quinta-feira, 1 de abril de 2010

Semana "ANTÓNIO RAMOS ROSA" ( IV)


Poeta e ensaísta português, natural de Faro. Nasceu em 17 de Outubro de 1924. Quando a Segunda Guerra Mundial terminou, Ramos Rosa rumou a Lisboa. Na capital, trabalhou no comércio, actividade que logo abandonou para se dedicar à poesia. Também tradutor e ensaísta, escreveu dezenas de volumes de poesia. Recebeu numerosos prémios nacionais e estrangeiros, entre os quais o Prémio Pessoa, em 1988. É geralmente tido como um dos grandes poetas portugueses contemporâneos. Ramos Rosa, foi considerado o poeta do presente absoluto, da «liberdade livre”. É comparado com os grandes escritores nacionais. Urbano Tavares Rodrigues considerou-o como o empolgante poeta das coisas primordiais, da luz, da pedra e da água.

No silêncio da terra
No silêncio da terra. Onde ser é estar.
A sombra se inclina.
Habito dentro da grande pedra de água e sol.
Respiro sem o saber, respiro a terra.
Um intervalo de suavidade ardente e longa.
Sem adormecer no sono verde.
Afundo-me, sereno,
flor ou folha sobre folha abrindo-se,
respirando-me, flectindo-me
no intervalo aberto. Não sei se principio.
Um rosto se desfaz, um sabor ao fundo
da água ou da terra,
o fogo único consumindo em ar.
Eis o lugar em que o centro se abre
ou a lisa permanência clara,
abandono igual ao puro ombro
em que nada se diz
e no silêncio se une a boca ao espaço.
Pedra harmoniosa
do abrigo simples,
lúcido, unido, silencioso umbigo
do ar.

o teu corpo
renasce
à flor da terra.
Tudo principia.


(de A Pedra Nua, 1972)

Sem comentários: