Olho os amigos como quem se despede, uma vez por dia. Olho-os para que não os esqueça, para que se guardem as suas imagens dentro das pálpebras. Hoje chove porque me esqueço aos poucos de onde vieram. Termino o dia pensando neles, nos amigos. E as suas palavras realçam-me as marcas que tenho pelo corpo, erguem-se pelas mãos as suas vozes quando todos os outros se calam falam como amigos. O corpo é uma febre conjunta - como que se estendesse pela memória o desenho de um país que se guarda na algibeira ao partir - e continuo a partir daqui, onde os barcos viajam, onde as gaivotas chilream enquanto o sal se estende pelas minhas narinas. O vento alarga-me a roupa que se moldou ao sabor dos dias. Penso no hoje e ele raia-se pelo rio, surgem palavras de apreço pelas luzes pelas ruas e os amigos soltam-se de nós Como uma prisão de espuma. São um momento em que a fome se torna grande demais para os olhos, onde tudo o que jaz à nossa volta é efémero perduram como pequenas árvores em torno de nós. Devolvo-lhes um tempo de cada vez. Restítuo ao que foram o peso das letras e dos campos - respirámos, em espaços, o mesmo ar. É quando se nos cresce um soluço pela garganta que vemos - a chuva nada mais é que um som - aí lembramos aos amigos o que somos e porque os olho com o volume da despedida nas mãos. Sérgio Xarepe
domingo, 25 de agosto de 2013
LEMBRAMOS AOS AMIGOS.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário