quando do cavalo de tróia saiu outro
cavalo de tróia e deste um outro
e destoutro um quarto cavalinho de
tróia tu pensaste que da barriguinha
do último já nada podia sair
e que tudo aquilo era como uma parábola
que algum brejeiro estivesse a contar-te
pois foi quando pegaste nessa espécie
de gato de tróia que do cavalo maior
saiu armada até aos dentes de formidável amor
a guerreira a que já trazia dentro em si
os quatro cavalões do vosso apocalipse
Alexandre O'Neill (1924-1986)
Poesias Completas
quarta-feira, 30 de janeiro de 2013
segunda-feira, 28 de janeiro de 2013
Souvenir
Como é doce e triste por vezes ouvir Algum som antigo trazido à memória, E ver, como em sonhos, algum rosto querido, Trecho de paisagem, campo, rio ou vale, Lembrança tão breve, triste e agradável, Algo que recorde o tempo bom da infância. Então em dor feliz as lágrimas brotam, Esse choro subtil que na mente aguarda, E tudo o já sentido - campo, rio e voz - Toma outro alcance, na memória adornado, E lento emerge em fantasiosa luz. Mas, ai, eis que acordo p'los sonhos traído! O que sinto e ouço apenas ilusão, Porque o passado não pode regressar. Estes campos não são os que eu conheci, Os sons não são os que ouvi; tudo passou E tudo o que é passado, ai, não volta mais. Alexander Search Poesia edição e tradução Luísa Freire Assírio & Alvim Obras de Fernando Pessoa 1999
sábado, 26 de janeiro de 2013
Como As Espigas
Finalmente (embora
saibas que não há
nem fim nem princípio):
deves dizer ainda
que há uma rosa de espuma
no teu peito e que
o seu perfume
não se esgota. E que lá
também existe
uma fonte onde bebem
as flores silvestres. Mas não
humildes, como ias
chamar-Ihes: altas
como as espigas
do vento, que no vento
se esquecem e que no vento
amadurecem.
Albano Martins
in Escrito a Vermelho
saibas que não há
nem fim nem princípio):
deves dizer ainda
que há uma rosa de espuma
no teu peito e que
o seu perfume
não se esgota. E que lá
também existe
uma fonte onde bebem
as flores silvestres. Mas não
humildes, como ias
chamar-Ihes: altas
como as espigas
do vento, que no vento
se esquecem e que no vento
amadurecem.
Albano Martins
in Escrito a Vermelho
quinta-feira, 24 de janeiro de 2013
A Invisibilidade de Deus
dizem que em
sua boca se realiza a flor
outros afirmam:
a sua invisibilidade é aparente
mas nunca toquei deus nesta escama de peixe
onde podemos compreender todos os oceanos
nunca tive a visão de sua bondosa mão
o certo
é que por vezes morremos magros até ao osso
sem amparo e sem deus
apenas um rosto muito belo surge etéreo
na vasta insónia que nos isolou do mundo
e sorri
dizendo que nos amou algumas vezes
mas não é o rosto de deus
nem o teu nem aquele outro
que durante anos permaneceu ausente
e o tempo revelou não ser o meu
Al-Berto
O Medo
outros afirmam:
a sua invisibilidade é aparente
mas nunca toquei deus nesta escama de peixe
onde podemos compreender todos os oceanos
nunca tive a visão de sua bondosa mão
o certo
é que por vezes morremos magros até ao osso
sem amparo e sem deus
apenas um rosto muito belo surge etéreo
na vasta insónia que nos isolou do mundo
e sorri
dizendo que nos amou algumas vezes
mas não é o rosto de deus
nem o teu nem aquele outro
que durante anos permaneceu ausente
e o tempo revelou não ser o meu
Al-Berto
O Medo
terça-feira, 22 de janeiro de 2013
Apalpa um violino
Apalpa um violino com teus dentes. Corrige a corriqueira soma dos acordes. Medicamenta o mundo.Ó bruxo semanal com teus abutres, teu mocho dado à gula dos mistérios, quem paga esta consulta? quem sobe, arfando, os degraus da febre? Teu beijo muge a tua boca sangra o teu pescoço azul desponta no meu peito.A esta hora exacta os deuses parem em lugares recônditos. Seus ovos lentos crescem no coração dos tontos.Refreias toda a fala sustenida e os campos taciturnos nem se movem. Ó mago indolente entre os meus dedos.Cabrito pouco astuto em devaneios. Os animais famintos Com seu crespo ondular Percorrem-te os inventos, E nós, Os instrumentos. A rede musicada Das tuas mãos de merda. Armando Silva Carvalho "Os Ovos de Ouro"
domingo, 20 de janeiro de 2013
PROGRAMA
Não queremos poesia de género algum,
Queremos truques mágicos de saco,
Procuramos tapar na existência um fatal buraco.
E apesar de esforço insano não tapamos nenhum.
Mas que sabeis vós outros do secreto aspirar,
Dos soluços de divina histeria que em gargantas choram,
Quando, plenamente absorvidos pelo haxixe da alma elementar,
Beijamos o primeiro degrau, para além de cujo limiar
Eoneamente os deuses moram?
Wilhelm Klemm
A Alma e o Caos
100 poemas expressionistas
selecção e tradução de
João Barrento
Queremos truques mágicos de saco,
Procuramos tapar na existência um fatal buraco.
E apesar de esforço insano não tapamos nenhum.
Mas que sabeis vós outros do secreto aspirar,
Dos soluços de divina histeria que em gargantas choram,
Quando, plenamente absorvidos pelo haxixe da alma elementar,
Beijamos o primeiro degrau, para além de cujo limiar
Eoneamente os deuses moram?
Wilhelm Klemm
A Alma e o Caos
100 poemas expressionistas
selecção e tradução de
João Barrento
Subscrever:
Mensagens (Atom)