segunda-feira, 31 de maio de 2010

Semana "PABLO NERUDA" ( II)

Pablo Neruda nasceu em 14 de Julho de 1904, tendo sido registado como Ricardo Eliécer Neftalí Reyes Basoalto. Era filho de um operário ferroviário, e de uma professora primária que morreu quando o filho tinha apenas um mês de vida. Ainda adolescente adoptou o pseudónimo de Pablo Neruda devido à sua admiração pelo escritor checo Jan Neruda. O pseudónimo tornou-se seu nome legal, após modificação do nome civil. Publicou os seus primeiros versos com apenas treze anos. Em 1921 radicou-se em Santiago do Chile, onde estudou pedagogia. Publicou então os seus primeiros livro se poesia e obteve os primeiros prémios como poeta. Em 1927 começou sua longa carreira como diplomata que o levou a muitas partes do mundo. Estava em Espanha quando, em 1936, rebentou a Guerra Civil. Neruda escreveu “Espanha no coração” e foi destituído do cargo consular que ocupava. Em 1945 foi eleito senador e foi distinguido com o Prémio Nacional de Literatura. Em 1950 publicou “Canto Geral”, em que sua poesia adoptou a acentuação social, ética e política que tanto a caracterizou. Em 1994 no filme “O Carteiro de Pablo Neruda” foi contada a sua história na Isla Negra, no Chile, com sua terceira mulher Matilde. Nesta obra de ficção, a acção foi transposta para a Itália, onde Neruda se teria exilado. Lá, numa ilha, torna-se amigo de um carteiro que lhe pedia que o ensinasse a escrever versos, para poder conquistar uma bonita moça do povoado.
Nos anos setenta foi apresentado como candidato à Presidência da República. Desistiu para que Allende pudesse vencer, pois ambos acreditavam que, com o socialismo, pudesse existir uma situação mais próspera e mais justa no Chile.

Ângela Adónica

Hoje deitei-me junto a uma jovem pura
como se na margem de um oceano branco,
como se no centro de uma ardente estrela
de lento espaço.
Do seu olhar largamente verde
a luz caía como uma água seca,
em transparentes e profundos círculos
de fresca força.
Seu peito como um fogo de duas chamas
ardia em duas regiões levantado,
e num duplo rio chegava a seus pés,
grandes e claros.
Um clima de ouro madrugava apenas
as diurnas longitudes do seu corpo
enchendo-o de frutas estendidas
e oculto fogo..


domingo, 30 de maio de 2010

Semana "PABLO NERUDA ( I )


 Pablo Neruda nasceu em 14 de Julho de 1904, tendo sido registado como Ricardo Eliécer Neftalí Reyes Basoalto. Era filho de um operário ferroviário, e de uma professora primária que morreu quando o filho tinha apenas um mês de vida. Ainda adolescente adoptou o pseudónimo de Pablo Neruda devido à sua admiração pelo escritor checo Jan Neruda. O pseudónimo tornou-se seu nome legal, após modificação do nome civil. Publicou os seus primeiros versos com apenas treze anos. Em 1921 radicou-se em Santiago do Chile, onde estudou pedagogia. Publicou então os seus primeiros livro se poesia e obteve os primeiros prémios como poeta. Em 1927 começou sua longa carreira como diplomata que o levou a muitas partes do mundo. Estava em Espanha quando, em 1936, rebentou a Guerra Civil. Neruda escreveu “Espanha no coração” e foi destituído do cargo consular que ocupava. Em 1945 foi eleito senador e foi distinguido com o Prémio Nacional de Literatura. Em 1950 publicou “Canto Geral”, em que sua poesia adoptou a acentuação social, ética e política que tanto a caracterizou. Em 1994 no filme “O Carteiro de Pablo Neruda”  foi contada a sua história na Isla Negra, no Chile, com sua terceira mulher Matilde. Nesta obra de ficção, a acção foi transposta para a Itália, onde Neruda se teria exilado. Lá, numa ilha, torna-se amigo de um carteiro que lhe pedia que o ensinasse a escrever versos, para poder conquistar uma bonita moça do povoado.
Nos anos setenta foi apresentado como candidato à Presidência da República. Desistiu para que Allende pudesse vencer, pois ambos acreditavam que, com o socialismo, pudesse existir uma situação mais próspera e mais justa no Chile.


A Noite na Ilha
Dormi contigo a noite inteira junto do mar, na ilha.
Selvagem e doce eras entre o prazer e o sono,
entre o fogo e a água.
Talvez bem tarde nossos
sonos se uniram na altura e no fundo,
em cima como ramos que um mesmo vento move,
em baixo como raízes vermelhas que se tocam.
Talvez teu sono se separou do meu e pelo mar escuro
me procurava como antes, quando nem existias,
quando sem te enxergar naveguei a teu lado
e teus olhos buscavam o que agora - pão,
vinho, amor e cólera - te dou, cheias as mãos,
porque tu és a taça que só esperava
os dons da minha vida.
Dormi junto contigo a noite inteira,
enquanto a escura terra gira com vivos e com mortos,
de repente desperto e no meio da sombra meu braço
rodeava tua cintura.
Nem a noite nem o sonho puderam separar-nos.
Dormi contigo, amor, despertei, e tua boca
saída de teu sono me deu o sabor da terra,
de água marinha, de algas, de tua íntima vida,
e recebi teu beijo molhado pela aurora
como se me chegasse do mar que nos rodeia.






sábado, 29 de maio de 2010

Semana "MANUEL BANDEIRA" (VII)

Manuel Bandeira nasceu no Recife no dia 19 de Abril de 1886, Em 1890 a família se transfere para o Rio de Janeiro e a seguir para Santos - SP e, novamente, para o Rio de Janeiro. Passando dois verões em Petrópolis. Em 1892 a família volta para Pernambuco e, mais uma vez se muda do Recife para o Rio de Janeiro, em 1896. Em 1903 a família se muda para São Paulo onde se matricula na Escola Politécnica. No final do ano de 1904, o autor fica sabendo que está tuberculoso, abandona suas actividades e volta para o Rio de Janeiro. Em busca de melhores climas para sua saúde, passa temporadas em diversas cidades. Escreve seus primeiros versos livres, em 1912. A fim de se tratar no Sanatório de Clavadel, na Suíça, embarca em Junho de 1913 para a Europa. Em virtude da eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 1914, volta ao Brasil em Outubro. Inicia então, em 1922, a se corresponder com Mário de Andrade.  Em 1924 publica, às suas expensas, Poesias, que reúne A Cinza das Horas, Carnaval e um novo livro, O Ritmo Dissoluto. Colabora no "Mês Modernista", série de trabalhos de modernistas publicado pelo jornal A Noite, em 1925. Escreve crítica musical para a revista A Idéia Ilustrada. Escreve também sobre música para Ariel, de São Paulo. No dia 13 de Outubro de 1968, às 12 horas e 50 minutos, morre o poeta Manuel Bandeira, no Hospital Samaritano, em Botafogo, sendo sepultado no Mausoléu da Academia Brasileira de Letras, no Cemitério São João Batista.

