Eu extasiado com os lunares espectáculos que tenho visto do meu terraço e aparece-me este texto que parece já ter dito o que eu gostaria de dizer.
"Os antigos diriam que o luar é branco, ou é de prata. Mas a brancura falsa do luar é de muitas cores. Se me erguesse da cama, e visse por detrás dos vidros frios, sei bem que, no alto ar isolado, o luar é de branco-cinzento-azulado de amarelo esbatido; que, sobre os telhados vários, em desequilíbrios de negrume de uns para outros, ora doura de branco-preto os prédios submissos, ora alaga de uma cor sem cor o encarnado-castanho das telhas altas. No fundo da rua, abismo plácido, onde as pedras nunca se arredondam irregularmente, não tem cor salvo um azul que vem talvez do cinzento das pedras. Ao fundo do horizonte será quase de azul-escuro, diferente do azul-negro do céu ao fundo. Nas janelas onde bate, é de amarelo-negro"
Bernardo Soares ( Fernando Pessoa),In Livro do Desassossego
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