quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

D. Dinis

Na noite escreve um seu Cantar de Amigo
O plantador das naus a haver,
E ouve um silêncio murmuro consigo:
É o rumor dos pinhais que, como um trigo
De Império, ondulam sem se poder ver.

Arroio esse cantar, jovem e puro,
Busca o oceano por achar;
e a fala dos pinhais, marulho obscuro,
É o som presente d'esse mar futuro,
É a voz da terra ansiando pelo mar.


Fernando Pessoa (1888-1935). Príncipe dos poetas portugueses. Irmão de Camões pela genialidade do seu canto. Figura primeira do modernismo literário, autor de uma multifacetada paleta de personalidades que se expressaram através dos heterónimos que inventou para dar a plenitude de uma inspiração que não cabia numa só forma de ser poeta.
Neste belo poema expressa de forma sibilina, a dimensão de um rei que, vendo para além do seu próprio tempo, realizou, no presente da sua acção de governante, o futuro que sonhou para o seu povo. Repare-se na definição total e lapidar do rei neste verso de significado antecipador :
O plantador das naus a haver, para ligar o acto de plantar pinhais que irão ser a naus que, um século depois, partirão pelo mar para dar novos mundos ao mundo.

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