A morte absoluta

Morrer.
Morrer de corpo e de alma.
Completamente.

Morrer sem deixar o triste despojo da carne,
A exangue máscara de cera,
Cercada de flores,
Que apodrecerão – felizes! – num dia,
Banhada de lágrimas
Nascidas menos da saudade do que do espanto da morte.

Morrer sem deixar porventura uma alma errante...
A caminho do céu?
Mas que céu pode satisfazer teu sonho de céu?

Morrer sem deixar um sulco, um risco, uma sombra,
A lembrança de uma sombra
Em nenhum coração, em nenhum pensamento,
Em nenhuma epiderme.

Morrer tão completamente
Que um dia ao lerem o teu nome num papel
Perguntem: "Quem foi?..."

Morrer mais completamente ainda,
– Sem deixar sequer esse nome.


sexta-feira, 28 de maio de 2010

Semana "MANUEL BANDEIRA" (VI)

Manuel Bandeira nasceu no Recife no dia 19 de Abril de 1886, Em 1890 a família se transfere para o Rio de Janeiro e a seguir para Santos - SP e, novamente, para o Rio de Janeiro. Passando dois verões em Petrópolis. Em 1892 a família volta para Pernambuco e, mais uma vez se muda do Recife para o Rio de Janeiro, em 1896. Em 1903 a família se muda para São Paulo onde se matricula na Escola Politécnica. No final do ano de 1904, o autor fica sabendo que está tuberculoso, abandona suas actividades e volta para o Rio de Janeiro. Em busca de melhores climas para sua saúde, passa temporadas em diversas cidades. Escreve seus primeiros versos livres, em 1912. A fim de se tratar no Sanatório de Clavadel, na Suíça, embarca em Junho de 1913 para a Europa. Em virtude da eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 1914, volta ao Brasil em Outubro. Inicia então, em 1922, a se corresponder com Mário de Andrade.  Em 1924 publica, às suas expensas, Poesias, que reúne A Cinza das Horas, Carnaval e um novo livro, O Ritmo Dissoluto. Colabora no "Mês Modernista", série de trabalhos de modernistas publicado pelo jornal A Noite, em 1925. Escreve crítica musical para a revista A Idéia Ilustrada. Escreve também sobre música para Ariel, de São Paulo. No dia 13 de Outubro de 1968, às 12 horas e 50 minutos, morre o poeta Manuel Bandeira, no Hospital Samaritano, em Botafogo, sendo sepultado no Mausoléu da Academia Brasileira de Letras, no Cemitério São João Batista.

Arte de Amar

Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus — ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.

Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.

Porque os corpos se entendem, mas as almas não.
 

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Semana "MANUEL BANDEIRA" (V)

Manuel Bandeira nasceu no Recife no dia 19 de Abril de 1886, Em 1890 a família se transfere para o Rio de Janeiro e a seguir para Santos - SP e, novamente, para o Rio de Janeiro. Passando dois verões em Petrópolis. Em 1892 a família volta para Pernambuco e, mais uma vez se muda do Recife para o Rio de Janeiro, em 1896. Em 1903 a família se muda para São Paulo onde se matricula na Escola Politécnica. No final do ano de 1904, o autor fica sabendo que está tuberculoso, abandona suas actividades e volta para o Rio de Janeiro. Em busca de melhores climas para sua saúde, passa temporadas em diversas cidades. Escreve seus primeiros versos livres, em 1912. A fim de se tratar no Sanatório de Clavadel, na Suíça, embarca em Junho de 1913 para a Europa. Em virtude da eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 1914, volta ao Brasil em Outubro. Inicia então, em 1922, a se corresponder com Mário de Andrade.  Em 1924 publica, às suas expensas, Poesias, que reúne A Cinza das Horas, Carnaval e um novo livro, O Ritmo Dissoluto. Colabora no "Mês Modernista", série de trabalhos de modernistas publicado pelo jornal A Noite, em 1925. Escreve crítica musical para a revista A Idéia Ilustrada. Escreve também sobre música para Ariel, de São Paulo. No dia 13 de Outubro de 1968, às 12 horas e 50 minutos, morre o poeta Manuel Bandeira, no Hospital Samaritano, em Botafogo, sendo sepultado no Mausoléu da Academia Brasileira de Letras, no Cemitério São João Batista.

Desencanto

Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.

- Eu faço versos como quem morre.
 

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Semana "MANUEL BANDEIRA" (IV)

Manuel Bandeira nasceu no Recife no dia 19 de Abril de 1886, Em 1890 a família se transfere para o Rio de Janeiro e a seguir para Santos - SP e, novamente, para o Rio de Janeiro. Passando dois verões em Petrópolis. Em 1892 a família volta para Pernambuco e, mais uma vez se muda do Recife para o Rio de Janeiro, em 1896. Em 1903 a família se muda para São Paulo onde se matricula na Escola Politécnica. No final do ano de 1904, o autor fica sabendo que está tuberculoso, abandona suas actividades e volta para o Rio de Janeiro. Em busca de melhores climas para sua saúde, passa temporadas em diversas cidades. Escreve seus primeiros versos livres, em 1912. A fim de se tratar no Sanatório de Clavadel, na Suíça, embarca em Junho de 1913 para a Europa. Em virtude da eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 1914, volta ao Brasil em Outubro. Inicia então, em 1922, a se corresponder com Mário de Andrade.  Em 1924 publica, às suas expensas, Poesias, que reúne A Cinza das Horas, Carnaval e um novo livro, O Ritmo Dissoluto. Colabora no "Mês Modernista", série de trabalhos de modernistas publicado pelo jornal A Noite, em 1925. Escreve crítica musical para a revista A Idéia Ilustrada. Escreve também sobre música para Ariel, de São Paulo. No dia 13 de Outubro de 1968, às 12 horas e 50 minutos, morre o poeta Manuel Bandeira, no Hospital Samaritano, em Botafogo, sendo sepultado no Mausoléu da Academia Brasileira de Letras, no Cemitério São João Batista.


Poética

Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. Diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o
cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas

Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de excepção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis

Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora
de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de cossenos secretário
do amante exemplar com cem modelos de cartas
e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc.

Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare

- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
 

terça-feira, 25 de maio de 2010

Semana "MANUEL BANDEIRA" (III)

 Manuel Bandeira nasceu no Recife no dia 19 de Abril de 1886, Em 1890 a família se transfere para o Rio de Janeiro e a seguir para Santos - SP e, novamente, para o Rio de Janeiro. Passando dois verões em Petrópolis. Em 1892 a família volta para Pernambuco e, mais uma vez se muda do Recife para o Rio de Janeiro, em 1896. Em 1903 a família se muda para São Paulo onde se matricula na Escola Politécnica. No final do ano de 1904, o autor fica sabendo que está tuberculoso, abandona suas actividades e volta para o Rio de Janeiro. Em busca de melhores climas para sua saúde, passa temporadas em diversas cidades. Escreve seus primeiros versos livres, em 1912. A fim de se tratar no Sanatório de Clavadel, na Suíça, embarca em Junho de 1913 para a Europa. Em virtude da eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 1914, volta ao Brasil em Outubro. Inicia então, em 1922, a se corresponder com Mário de Andrade.  Em 1924 publica, às suas expensas, Poesias, que reúne A Cinza das Horas, Carnaval e um novo livro, O Ritmo Dissoluto. Colabora no "Mês Modernista", série de trabalhos de modernistas publicado pelo jornal A Noite, em 1925. Escreve crítica musical para a revista A Idéia Ilustrada. Escreve também sobre música para Ariel, de São Paulo. No dia 13 de Outubro de 1968, às 12 horas e 50 minutos, morre o poeta Manuel Bandeira, no Hospital Samaritano, em Botafogo, sendo sepultado no Mausoléu da Academia Brasileira de Letras, no Cemitério São João Batista.

