segunda-feira, 17 de setembro de 2007

CURAR E CUIDAR

Quando, muito mais jovem, tinha de ir ao médico, pensava que ia reencontrar alguém que me conhecia, que eu conhecia também, portanto, rever alguém a que me ligava algum afecto. PrIncipalmente quando se tratava do meu velho médico, a quem mentalmente chamava o "meu João Semana", desde que, ainda muito novo, começara a ler Júlio Dinis. Conhecia-me desde que nascera, embora não me tivesse aparado como parteiro. Isso era tarefa para a "comadre Zefa" pois, nesse tempo, os médicos só intervinham em caso de complicação. Acompanhou-me pela vida fora. Celebrou os meus sucessos, compadeceu-se com os meus sofrimentos, apoiou-me quando persentiu que eu estava atormentado por problemas. A sua sagacidade e grande experiência, apesar dos fracos recursos curativos de que dispunha, resolveram alguns dos complicados problemas de saúde com que me enfrentei. Contava com ele e nele depositava a confiança de quem estava seguro de estar nas mãos de quem por mim se interessava. Depois, quando tive de partir, conheci ainda outros médicos que, embora não me conhecessem tão bem, conseguiam fazer-me crer que se ineressavam pelos problemas que me atormentavam. As consultas eram essencialmente uma procura de compreender razões, causas, antecedentes. Antes de decidirem da cura para o doente, os médicos começavam por tentar entender a pessoa de quem tinham de cuidar.
Agora, sempre que vou ao médico sinto bastante desconforto e algum constrangimento. Não há conversa. Apenas um sucinto e frio questionário seguido de uma lista de exames de laboratório a efectuar ou da recomendação do médico especialista a consultar. Já tenho tido a sensação de que alguns nem me olharam.
É certo que, com a vasta panóplia de recursos de que dispõem, as mais das vezes acabam por resolver os nossos problemas com as doenças. Mas que mal cuidam de nós como pessoas...

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