segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Morreu António Ramos Rosa



Tinha 88 anos, e uma vasta obra na poesia, ensaio e tradução. António Ramos Rosa, algarvio, morreu esta tarde em Lisboa.

Os anjos que conheço são de erva e de silêncio

Os anjos que conheço são de erva e de silêncio
nalgum jardim de tarde. Mas quais os mais ardentes?
Feitos de mar e sol, elevam-se nas ondas,
entre as mulheres de coxas tão fortes como touros

O meu luto é de mesas e de bandeiras sem paz
É estar sem corpo à espera, inconsolada boca,
o fogo ateia o peito, a cabeça perde a fronte,
o vazio rodopia, é o celeste inferno.

Desço ainda um degrau com o anjo infernal,
um turbilhão de ervas, um redemoinho de sangue
Quem me vale agora se perdi o meu cavalo?




António Ramos Rosa
Ciclo do Cavalo - 1975
in Antologia Poética
Selecção de Ana Paula Coutinho Mendes

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