Canção da Parada do Lucas

Parada do Lucas
— O trem não parou.

Ah, se o trem parasse
Minha alma incendida
Pediria à Noite
Dois seios intactos.

Parada do Lucas
— O trem não parou.

Ah, se o trem parasse
Eu iria aos mangues
Dormir na escureza
Das águas defuntas.

Parada do Lucas
— O trem não parou.

Nada aconteceu
Senão a lembrança
Do crime espantoso
Que o tempo engoliu.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Semana "MANUEL BANDEIRA" (II)

Manuel Bandeira nasceu no Recife no dia 19 de Abril de 1886, Em 1890 a família se transfere para o Rio de Janeiro e a seguir para Santos - SP e, novamente, para o Rio de Janeiro. Passando dois verões em Petrópolis. Em 1892 a família volta para Pernambuco e, mais uma vez se muda do Recife para o Rio de Janeiro, em 1896. Em 1903 a família se muda para São Paulo onde se matricula na Escola Politécnica. No final do ano de 1904, o autor fica sabendo que está tuberculoso, abandona suas actividades e volta para o Rio de Janeiro. Em busca de melhores climas para sua saúde, passa temporadas em diversas cidades. Escreve seus primeiros versos livres, em 1912. A fim de se tratar no Sanatório de Clavadel, na Suíça, embarca em Junho de 1913 para a Europa. Em virtude da eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 1914, volta ao Brasil em Outubro. Inicia então, em 1922, a se corresponder com Mário de Andrade.  Em 1924 publica, às suas expensas, Poesias, que reúne A Cinza das Horas, Carnaval e um novo livro, O Ritmo Dissoluto. Colabora no "Mês Modernista", série de trabalhos de modernistas publicado pelo jornal A Noite, em 1925. Escreve crítica musical para a revista A Idéia Ilustrada. Escreve também sobre música para Ariel, de São Paulo. No dia 13 de Outubro de 1968, às 12 horas e 50 minutos, morre o poeta Manuel Bandeira, no Hospital Samaritano, em Botafogo, sendo sepultado no Mausoléu da Academia Brasileira de Letras, no Cemitério São João Batista.

Minha Grande Ternura  
Minha grande ternura
Pelos passarinhos mortos;
Pelas pequeninas aranhas.

Minha grande ternura
Pelas mulheres que foram meninas bonitas
E ficaram mulheres feias;
Pelas mulheres que foram desejáveis
E deixaram de o ser.
Pelas mulheres que me amaram
E que eu não pude amar.

Minha grande ternura
Pelos poemas que
Não consegui realizar.

Minha grande ternura
Pelas amadas que
Envelheceram sem maldade.

Minha grande ternura
Pelas gotas de orvalho que
São o único enfeite de um túmulo.
 

domingo, 23 de maio de 2010

Senana "MANUEL BANDEIRA" (I)


Manuel Bandeira nasceu no Recife no dia 19 de Abril de 1886, Em 1890 a família se transfere para o Rio de Janeiro e a seguir para Santos - SP e, novamente, para o Rio de Janeiro. Passando dois verões em Petrópolis. Em 1892 a família volta para Pernambuco e, mais uma vez se muda do Recife para o Rio de Janeiro, em 1896. Em 1903 a família se muda para São Paulo onde se matricula na Escola Politécnica. No final do ano de 1904, o autor fica sabendo que está tuberculoso, abandona suas actividades e volta para o Rio de Janeiro. Em busca de melhores climas para sua saúde, passa temporadas em diversas cidades. Escreve seus primeiros versos livres, em 1912. A fim de se tratar no Sanatório de Clavadel, na Suíça, embarca em Junho de 1913 para a Europa. Em virtude da eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 1914, volta ao Brasil em Outubro. Inicia então, em 1922, a se corresponder com Mário de Andrade.  Em 1924 publica, às suas expensas, Poesias, que reúne A Cinza das Horas, Carnaval e um novo livro, O Ritmo Dissoluto. Colabora no "Mês Modernista", série de trabalhos de modernistas publicado pelo jornal A Noite, em 1925. Escreve crítica musical para a revista A Idéia Ilustrada. Escreve também sobre música para Ariel, de São Paulo. No dia 13 de Outubro de 1968, às 12 horas e 50 minutos, morre o poeta Manuel Bandeira, no Hospital Samaritano, em Botafogo, sendo sepultado no Mausoléu da Academia Brasileira de Letras, no Cemitério São João Batista.

Vou-me Embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que eu nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-dágua
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada


sábado, 22 de maio de 2010

Semana "MÁRIO CESARINY" (VII)


Mário Cezariny, pintor e poeta português, nasceu em Lisboa em 9 de Agosto de1923 e morreu na sua cidade natal em 26 de Novembro de 2006. A sua formação artística inclui o curso da Escola de Artes Decorativas António Arroio e estudos na área de música, com Fernando Lopes Graça.
Afastou-se muito cedo do movimento neo-realista dominante em Portugal. Viveu algum tempo em Paris, onde conheceu André Breton, em 1947. Atraído pelas propostas do movimento surrealista francês, ainda nesse ano, integrou o Grupo Surrealista de Lisboa tornando-se um dos mais importantes defensores do movimento em Portugal.
Cesariny, de personalidade inquieta e questionadora, adoptou uma atitude estética de constante experimentação. A atitude anárquica que adoptou marcou a sua obra e a sua vida.
A sua produção poética, por vezes pontuada de um corrosivo humor, foi também fortemente marcada pela assumida desconstrução que levou a cabo com as suas experiências na pintura. O sentido de contestação dos comportamentos considerados apropriados, a assumpção de atitudes consideradas inaceitáveis e marginais, a confrontação das regras instituídas ou considerados normais, animam intrinsecamente a sua poesia. Recorrendo a enumerações caóticas, utilizando situações sem sentido ou de humor negro, parodiando hábitos e regras de sociabilidade formal, brincando com trocadilhos e jogos verbais, portanto, recorrendo a processos tipicamente surrealistas, cria uma linguagem onde coloca em confronto o quotidiano modo de viver e o insólito de casos ou atitudes aparentemente descabidos. 


