sábado, 16 de outubro de 2010

AS PALAVRAS

São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal, 
um incêndio.
Outras, 
orvalho apenas.


Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos e beijos, 
as águas estremecem.


Desamparadas, inocentes, 
leves.
Tecidas são de luz 
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.


Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim, 
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

Eugénio de Andrade, pseudónimo escolhido pelo poeta que, nasceu em Póvoa da Atalaia, concelho de Fundão, em 19 de Janeiro de 1923. Viveu na cidade do Porto a maior parte da sua vida, desempenhado as funções de funcionário dos Serviços Médico-Sociais. A cidade concedeu-lhe o título de cidadão honorário e nela foi criada uma Fundação com o seu nome. Aí morreu em 13 de Junho de 2005. É, sem sombra de dúvida, um dos maiores poetas contemporâneos da língua portuguesa. 

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