Uma folha em branco...
E que escrever nela?
Quimera?
Ilusão?
Não!
Nada?
Também não!
Está escrita então!
(Abrilongo)
sábado, 29 de março de 2014
segunda-feira, 24 de março de 2014
QUASI
Um pouco mais de sol - eu era brasa, Um pouco mais de azul - eu era além Para atingir, faltou-me um golpe de asa ... Se ao menos eu permanecesse aquém ... Assombro ou paz ? Em vão ... Tudo esvaído Num grande mar enganador d´espuma; E o grande sonho despertado em bruma, O grande sonho - ó dor ! - quasi vivido ... Quasi o amor, quase o triunfo e a chama, Quasi o princípio e o fim - quasi a expansão ... Mas na minh´alma tudo se derrama ... Entanto nada foi só ilusão ! De tudo houve um começo ... e tudo errou ... - Ai a dor de ser-quasi, dor sem fim ... Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim, Asa que se elançou mas não voou ... Momentos de alma que desbaratei ... Templos aonde nunca pus um altar ... Rios que perdi sem os levar ao mar ... Ânsias que foram mas que não fixei ... Se me vagueio, encontro só indícios ... Ogivas para o sol - vejo-as cerradas; E mãos d' heroi, sem fé, acobardadas, Puseram grades sobre os precipícios ... Num ímpeto difuso de quebranto, Tudo encetei e nada possuí ... Hoje, de mim, só resta o desencanto Das coisas que beijei mas não vivi ... Um pouco mais de sol - e fora brasa, Um pouco mais de azul - e fora além. Para atingir faltou-me um golpe d´asa ... Se ao menos eu permanecesse aquém ...
Paris 1913 - Maio 13 Mário de Sá-Carneiro
quinta-feira, 20 de março de 2014
Agora É
Agora é diferente
Tenho o teu nome o teu cheiro
A minha roupa de repente
ficou com o teu cheiro
Agora estamos misturados
No meio de nós já não cabe o amor
Já não arranjamos
lugar para o amor
Já não arranjamos vagar
para o amor agora
isto vai devagar
isto agora demora
Manuel António Pina
Tenho o teu nome o teu cheiro
A minha roupa de repente
ficou com o teu cheiro
Agora estamos misturados
No meio de nós já não cabe o amor
Já não arranjamos
lugar para o amor
Já não arranjamos vagar
para o amor agora
isto vai devagar
isto agora demora
Manuel António Pina
segunda-feira, 17 de março de 2014
JÁ NÃO ME APETECE MUITO
Já não me apetece muito
Escrever pohesias
Se fosse como dantes
Fá-las-ia abundantes
Mas sinto-me muito velho
Sinto-me muito sério
Sinto-me consciencioso
Sinto-me preguicioso
Boris Vian
Escrever pohesias
Se fosse como dantes
Fá-las-ia abundantes
Mas sinto-me muito velho
Sinto-me muito sério
Sinto-me consciencioso
Sinto-me preguicioso
Boris Vian
quarta-feira, 12 de março de 2014
QUANDO UM RAMO DE DOZE BADALADAS
Quando um ramo de doze badaladas se espalhava nos móveis e tu vinhas solstício de mel pelas escadas de um sentimento com nozes e com pinhas, menino eras de lenha e crepitavas porque do fogo o nome antigo tinhas e em sua eternidade colocavas o que a infância pedia às andorinhas. Depois nas folhas secas te envolvias de trezentos e muitos lerdos dias e eras um sol na sombra flagelado. O fel que por nós bebes te liberta e no manso natal que te conserta só tu ficaste a ti acostumado. Natália Correia
sexta-feira, 7 de março de 2014
O AMOR É O AMOR
O amor é o amor - e depois?! Vamos ficar os dois a imaginar, a imaginar?.. O meu peito contra o teu peito, cortando o mar, cortando o ar. Num leito há todo o espaço para amar! Na nossa carne estamos sem destino, sem medo, sem pudor, e trocamos - somos um? somos dois? - espírito e calor! O amor é o amor - e depois?! Alexandre O´Neill Poesias Completas 1951/1981
segunda-feira, 3 de março de 2014
SONETO DE CARNAVAL
Distante o meu amor, se me afigura
O amor como um patético tormento
Pensar nele é morrer de desventuraNão pensar é matar meu pensamento.
Seu mais doce desejo se amargura
Todo o instante perdido é um sofrimento
Cada beijo lembrado uma tortura
Um ciúme do próprio ciumento.
E vivemos partindo, ela de mim
E eu dela, enquanto breves vão-se os anos
Para a grande partida que há no fim
De toda a vida e todo o amor humanos:
Mas tranquila ela sabe, e eu sei tranquilo
Que se um fica o outro parte a redimi-lo
Vinicius de
Moraes, “Sonetos e Baladas",
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