voz numa pedra

Não adoro o passado
não sou três vezes mestre
não combinei nada com as furnas
não é para isso que eu cá ando
decerto vi Osíris porém chamava-se ele nessa altura Luiz
decerto fui com Isis mas disse-lhe eu que me chamava João
nenhuma nenhuma palavra está completa
nem mesmo em alemão que as tem tão grandes
assim também eu nunca te direi o que sei
a não ser pelo arco em flecha negro e azul do vento

Não digo como o outro: sei que não sei nada
sei muito bem que soube sempre umas coisas
que isso pesa
que lanço os turbilhões e vejo o arco íris
acreditando ser ele o agente supremo
do coração do mundo
vaso de liberdade expurgada do menstruo
rosa viva diante dos nossos olhos
Ainda longe longe essa cidade futura
onde «a poesia não mais ritmará a acção
porque caminhará adiante dela»
Os pregadores de morte vão acabar?
Os segadores do amor vão acabar?
A tortura dos olhos vai acabar?
Passa-me então aquele canivete
porque há imenso que começar a podar
passa não me olhas como se olha um bruxo
detentor do milagre da verdade
a machadada e o propósito de não sacrificar-se não construirão ao sol coisa nenhuma
nada está escrito afinal


sexta-feira, 21 de maio de 2010

Semana "MÁRIO CESARINY" (VI)


Mário Cezariny, pintor e poeta português, nasceu em Lisboa em 9 de Agosto de1923 e morreu na sua cidade natal em 26 de Novembro de 2006. A sua formação artística inclui o curso da Escola de Artes Decorativas António Arroio e estudos na área de música, com Fernando Lopes Graça.
Afastou-se muito cedo do movimento neo-realista dominante em Portugal. Viveu algum tempo em Paris, onde conheceu André Breton, em 1947. Atraído pelas propostas do movimento surrealista francês, ainda nesse ano, integrou o Grupo Surrealista de Lisboa tornando-se um dos mais importantes defensores do movimento em Portugal.
Cesariny, de personalidade inquieta e questionadora, adoptou uma atitude estética de constante experimentação. A atitude anárquica que adoptou marcou a sua obra e a sua vida.
A sua produção poética, por vezes pontuada de um corrosivo humor, foi também fortemente marcada pela assumida desconstrução que levou a cabo com as suas experiências na pintura. O sentido de contestação dos comportamentos considerados apropriados, a assumpção de atitudes consideradas inaceitáveis e marginais, a confrontação das regras instituídas ou considerados normais, animam intrinsecamente a sua poesia. Recorrendo a enumerações caóticas, utilizando situações sem sentido ou de humor negro, parodiando hábitos e regras de sociabilidade formal, brincando com trocadilhos e jogos verbais, portanto, recorrendo a processos tipicamente surrealistas, cria uma linguagem onde coloca em confronto o quotidiano modo de viver e o insólito de casos ou atitudes aparentemente descabidos. 


passagem dos elefantes

Elefantes na água optimistas à solta
optimistas à solta elefantes na árvore

elefantes na árvore optimistas na esquadra
optimistas na esquadra elefantes no ar

elefantes no ar optimistas em casa
optimistas em casa elefantes na esposa

elefantes na esposa optimistas no fumo
optimistas no fumo elefantes na ode

elefantes na ode optimistas na raiva
optimistas na raiva elefantes no parque

elefantes no parque optimistas na filha
optimistas na filha elefantes zangados

elefantes zangados optimistas na água
optimistas na água elefantes na árvore


quinta-feira, 20 de maio de 2010

Semana "MÁRIO CESARINY" (V)


Mário Cezariny, pintor e poeta português, nasceu em Lisboa em 9 de Agosto de1923 e morreu na sua cidade natal em 26 de Novembro de 2006. A sua formação artística inclui o curso da Escola de Artes Decorativas António Arroio e estudos na área de música, com Fernando Lopes Graça.
Afastou-se muito cedo do movimento neo-realista dominante em Portugal. Viveu algum tempo em Paris, onde conheceu André Breton, em 1947. Atraído pelas propostas do movimento surrealista francês, ainda nesse ano, integrou o Grupo Surrealista de Lisboa tornando-se um dos mais importantes defensores do movimento em Portugal.
Cesariny, de personalidade inquieta e questionadora, adoptou uma atitude estética de constante experimentação. A atitude anárquica que adoptou marcou a sua obra e a sua vida.
A sua produção poética, por vezes pontuada de um corrosivo humor, foi também fortemente marcada pela assumida desconstrução que levou a cabo com as suas experiências na pintura. O sentido de contestação dos comportamentos considerados apropriados, a assumpção de atitudes consideradas inaceitáveis e marginais, a confrontação das regras instituídas ou considerados normais, animam intrinsecamente a sua poesia. Recorrendo a enumerações caóticas, utilizando situações sem sentido ou de humor negro, parodiando hábitos e regras de sociabilidade formal, brincando com trocadilhos e jogos verbais, portanto, recorrendo a processos tipicamente surrealistas, cria uma linguagem onde coloca em confronto o quotidiano modo de viver e o insólito de casos ou atitudes aparentemente descabidos. 


homenagem a cesário verde

Aos pés do burro que olhava para o mar
depois do bolo-rei comeram-se sardinhas
com as sardinhas um pouco de goiabada
e depois do pudim, para um último cigarro
um feijão branco em sangue e rolas cozidas

Pouco depois cada qual procurou
com cada um o poente que convinha.
Chegou a noite e foram todos para casa ler Cesário Verde
que ainda há passeios ainda há poetas cá no país!


quarta-feira, 19 de maio de 2010

Semana "MÁRIO CESARINY" ( I V)



Mário Cezariny, pintor e poeta português, nasceu em Lisboa em 9 de Agosto de1923 e morreu na sua cidade natal em 26 de Novembro de 2006. A sua formação artística inclui o curso da Escola de Artes Decorativas António Arroio e estudos na área de música, com Fernando Lopes Graça.
Afastou-se muito cedo do movimento neo-realista dominante em Portugal. Viveu algum tempo em Paris, onde conheceu André Breton, em 1947. Atraído pelas propostas do movimento surrealista francês, ainda nesse ano, integrou o Grupo Surrealista de Lisboa tornando-se um dos mais importantes defensores do movimento em Portugal.
Cesariny, de personalidade inquieta e questionadora, adoptou uma atitude estética de constante experimentação. A atitude anárquica que adoptou marcou a sua obra e a sua vida.
A sua produção poética, por vezes pontuada de um corrosivo humor, foi também fortemente marcada pela assumida desconstrução que levou a cabo com as suas experiências na pintura. O sentido de contestação dos comportamentos considerados apropriados, a assumpção de atitudes consideradas inaceitáveis e marginais, a confrontação das regras instituídas ou considerados normais, animam intrinsecamente a sua poesia. Recorrendo a enumerações caóticas, utilizando situações sem sentido ou de humor negro, parodiando hábitos e regras de sociabilidade formal, brincando com trocadilhos e jogos verbais, portanto, recorrendo a processos tipicamente surrealistas, cria uma linguagem onde coloca em confronto o quotidiano modo de viver e o insólito de casos ou atitudes aparentemente descabidos.



