terça-feira, 30 de outubro de 2007

Sentença IV

É por tão poucos terem muito, e serem tantos os que nada têm, que o mundo é um lugar tão inseguro.
Não é apenas por bondade que deves evitar o desespero que acompanha sempre a miséria extrema.
É, para garantia do teu bem-estar e para maior segurança dos teus próprios bens.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

A CASA ( IV )

A casa grande foi berço
E é destino.

Aqui me reencontro.
Aqui planto e aqui deposito,
Os restos da vida que cumpri.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

A CASA ( III )

Aqui, na casa grande,
Há sons e há restos de memória;
Há rastos de gestos que ficaram por cumprir.

Aqui, na casa grande,
O sonho e o desencanto,
Misturam-se numa tristeza que não tem mais fim...

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

A CASA ( II )

Aqui, à casa grande,
Tenho sempre que voltar.
Sem este espaço-berço,
A vida fica sem princípio.

Perdidas as origens,
Perde-se o sentido,
Da vida que moldou,
Aquele que hoje sou.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

A CASA ( I )

Aqui, na casa grande,
Foi aqui que me temperei.

As paredes conservam ainda
Os ecos do passado.

E há sombras que guardam imagens,
Gestos que só a memória consegue reviver...

sábado, 13 de outubro de 2007

PERPLEXIDADE

Espectáculo por Campanhia de Dança Contemporânea. Uma aliciante proposta à partida.
Uma música melodicamente repetitiva. Quase minimalista. Soando alto até se tornar incómoda, obsessiva.
Um homem jovem, vestido por estranhos elementos, assumindo gestos de equívoca sexualidade.
Destravestiu-se, até quase à nudez, em longos minutos que pareceram infindos.
Depois, recomeçou em gestos lentos, lânguidos, a travestir nova personagem.
De novo a exasperante mudez do homem e a insuportável cadência da música.
Tudo isto, assim: desinteressante, incompreensível, inútil.
Como meia-hora pode ser um tempo tão dolorosamente longo!!!!!!!!
Alguns espectadores riam nervosamente. Outros, como eu, entediavam-se em silêncio.
Ao intervalo, boa parte debandou.
Foi a única forma inteligente e bem educada de expressarem o desagrado.

Certas propostas, presumidamente artísticas, põem-nos a pensar:

Onde acaba a Arte e começa o descaramento?!

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

QUANDO, A MORTE?...

Meu pai não morreu,
Foi morrendo ...
Foi partindo lentamente ...
Deixando de ser,
Muito antes de morrer.

A sua alma partiu quando?
Meu pai foi deixando de ser gente,
Sendo um corpo ainda tão presente!

terça-feira, 9 de outubro de 2007

SILÊNCIO III

A mão pousa lentamente
Sobre o pêlo sedoso do meu cão.

Soergue a cabeça lentamente ...
Que ternura!
Que doçura! ...
Nesse olhar de tranquila mansidão!

sábado, 6 de outubro de 2007

Sentença III

Os maus agem de má fé apenas por ignorância, porque desconhecem quão efémeras são as vantagens que resultam da sua acção dolosa.

Agir bem, não para obter vantagem mas para se poder viver de tranquila consciência, é prova de sabedoria e de bom senso.

Não esperes nenhuma recompensa pela rectidão do teu modo de agir. Tu és a única medida da justeza dos teus actos. Dos outros podes esperar prémios ou castigos mas não a consciência plena do valor das tuas acções.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

OUTONO

Choveu de noite.
A aurora rompe a custo no cinzento azulado de um céu de nuvens.
Lentamente, a natureza parece que adormece.
A terra, em tons castanhos, salpicada do verde da erva que renasce.
As árvores carregadas de frutos maduros e de folhas que fenecem.
O chão coberto do folhedo morto.
Tudo anuncia o frio Inverno em que reina a noite.
Depois, virá a alegria primaveril da vida que regressa.
Novo tempo solar e o Verão escaldante.
Cumpre-se o ciclo infindo da mãe natureza.