ARRE, que
tanto é muito pouco! Arre, que tanta besta é muito pouca gente! Arre, que o Portugal que se vê é só isto! Deixem ver o Portugal que não deixam ver! Deixem que se veja, que esse é que é Portugal! Ponto. Agora começa o Manifesto: Arre! Arre! Oiçam bem: ARRRRRE! Álvaro de Campos (1890-?) Poesias |
sábado, 10 de novembro de 2012
ARRE, QUE TANTO É MUITO POUCO!
quarta-feira, 7 de novembro de 2012
A CHAVE INGLESA
A chave inglesa |
Era um corpo inteiramente português. Transido de ternura o óleo das suas mãos protegia-me o coração. Não sei que mecanismo despertava em si quando chorava, fazia crescer a relva, meus dentes indecisos como crias corriam e devoravam. Escreveu-me duas cartas em cima de um tractor e nelas descrevia em frases simples o modo tortuoso que me fez traidor. Armando Silva Carvalho As Escadas não têm Degraus Livros Cotovia |
domingo, 4 de novembro de 2012
A MENINA PÓ DE ARROZ
A menina pó de arroz, Nascida à beira do mar Com o oceano nos olhos E com sorrisos de lua Nos seus lábios pequeninos Que nunca ninguém beijou, A menina pó de arroz, Com seus cabelos de cobre Onde o vento vem brincar, Assoma à sua janela P'ra ver a noite estrelada, Para ouvir os sons da noite, Para beber o luar. Para ter em suas mãos Macias, longas e brancas, A noite tépida e branda, A velha noite calada. A menina pó de arroz, Que por uma abreviatura Do seu nome arrevesado É chamada entre família Por um nome miudinho De marca de pó de arroz, Com seu corpinho de fada Que saiu de alguma fonte Que há pouco perdeu o encanto, Com a cabeça nas mãos, Enquanto na casa dormem, Veio pôr-se na janela Para que a noite a beijasse. A menina pó de atroz Estará enamorada? António Rebordão Navarro As Três Meninas e Outros Poemas Poemas (1952 - 1982) Imprensa Nacional Casa da Moeda |
quinta-feira, 1 de novembro de 2012
A DELICADA MAJESTADE
Um dia poderás chegar, tu que nunca chegas porque não és um tu ou porque chegas sempre em não chegares. Subi um dia por uma escada silenciosa e em torno era um pomar branco, tranquila maravilha e eu senti, eu vi, adivinhei a divindade amada, a soberana e delicada majestade. Que suavidade de oriente, que suave esplendor! Era o fulgor de um sono límpido, entre olhos verdes, entre mãos verdes. E num repouso de oiro adormecido era quase um rosto Antiquíssimo e inicial. Contemplava a quietude de um imenso nenúfar e a fragância era quase visível como um mar entreaberto. Era um rio detido ou uma tersa nuca ou um braço estendido que descansa entre ribeiros primaveris ou era antes a serena felicidade e era uma boca da terra que não cantava que não dizia o silêncio ardente que no peito de espuma cintilava. António Ramos Rosa ACORDES, QUETZAL EDITORES 1990 |
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