radiograma

Alegre   triste   meigo   feroz   bêbedo
lúcido
no meio do mar

Claro   obscuro   novo   velhíssimo   obsceno
puro
no meio do mar

Nado-morto às quatro   morto a nada às cinco
encontrado perdido
no meio do mar
no meio do mar


terça-feira, 18 de maio de 2010

Semana "MÁRIO CESARINY" (III)


Mário Cezariny, pintor e poeta português, nasceu em Lisboa em 9 de Agosto de1923 e morreu na sua cidade natal em 26 de Novembro de 2006. A sua formação artística inclui o curso da Escola de Artes Decorativas António Arroio e estudos na área de música, com Fernando Lopes Graça.
Afastou-se muito cedo do movimento neo-realista dominante em Portugal. Viveu algum tempo em Paris, onde conheceu André Breton, em 1947. Atraído pelas propostas do movimento surrealista francês, ainda nesse ano, integrou o Grupo Surrealista de Lisboa tornando-se um dos mais importantes defensores do movimento em Portugal.
Cesariny, de personalidade inquieta e questionadora, adoptou uma atitude estética de constante experimentação. A atitude anárquica que adoptou marcou a sua obra e a sua vida.
A sua produção poética, por vezes pontuada de um corrosivo humor, foi também fortemente marcada pela assumida desconstrução que levou a cabo com as suas experiências na pintura. O sentido de contestação dos comportamentos considerados apropriados 
, a assumpção de atitudes consideradas inaceitáveis e marginais, a confrontação das regras instituídas ou considerados normais, animam intrinsecamente a sua poesia. Recorrendo a enumerações caóticas, utilizando situações sem sentido ou de humor negro, parodiando hábitos e regras de sociabilidade formal, brincando com trocadilhos e jogos verbais, portanto, recorrendo a processos tipicamente surrealistas, cria uma linguagem onde coloca em confronto o quotidiano modo de viver e o insólito de casos ou atitudes aparentemente descabidos.

radiograma
 
Alegre   triste   meigo   feroz   bêbedo
lúcido
no meio do mar
 
Claro   obscuro   novo   velhíssimo   obsceno
puro
no meio do mar
 
Nado-morto às quatro   morto a nada às cinco
encontrado perdido
no meio do mar
no meio do mar
 

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Semana "MÁRIO CESARINY" ( II )



Mário Cezariny, pintor e poeta português, nasceu em Lisboa em 9 de Agosto de1923 e morreu na sua cidade natal em 26 de Novembro de 2006. A sua formação artística inclui o curso da Escola de Artes Decorativas António Arroio e estudos na área de música, com Fernando Lopes Graça.
Afastou-se muito cedo do movimento neo-realista dominante em Portugal. Viveu algum tempo em Paris, onde conheceu André Breton, em 1947. Atraído pelas propostas do movimento surrealista francês, ainda nesse ano, integrou o Grupo Surrealista de Lisboa tornando-se um dos mais importantes defensores do movimento em Portugal.
Cesariny, de personalidade inquieta e questionadora, adoptou uma atitude estética de constante experimentação. A atitude anárquica que adoptou marcou a sua obra e a sua vida.
A sua produção poética, por vezes pontuada de um corrosivo humor, foi também fortemente marcada pela assumida desconstrução que levou a cabo com as suas experiências na pintura. O sentido de contestação dos comportamentos considerados apropriados, a assumpção de atitudes consideradas inaceitáveis e marginais, a confrontação das regras instituídas ou considerados normais, animam intrinsecamente a sua poesia. Recorrendo a enumerações caóticas, utilizando situações sem sentido ou de humor negro, parodiando hábitos e regras de sociabilidade formal, brincando com trocadilhos e jogos verbais, portanto, recorrendo a processos tipicamente surrealistas, cria uma linguagem onde coloca em confronto o quotidiano modo de viver e o insólito de casos ou atitudes aparentemente descabidos.


Faz-se luz pelo processo
de eliminação de sombras
Ora as sombras existem
as sombras têm exaustiva vida própria
não dum e doutro lado da luz mas do próprio seio dela
intensamente amantes   loucamente amadas
e espalham pelo chão braços de luz cinzenta
que se introduzem pelo bico nos olhos do homem

Por outro lado a sombra dita a luz
não ilumina   realmente   os objectos
os objectos vivem às escuras
numa perpétua aurora surrealista
com a qual não podemos contactar
senão como amantes
de olhos fechados
e lâmpadas nos dedos   e na boca


domingo, 16 de maio de 2010

Semana "Mário Cesariny" ( I )



Mário Cezariny, pintor e poeta português, nasceu em Lisboa em 9 de Agosto de1923 e morreu na sua cidade natal em 26 de Novembro de 2006. A sua formação artística inclui o curso da Escola de Artes Decorativas António Arroio e estudos na área de música, com Fernando Lopes Graça.
Afastou-se muito cedo do movimento neo-realista dominante em Portugal. Viveu algum tempo em Paris, onde conheceu André Breton, em 1947. Atraído pelas propostas do movimento surrealista francês, ainda nesse ano, integrou o Grupo Surrealista de Lisboa tornando-se um dos mais importantes defensores do movimento em Portugal.
Cesariny, de personalidade inquieta e questionadora, adoptou uma atitude estética de constante experimentação. A atitude anárquica que adoptou marcou a sua obra e a sua vida.
A sua produção poética, por vezes pontuada de um corrosivo humor, foi também fortemente marcada pela assumida desconstrução que levou a cabo com as suas experiências na pintura. O sentido de contestação dos comportamentos considerados apropriados, a assumpção de atitudes consideradas inaceitáveis e marginais, a confrontação das regras instituídas ou considerados normais, animam intrinsecamente a sua poesia. Recorrendo a enumerações caóticas, utilizando situações sem sentido ou de humor negro, parodiando hábitos e regras de sociabilidade formal, brincando com trocadilhos e jogos verbais, portanto, recorrendo a processos tipicamente surrealistas, cria uma linguagem onde coloca em confronto o quotidiano modo de viver e o insólito de casos ou atitudes aparentemente descabidos.


QUANDO, EM BOA ESTAÇÃO
 
              Quando, em boa estação,
         Camões, o Cavalgante Castelhano,
              Ler a minha "Mensagem"
               Vai ficar todo o ano
               A repensar a imagem
              Do galaico-português
                  que ele desfez 
                     E eu não.
  

sábado, 15 de maio de 2010

Semana "MARIO DE ANDRADE" ( VII )


Mário de Andrade. Este grande poeta brasileiro e um dos maiores da lusofonia, nasceu em 9 de Outubro de 1893 em São Paulo, Brasil e viveu toda a sua vida nesta cidade onde morreu em, 25 de Fevereiro de 1945 foi poeta, romancista, crítico de arte, musicólogo do movimento modernista do Brasil e produziu um grande impacto na renovação literária e artística do seu país. 

