Para a minha alma eu queria uma torre como esta,
assim alta,
assim de névoa acompanhando o rio.
Estou tão longe da margem que as pessoas passam
e as luzes se refectem na água.
E, contudo, a margem não pertence ao rio
nem o rio está em mim como a torre estaria
se eu a soubesse ter ...
uma luz desce o rio
gente passa e não sabe
que eu quero uma torre tão alta que as aves não passem
as nuvens não passem
tão alta tão alta
que a solidão possa tornar-se humana.
Jorge de Sena
segunda-feira, 31 de março de 2008
quinta-feira, 27 de março de 2008
NOMEIO O MUNDO
Com medo de o perder nomeio o mundo,
Seus quantos e qualidades, seus objectos,
E assim durmo sonoro no profundo
Poço de astros anónimos e quietos.
Nomeei as coisas e fiquei contente:
Prendi a frase ao texto do universo.
Quem escuta ao meu peito ainda lá sente,
Em cada pausa e pulsação um verso.
Vitorino Nemésio
Seus quantos e qualidades, seus objectos,
E assim durmo sonoro no profundo
Poço de astros anónimos e quietos.
Nomeei as coisas e fiquei contente:
Prendi a frase ao texto do universo.
Quem escuta ao meu peito ainda lá sente,
Em cada pausa e pulsação um verso.
Vitorino Nemésio
quarta-feira, 26 de março de 2008
FICÇÕES DO INTERLÚDIO / ODES DE RICARDO REIS
14-2-1933
Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.
2-3-1933
Quero ignorado, e calmo
Por ignorado, e próprio
Por calmo, encher meus dias
De não querer mais deles.
Aos que a riqueza toca
O ouro irrita a pele.
Aos que a fama bafeja
Embacia-se a vida.
Aos que a felicidade
É sol, virá a noite.
Mas ao que nada espera
Tudo o que vem é grato.
Fernando Pessoa
Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.
2-3-1933
Quero ignorado, e calmo
Por ignorado, e próprio
Por calmo, encher meus dias
De não querer mais deles.
Aos que a riqueza toca
O ouro irrita a pele.
Aos que a fama bafeja
Embacia-se a vida.
Aos que a felicidade
É sol, virá a noite.
Mas ao que nada espera
Tudo o que vem é grato.
Fernando Pessoa
terça-feira, 25 de março de 2008
ALENTEJO
Outro é o tempo
outra a medida.
Tão grande a página
tão curta a escrita.
Entre o achigã e a perdiz
entre chaparro e choupo
tanto país
e tão pouco.
Manuel Alegre
outra a medida.
Tão grande a página
tão curta a escrita.
Entre o achigã e a perdiz
entre chaparro e choupo
tanto país
e tão pouco.
Manuel Alegre
segunda-feira, 24 de março de 2008
MOMENTO
Quem, nos meus olhos ardentes,
Na minha testa cansada,
Perpassa os dedos clementes,
Poisa a mão fresca orvalhada...?
Talvez a brisa da tarde,
Que passa e não faz alarde...
Talvez a brisa da tarde!
Sim, só a brisa; e mais nada.
José Régio
Na minha testa cansada,
Perpassa os dedos clementes,
Poisa a mão fresca orvalhada...?
Talvez a brisa da tarde,
Que passa e não faz alarde...
Talvez a brisa da tarde!
Sim, só a brisa; e mais nada.
José Régio
domingo, 23 de março de 2008
PUDESSE EU
“Pudesse eu não ter laços nem limites
Ó vida de mil faces transbordantes
P’ra poder responder aos teus convites
Suspensos na surpresa dos instantes.”
Sophia de Mello Breyner Andresen
Ter a consciência dos limites não é conformar-se na pequenez duma frágil condição.
É a assunção plena da humanidade duma vida que constantemente nos coloca perante novas opções, algumas delas não possíveis ou, pelo menos, não desejáveis.
Porque não somos deuses, devemos escolher. Não escolher é assumir o orgulho louco de pretender alcançar o que só é possível na imaginação ditada pelo sonho.
Devemos aceitar o sonho, mas temos o dever de optar com base na razão.
Ó vida de mil faces transbordantes
P’ra poder responder aos teus convites
Suspensos na surpresa dos instantes.”
Sophia de Mello Breyner Andresen
Ter a consciência dos limites não é conformar-se na pequenez duma frágil condição.
É a assunção plena da humanidade duma vida que constantemente nos coloca perante novas opções, algumas delas não possíveis ou, pelo menos, não desejáveis.
Porque não somos deuses, devemos escolher. Não escolher é assumir o orgulho louco de pretender alcançar o que só é possível na imaginação ditada pelo sonho.
Devemos aceitar o sonho, mas temos o dever de optar com base na razão.
sexta-feira, 21 de março de 2008
HOMEM
“É no silêncio do caminho aberto:
Quanto maior a alma maior o deserto
Maior a sede e a miragem
Do mundo à nossa imagem”
Luís Veiga Leitão
O homem é a única medida certa para definir com precisão a grandeza e o valor da vida.
Só no homem encontramos a ideia da imensidão do universo e a crença na eternidade dos deuses.
Quanto maior a alma maior o deserto
Maior a sede e a miragem
Do mundo à nossa imagem”
Luís Veiga Leitão
O homem é a única medida certa para definir com precisão a grandeza e o valor da vida.
Só no homem encontramos a ideia da imensidão do universo e a crença na eternidade dos deuses.
quarta-feira, 19 de março de 2008
OS DEUSES
"Nasceram, como um fruto, da paisagem.
A brisa dos jardins, a luz do mar,
O branco das espumas e o luar
Extasiados estão na sua imagem."
Sophia de Mello Breyner Andresen
- Não há como duvidar de que os deuses existam.
Mas a dúvida poderá, inevitavelmente, recair sobre se deles teve origem tudo o que existe, ou se foram criados à imagem e semelhança do pensamento dos homens.
A brisa dos jardins, a luz do mar,
O branco das espumas e o luar
Extasiados estão na sua imagem."
Sophia de Mello Breyner Andresen
- Não há como duvidar de que os deuses existam.
Mas a dúvida poderá, inevitavelmente, recair sobre se deles teve origem tudo o que existe, ou se foram criados à imagem e semelhança do pensamento dos homens.
segunda-feira, 10 de março de 2008
ATITUDE
Acaba com a imoralidade de veres apenas defeito na acção dos que não merecem a tua estima.
Torna a tua critica grande, generosa, civilizada e civilizadora.
Censura frontalmente o mal, mas aplaude com igual intensidade o que te parecer bem realizado.
Acusa as faltas, mas não as inventes com intenções caluniadoras.
Não te alegres pelos erros dos teus adversários; pois que é mais nobre concorrer para que eles se emendem, do que procurar motivos para uma constante censura.
A mais nobre das atitudes é sacrificar o amor próprio, as antipatias pessoais e, sobretudo, o desejo embriagador de vingança, aos valores mais elevados da verdade e do dever de ser justo.
Torna a tua critica grande, generosa, civilizada e civilizadora.
Censura frontalmente o mal, mas aplaude com igual intensidade o que te parecer bem realizado.
Acusa as faltas, mas não as inventes com intenções caluniadoras.
Não te alegres pelos erros dos teus adversários; pois que é mais nobre concorrer para que eles se emendem, do que procurar motivos para uma constante censura.
A mais nobre das atitudes é sacrificar o amor próprio, as antipatias pessoais e, sobretudo, o desejo embriagador de vingança, aos valores mais elevados da verdade e do dever de ser justo.
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