A silabar que o poema é estulto
o amado abre os dentes e eu deslizo;
sismos, orgasmos tremem-lhe no olhar
enquanto eu, quase a rimar, exulto.
Conheço toda a terra só de amar:
sem nós e sem desvãos, um corpo liso.
Tenho o mênstruo escondido num reduto
onde teoricamente chega o mar.
Nos desertos-íntimos, insuspeitos-
já caem com a calma as avestruzes
-ou a distância, com os oásis, finda;
à medida que nos arcaicos leitos
se vão molhando vozes e alcatruzes
ao descerem ao fundo pego, e à vinda.
Luiza Neto Jorge
O Amor e o Ócio
Luísa Neto Jorge nasceu em Lisboa, em1939. Frequentou a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde foi fundadora do Grupo de Teatro de Letras, mas desistiu do curso e foi viver para Paris, onde permaneceu durante oito anos (1962-70). Viveu do seu trabalho como tradutora e foi uma grande poetisa portuguesa. É considerada a personalidade de maior destaque do grupo de poetas que se reuniu em torno do movimento Poesia 61. Morreu em Lisboa em 1989, pouco antes de completar 50 anos. Em 1993 foi coligida a obra completa.
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