Erro De Português

Quando o português chegou
Debaixo duma bruta chuva
Vestiu o índio
Que Pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Semana "MARIO DE ANDRADE" ( VI )


Mário de Andrade. Este grande poeta brasileiro e um dos maiores da lusofonia, nasceu em 9 de Outubro de 1893 em São Paulo, Brasil e viveu toda a sua vida nesta cidade onde morreu em, 25 de Fevereiro de 1945 foi poeta, romancista, crítico de arte, musicólogo do movimento modernista do Brasil e produziu um grande impacto na renovação literária e artística do seu país. 

Aceitarás o amor como eu o encaro?

...Azul bem leve, um nimbo, suavemente
Guarda-te a imagem, como um anteparo
Contra estes móveis de banal presente.
Tudo o que há de melhor e de mais raro

Vive em teu corpo nu de adolescente,
A perna assim jogada e o braço, o claro
Olhar preso no meu, perdidamente.

Não exijas mais nada. Não desejo
Também mais nada, só te olhar, enquanto
A realidade é simples, e isto apenas.

Que grandeza... a evasão total do pejo
Que nasce das imperfeições. O encanto
Que nasce das adorações serenas.

 

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Semana "MARIO DE ANDRADE" ( V )


Mário de Andrade. Este grande poeta brasileiro e um dos maiores da lusofonia, nasceu em 9 de Outubro de 1893 em São Paulo, Brasil e viveu toda a sua vida nesta cidade onde morreu em, 25 de Fevereiro de 1945 foi poeta, romancista, crítico de arte, musicólogo do movimento modernista do Brasil e produziu um grande impacto na renovação literária e artística do seu país. 

Descobrimento

Abancado à escrivaninha em São Paulo
Na minha casa da rua Lopes Chaves
De supetão senti um friúme por dentro.
Fiquei trêmulo, muito comovido
Com o livro palerma olhando pra mim.

Não vê que me lembrei que lá no Norte, meu Deus!
muito longe de mim
Na escuridão ativa da noite que caiu
Um homem pálido magro de cabelo escorrendo nos olhos,
Depois de fazer uma pele com a borracha do dia,
Faz pouco se deitou, está dormindo.

Esse homem é brasileiro que nem eu.
 

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Semana "MARIO DE ANDRADE" ( IV )


Mário de Andrade. Este grande poeta brasileiro e um dos maiores da lusofonia, nasceu em 9 de Outubro de 1893 em São Paulo, Brasil e viveu toda a sua vida nesta cidade onde morreu em, 25 de Fevereiro de 1945 foi poeta, romancista, crítico de arte, musicólogo do movimento modernista do Brasil e produziu um grande impacto na renovação literária e artística do seu país. 

Moça Linda Bem Tratada

Moça linda bem tratada,
Três séculos de família,
Burra como uma porta:
Um amor.

Grã-fino do despudor,
Esporte, ignorância e sexo,
Burro como uma porta:
Um coió.

Mulher gordaça, filó,
De ouro por todos os poros
Burra como uma porta:
Paciência...

Plutocrata sem consciência,
Nada porta, terremoto
Que a porta de pobre arromba:
Uma bomba. 

terça-feira, 11 de maio de 2010

Semana "MARIO DE ANDRADE" ( III )


Mário de Andrade. Este grande poeta brasileiro e um dos maiores da lusofonia, nasceu em 9 de Outubro de 1893 em São Paulo, Brasil e viveu toda a sua vida nesta cidade onde morreu em, 25 de Fevereiro de 1945 foi poeta, romancista, crítico de arte, musicólogo do movimento modernista do Brasil e produziu um grande impacto na renovação literária e artística do seu país. 

Aceitarás o amor como eu o encaro ?...
...Azul bem leve, um nimbo, suavemente
Guarda-te a imagem, como um anteparo
Contra estes móveis de banal presente.

Tudo o que há de melhor e de mais raro
Vive em teu corpo nu de adolescente,
A perna assim jogada e o braço, o claro
Olhar preso no meu, perdidamente.

Não exijas mais nada. Não desejo
Também mais nada, só te olhar, enquanto
A realidade é simples, e isto apenas.

Que grandeza... a evasão total do pejo
Que nasce das imperfeições. O encanto
Que nasce das adorações serenas.

 

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Semana "MARIO DE ANDRADE" ( II )


Mário de Andrade. Este grande poeta brasileiro e um dos maiores da lusofonia, nasceu em 9 de Outubro de 1893 em São Paulo, Brasil e viveu toda a sua vida nesta cidade onde morreu em, 25 de Fevereiro de 1945 foi poeta, romancista, crítico de arte, musicólogo do movimento modernista do Brasil e produziu um grande impacto na renovação literária e artística do seu país. 

Ode ao Burguês

Eu insulto o burguês! O burguês-níquel
o burguês-burguês!
A digestão bem-feita de São Paulo!
O homem-curva! O homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!

Eu insulto as aristocracias cautelosas!
Os barões lampiões! Os condes Joões! Os duques zurros!
Que vivem dentro de muros sem pulos,
e gemem sangue de alguns mil-réis fracos
para dizerem que as filhas da senhora falam o francês
e tocam os "Printemps" com as unhas!

Eu insulto o burguês-funesto!
O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições!
Fora os que algarismam os amanhãs!
Olha a vida dos nossos setembros!
Fará Sol? Choverá? Arlequinal!
Mas à chuva dos rosais
o êxtase fará sempre Sol!

Morte à gordura!
Morte às adiposidades cerebrais!
Morte ao burguês-mensal!
Ao burguês-cinema! Ao burguês-tiburi!
Padaria Suíssa! Morte viva ao Adriano!
"— Ai, filha, que te darei pelos teus anos?
— Um colar... — Conto e quinhentos!!!
Más nós morremos de fome!"

Come! Come-te a ti mesmo, oh! gelatina pasma!
Oh! purée de batatas morais!
Oh! cabelos nas ventas! Oh! carecas!
Ódio aos temperamentos regulares!
Ódio aos relógios musculares! Morte à infâmia!
Ódio à soma! Ódio aos secos e molhados
Ódio aos sem desfalecimentos nem arrependimentos,
sempiternamente as mesmices convencionais!
De mãos nas costas! Marco eu o compasso! Eia!
Dois a dois! Primeira posição! Marcha!
Todos para a Central do meu rancor inebriante!

Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio!
Morte ao burguês de giolhos,
cheirando religião e que não crê em Deus!
Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico!
Ódio fundamento, sem perdão!

Fora! Fu! Fora o bom burguês!...


 

domingo, 9 de maio de 2010

Semana "MARIO DE ANDRADE" ( I )


Mário de Andrade. Este grande poeta brasileiro e um dos maiores da lusofonia, nasceu em 9 de Outubro de 1893 em São Paulo, Brasil e viveu toda a sua vida nesta cidade onde morreu em, 25 de Fevereiro de 1945 foi poeta, romancista, crítico de arte, musicólogo do movimento modernista do Brasil e produziu um grande impacto na renovação literária e artística do seu país. 

Dele se escolheu este belo texto, muito poético mas pleno de um profundo sentido da existência, revelando uma inteligente, sábia e crítica atitude perante a vida. Para maior apreensão do seu sentido, aportuguesaram-se algumas expressões e palavras.

