizes na memória dos homens,
porque motivo serão belas?
E belas, para quê?
As coisas belas,
as que deixam cicatrizes na memória dos homens,
por que motivo são belas?
E belas, para quê?

Põe-se o Sol porque o seu movimento é relativo.
Derrama as cores porque os meus olhos vêem.
Mas por que será belo o pôr do Sol?
E belo, para quê?

Se acaso as coisas não são belas em si mesmas,
mas só são coisas quando coisas percebidas,
porque direi das coisas que são belas?
E belas, para quê?

ANTÓNIO GEDEÃO

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