Para que ela tivesse um pescoço tão fino
Para
que os seus pulsos tivessem um quebrar de caule
Para que os seus olhos fossem tão frontais e
limpos
Para que a sua espinha fosse tão direita
E ela usasse a cabeça tão erguida
Com uma tão simples claridade sobre a testa
Foram necessárias sucessivas gerações de
escravos
De corpo dobrado e grossas mãos pacientes
Servindo sucessivas gerações de príncipes
Ainda um pouco toscos e grosseiros
Ávidos cruéis e fraudulentos
Foi um imenso desperdiçar de gente
Para que ela fosse aquela perfeição
Solitária exilada sem destino
Sophia de Mello
Breyner Andresen
Sem comentários:
Enviar um comentário