domingo, 10 de março de 2013

Vem, vento, varre


A José Rodrigues Miguéis


Vem vento, varre 
sonhos e mortos.  
Vem vento, varre 
medos e culpas.  
Quer seja dia, 
quer faça treva, 
varre sem pena, 
leva adiante 
paz e sossego, 
leva contigo 
nocturnas preces, 
presságios fúnebres, 
pávidos rostos 
só cobardia.

Que fique apenas
erecto e duro 
o tronco estreme 
de raiz funda.  

Leva a doçura, 
se for preciso: 
ao canto fundo 
basta o que basta.

Vem vento, varre!

Adolfo Casais Monteiro

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