domingo, 15 de dezembro de 2013

PIANO



Suavemente, na penumbra, uma mulher canta para mim;
Fazendo-me voltar e descer o panorama dos anos, até que vejo
uma criança sentada debaixo do piano, na explosão do prurido das
            cordas
E pressionando os pequenos, suspensos pés de uma mãe que sorri
            enquanto ela canta.

Apesar de mim, a insidiosa mestria da canção
Atraiçoa-me fazendo-me voltar, até que o meu coração chora para
            pertencer
Ao antigo entardecer dos domingos em casa, com o inverno lá fora
E hinos na aconchegada sala de visitas, o tinido do piano o nosso guia.

Por isso agora é em vão que a cantora irrompe em clamor
Com o appassionato do grandioso piano negro. A magia
Dos dias infantis está em mim, a minha masculinidade
É desencorajada no fluxo da lembrança, choro como uma criança
           pelo passado.



D.H. LAWRENCE
Reino Unido 
(1885-1930)
Tradução de Cecília Rego Pinheiro
Rosa do Mundo
2001 Poemas para o Futuro
Assírio & Alvim

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