Eugénio de Andrade, pseudónimo escolhido pelo poeta que, nasceu em Póvoa da Atalaia, concelho de Fundão, em 19 de Janeiro de 1923. Viveu na cidade do Porto a maior parte da sua vida, desempenhado as funções de funcionário dos Serviços Médico-Sociais. A cidade concedeu-lhe o título de cidadão honorário e nela foi criada uma Fundação com o seu nome. Aí morreu em 13 de Junho de 2005. É, sem sombra de dúvida, um dos maiores poetas contemporâneos da língua portuguesa. Numa linguagem de grande sobriedade, mas extraordinariamente elaborada, atinge uma grande plenitude poética exprimindo sensualidade, dor, afectos e factos do viver quotidiano, com um depurado sentido do ritmo, e numa inteligente utilização de imagens e símbolos que traduzem uma emoção lúcida perante a realidade.
OS AMANTES SEM DINHEIRO
Tinham o rosto aberto a quem passava.
Tinham lendas e mitos
e frio no coração.
Tinham jardins onde a lua passeava
de mãos dadas com a água
e um anjo de pedra por irmão.
Tinham como toda a gente
o milagre de cada dia
escorrendo pelos telhados;
e olhos de oiro
onde ardiam
os sonhos mais tresmalhados.
Tinham fome e sede como os bichos,
e silêncio
à roda dos seus passos.
Mas a cada gesto que faziam
um pássaro nascia dos seus dedos
e deslumbrado penetrava nos espaços.
Eugénio de Andrade
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