aqui por fora arde e está seco: é o reino do pó e do sol, enquanto c no interior do corpo se ouve o correr do sangue, o contínuo deslizar dos fluidos. cá dentro faz sombra: é como em casa quando se chega, e os refrescos florescem - nos centros das mesas, como as jarras garridas nos quadros de matisse, com as persianas entreabertas para a rua. mas aqui fora as pedras são rugosas, - enquanto por dentro a eternidade prossegue sem asperezas. os homens suam com orgulho de manipularem o mundo; enquanto por dentro o corpo é feminino, sente-se a si próprio na sua intimidade receptiva. é nesse jogo de contrastes e complementaridades que se tece o nosso dia-a-dia. mas a beleza das pedras está precisamente em serem presenças mudas. e a felicidade desta areia, o facto dela ser tão intocada, que um simples passo lhe deixa um rasto para a eternidade. indecidibilidade do mundo, suspensão do sentido resistindo às pressas do corpo e das perguntas insistentes. Vítor Oliveira Jorge A Suspensão do Mundo
sábado, 6 de abril de 2013
A suspensão do mundo
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