terça-feira, 15 de outubro de 2013

VERSOS D'AMAR ( III )

Tão Conformes na Ventura  

Quantas vezes do fuso se esquecia
Daliana, banhando o lindo seio,
Outras tantas de um áspero receio
Salteado Laurénio a cor perdia.

Ela, que a Sílvio mais que a si queria,
Para podê-lo ver não tinha meio.
Ora como curara o mal alheio
Quem o seu mal tão mal curar podia?

Ele, que viu tão clara esta verdade,
Com soluços dizia (que a espessura
Inclinavam, de mágoa, a piedade):

Como pode a desordem da natura
Fazer tão diferentes na vontade
Aos que fez tão conformes na ventura?

Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"

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