“Contei os meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do que já vivi até agora.
Tenho muito mais passado do que futuro.
Sinto-me como aquele menino que ganhou uma bacia de jabuticabas.
As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, passou a roer o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inchados.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando os seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas que, apesar da idade cronológica, são imaturos.
Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário-geral do coral.
'As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos'.
O meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência.
A minha alma tem pressa...
Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana,
muito humana; que sabe rir dos seus tropeços, não se encanta com triunfos,
não se considera eleita antes da hora, não foge da sua mortalidade,
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade,
O essencial faz a vida valer a pena.




 

sábado, 8 de maio de 2010

Semana "JOSÉ MANUEL CAPÊLO" ( VII )


José Manuel Gomes Gonçalves Capêlo, nasceu a 29 de Janeiro de 1946, em Castelo Branco. Faleceu na vila de Campo Maior , onde fixara residência, em 27 de Fevereiro de 2010.
A  profissão de comissário de bordo, na TAP que teve durante anos permitiu-lhe conhecer muitos países.  
Poeta, ficcionista, investigador e editor, colaborou  em jornais e revistas em Portugal e no estrangeiro. Algumas das suas obras foram traduzidas e publicadas em países como:  Brasil, Espanha, França, Inglaterra, República Popular da China e Estados Unidos da América.
Das obras Poesia destacam-se: "Miragem", Montanha, Lisboa, 1978; "Corpo-terra", Trelivro, Lisboa, 1982; "Fala do Homem Sozinho", Danúbio, Lisboa, 1983; "Rostos e Sombras," Sílex, Lisboa, 1986; "O Incontável Horizonte", Património XXI, Lisboa, 1988; "Enche-se de Eco a Cidade" ,Átrio, Lisboa, 1989; "A Voz dos Temporais", Átrio, Lisboa, 1991; "Quanto desta terra é", Átrio, Lisboa, 1992; "Odes Submersas", Átrio, Lisboa, 1995; "A noite das Lendas", Aríon, Lisboa, 2000. 
Dos ensaios históricos sobressaem:   "Os Mistérios Templários à Luz da História e da Tradição", Zéfiro, Sintra, 2007; "Portugal templário, relação e sucessão dos seus Mestres [1124-1314]",2ª edição, Zéfiro, Lisboa, 2008. 
Foi grande o número de autores portugueses que publicou como editor: António Quadros, Dalila Pereira da Costa, João Rui de Sousa, António Ramos Rosa, António Manuel Couto Viana, António Telmo, António Salvado,  Joaquim Pessoa, António Barahona, Albano Martins, Dórdio Guimarães e vários outros.

Longamente... a noite
a fácil luz de todos os delírios
de todos estes medos que guardo desde a infância
essa, que só me soube a trevas e a embuste
a memórias fáceis e desaticuladas
a longas horas de encontro comigo, a sós comigo
com os meus vultos e os meus delírios
a minha imaginação fácil e desempoeirada
acontecida em longas horas de sono vivo e feliz.

Quem me soube ver quando me procurava
nas imensas manhãs de um qualquer dia sem dia?
Quem me soube entender quando me perguntava
de onde - ou de que lado - vinha a luz
quando se distinguia a sombra incontrolável das trevas?
Quem me soube responder a esse passado
que, de tão recente
tinha a visão da minha orfandade
vista por tantos
e pouco, ou nada, entendida por poucos mais ?

Foi brevemente longo o meu desespero
a minha ânsia descontrolada
o lado outro, que não era meu, porque o não tinha
e não sabia a quem pedir!?...

Quem fez de mim o que sou hoje?
Quem se lembrou de me lembrar?

In, A Noite das Lendas, Aríon, 2000

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Semana "JOSÉ MANUEL CAPÊLO" ( VI )


José Manuel Gomes Gonçalves Capêlo, nasceu a 29 de Janeiro de 1946, em Castelo Branco. Faleceu na vila de Campo Maior , onde fixara residência, em 27 de Fevereiro de 2010.
A  profissão de comissário de bordo, na TAP que teve durante anos permitiu-lhe conhecer muitos países.  
Poeta, ficcionista, investigador e editor, colaborou  em jornais e revistas em Portugal e no estrangeiro. Algumas das suas obras foram traduzidas e publicadas em países como:  Brasil, Espanha, França, Inglaterra, República Popular da China e Estados Unidos da América.
Das obras Poesia destacam-se: "Miragem", Montanha, Lisboa, 1978; "Corpo-terra", Trelivro, Lisboa, 1982; "Fala do Homem Sozinho", Danúbio, Lisboa, 1983; "Rostos e Sombras," Sílex, Lisboa, 1986; "O Incontável Horizonte", Património XXI, Lisboa, 1988; "Enche-se de Eco a Cidade" ,Átrio, Lisboa, 1989; "A Voz dos Temporais", Átrio, Lisboa, 1991; "Quanto desta terra é", Átrio, Lisboa, 1992; "Odes Submersas", Átrio, Lisboa, 1995; "A noite das Lendas", Aríon, Lisboa, 2000. 
Dos ensaios históricos sobressaem:   "Os Mistérios Templários à Luz da História e da Tradição", Zéfiro, Sintra, 2007; "Portugal templário, relação e sucessão dos seus Mestres [1124-1314]",2ª edição, Zéfiro, Lisboa, 2008. 
Foi grande o número de autores portugueses que publicou como editor: António Quadros, Dalila Pereira da Costa, João Rui de Sousa, António Ramos Rosa, António Manuel Couto Viana, António Telmo, António Salvado,  Joaquim Pessoa, António Barahona, Albano Martins, Dórdio Guimarães e vários outros.


Felizes vão os dias de sossego
na vida calma de horas certas...
Nada em mim é visão de cego
antes, claridades de portas abertas.

Corriam livres esses dias marcados;
eram plenas, essas horas sagradas
buscavam os dedos os lugares fechados
sentiam as mãos as formas onduladas.

Como eram bons esses dias de ontem
que não esquecem no tempo de hoje.
Revivam-se, porque todos se sentem
porque nada se perde, nada foge.

Adeus meus dias passados
meus bons tempos de fortuna;
escrevo agora meus breves fados
p'ros lançar, depois, na laguna!
In, Miragem, Editora Montanha, 1978


quinta-feira, 6 de maio de 2010

Semana "JOSÉ MANUEL CAPÊLO" ( V )


