Nos dias imaculados Em que ninguém bate à porta, Naqueles dias lavados Em que sou anjo e sou morta, Em que da luz dos desertos Partem chamadas e gritos, E à flor dos olhos abertos Se adormecem infinitos... Tudo a escorrer frio e ordem, Horas certas e contadas, Sem que os soluços me acordem Mesmo a dar-me chicotadas. E me rasguem pele e calma, E me atirem para o fundo - O fundo da minha alma, O fundo do Fim do Mundo. E de rojo, como dantes, Me larguem pelos caminhos. E me esmaguem os Gigantes E me intimidem os ninhos. E ao curso ingénuo dos rios Me entreguem como uma folha, Bem ressequida... e bem morta! P'ra que ninguém me recolha. Mudas viagens eu faça Nas águas que ninguém olha. Natércia Freire Rio Infindável 1947 Antologia Poética Assírio & Alvim |
quinta-feira, 19 de dezembro de 2013
NOS DIAS IMACULADOS
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