quinta-feira, 21 de abril de 2011

Dualismo


Não és bom, nem és mau: és triste e humano...
Vives ansiando, em maldições e preces,
Como se, a arder, no coração tivesses
tumulto e o clamor de um largo oceano.

Pobre, no bem como no mal, padeces;
E, rolando num vértice vesano*,
Oscilas entre a crença e o desengano,
Entre esperanças e desinteresses.

Capaz de horrores e de ações sublimes,
Não ficas das virtudes satisfeito,
Nem te arrependes, infeliz, dos crimes;

E no perpétuo ideal que te devora,
Residem juntamente no teu peito
Um demónio que ruge e um deus que chora.

(Nota: * Vesano - insensato, delirante)

Olavo Bilac

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