José Manuel Gomes Gonçalves Capêlo, nasceu a 29 de Janeiro de 1946, em Castelo Branco. Faleceu na vila de Campo Maior , onde fixara residência, em 27 de Fevereiro de 2010.
A  profissão de comissário de bordo, na TAP que teve durante anos permitiu-lhe conhecer muitos países.  
Poeta, ficcionista, investigador e editor, colaborou  em jornais e revistas em Portugal e no estrangeiro. Algumas das suas obras foram traduzidas e publicadas em países como:  Brasil, Espanha, França, Inglaterra, República Popular da China e Estados Unidos da América.
Das obras Poesia destacam-se: "Miragem", Montanha, Lisboa, 1978; "Corpo-terra", Trelivro, Lisboa, 1982; "Fala do Homem Sozinho", Danúbio, Lisboa, 1983; "Rostos e Sombras," Sílex, Lisboa, 1986; "O Incontável Horizonte", Património XXI, Lisboa, 1988; "Enche-se de Eco a Cidade" ,Átrio, Lisboa, 1989; "A Voz dos Temporais", Átrio, Lisboa, 1991; "Quanto desta terra é", Átrio, Lisboa, 1992; "Odes Submersas", Átrio, Lisboa, 1995; "A noite das Lendas", Aríon, Lisboa, 2000. 
Dos ensaios históricos sobressaem:   "Os Mistérios Templários à Luz da História e da Tradição", Zéfiro, Sintra, 2007; "Portugal templário, relação e sucessão dos seus Mestres [1124-1314]",2ª edição, Zéfiro, Lisboa, 2008. 
Foi grande o número de autores portugueses que publicou como editor: António Quadros, Dalila Pereira da Costa, João Rui de Sousa, António Ramos Rosa, António Manuel Couto Viana, António Telmo, António Salvado,  Joaquim Pessoa, António Barahona, Albano Martins, Dórdio Guimarães e vários outros.

Longe, tu e eu,
perdidos nos quilómetros que nos separam
por migalhas de tempo,
no olhar do relógio, que são horas
e que se perdem, a olhar os minutos.

Longe, tu e eu
que não merecemos, porque não esquecemos
que o tempo foi nosso
e que passou sem que déssemos tempo,
ao tempo, para nos vir buscar.

Longe, tu e eu
amantes do belo e de nós
que não nos possuímos há dias
e, que nos são tão longos e brutais
que não os merecemos.

Longe, tu e eu
um do outro!

In, Miragem, Editora Montanha, 1978 

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Semana "JOSÉ MANUEL CAPÊLO" ( IV )


José Manuel Gomes Gonçalves Capêlo, nasceu a 29 de Janeiro de 1946, em Castelo Branco. Faleceu na vila de Campo Maior , onde fixara residência, em 27 de Fevereiro de 2010.
A  profissão de comissário de bordo, na TAP que teve durante anos permitiu-lhe conhecer muitos países.  
Poeta, ficcionista, investigador e editor, colaborou  em jornais e revistas em Portugal e no estrangeiro. Algumas das suas obras foram traduzidas e publicadas em países como:  Brasil, Espanha, França, Inglaterra, República Popular da China e Estados Unidos da América.
Das obras Poesia destacam-se: "Miragem", Montanha, Lisboa, 1978; "Corpo-terra", Trelivro, Lisboa, 1982; "Fala do Homem Sozinho", Danúbio, Lisboa, 1983; "Rostos e Sombras," Sílex, Lisboa, 1986; "O Incontável Horizonte", Património XXI, Lisboa, 1988; "Enche-se de Eco a Cidade" ,Átrio, Lisboa, 1989; "A Voz dos Temporais", Átrio, Lisboa, 1991; "Quanto desta terra é", Átrio, Lisboa, 1992; "Odes Submersas", Átrio, Lisboa, 1995; "A noite das Lendas", Aríon, Lisboa, 2000. 
Dos ensaios históricos sobressaem:   "Os Mistérios Templários à Luz da História e da Tradição", Zéfiro, Sintra, 2007; "Portugal templário, relação e sucessão dos seus Mestres [1124-1314]",2ª edição, Zéfiro, Lisboa, 2008. 
Foi grande o número de autores portugueses que publicou como editor: António Quadros, Dalila Pereira da Costa, João Rui de Sousa, António Ramos Rosa, António Manuel Couto Viana, António Telmo, António Salvado,  Joaquim Pessoa, António Barahona, Albano Martins, Dórdio Guimarães e vários outros.

Está vazia a mente. Nada escreve.
O olhar repoisa num ponto infinito
que se alonga, até escurecer a névoa.
Mas penso?... Sim, penso
que nada imagino,
(como se o imaginar,
fosse o tudo que nos aparece!...)
O infinito não custa.
Custa... é, olhar o infinito!
Infinito tão finito como eu,
ponto dum olhar que se alonga,
imagina, aparece, escreve.
Entrevista-me assim, olhos nos olhos,
mão na caneta, ponta no papel
que marca, que traça, que risca.
Missão dum olhar, que é imaginação,
encanto de um corpo, que é só corpo
mente que escreve e se infinitiza,
no custar honesto que aparece.
Infinito num finito como eu,
em entrevista própria...

In, Miragem, Editora Montanha, 1978 

terça-feira, 4 de maio de 2010

Semana "JOSÉ MANUEL CAPÊLO" ( III )


José Manuel Gomes Gonçalves Capêlo, nasceu a 29 de Janeiro de 1946, em Castelo Branco. Faleceu na vila de Campo Maior , onde fixara residência, em 27 de Fevereiro de 2010.
A  profissão de comissário de bordo, na TAP que teve durante anos permitiu-lhe conhecer muitos países.  
Poeta, ficcionista, investigador e editor, colaborou  em jornais e revistas em Portugal e no estrangeiro. Algumas das suas obras foram traduzidas e publicadas em países como:  Brasil, Espanha, França, Inglaterra, República Popular da China e Estados Unidos da América.
Das obras Poesia destacam-se: "Miragem", Montanha, Lisboa, 1978; "Corpo-terra", Trelivro, Lisboa, 1982; "Fala do Homem Sozinho", Danúbio, Lisboa, 1983; "Rostos e Sombras," Sílex, Lisboa, 1986; "O Incontável Horizonte", Património XXI, Lisboa, 1988; "Enche-se de Eco a Cidade" ,Átrio, Lisboa, 1989; "A Voz dos Temporais", Átrio, Lisboa, 1991; "Quanto desta terra é", Átrio, Lisboa, 1992; "Odes Submersas", Átrio, Lisboa, 1995; "A noite das Lendas", Aríon, Lisboa, 2000. 
Dos ensaios históricos sobressaem:   "Os Mistérios Templários à Luz da História e da Tradição", Zéfiro, Sintra, 2007; "Portugal templário, relação e sucessão dos seus Mestres [1124-1314]",2ª edição, Zéfiro, Lisboa, 2008. 
Foi grande o número de autores portugueses que publicou como editor: António Quadros, Dalila Pereira da Costa, João Rui de Sousa, António Ramos Rosa, António Manuel Couto Viana, António Telmo, António Salvado,  Joaquim Pessoa, António Barahona, Albano Martins, Dórdio Guimarães e vários outros.

Levaram-me tão cedo de casa de meus pais!...
Ainda mal tinha descoberto o sol
já o mar me puxava para terra estranha
e aves diferentes, que nunca conhecera
voavam sobre mim em gritos estridentes.
O casco do navio seguia, deixando na esteira
ondas de espuma, que se perdiam para lá
- donde tinha vindo-
do difícil do voltar a ter
não fossem os anos a passar, conscientes
da minha inconsciência de razão.

Levaram-me tão cedo de casa de meus pais!...
Quando voltei, também eles não estavam lá...


In,  "Y si no existieses?", Zaragoza, 2003