quarta-feira, 21 de abril de 2010

Semana "JORGE DE SENA" ( III )


Jorge de Sena nasceu em Lisboa em 2 de Novembro de 1919 e morreu em Santa Barbara, Califórnia, a 4 de Junho de 1978. Foi um dos maiores intelectuais portugueses do século XX. A sua obra, uma das mais importantes e significativas da cultura portuguesa no século XX, é também uma das mais multifacetadas: poeta, crítico, ensaísta, ficcionista, dramaturgo, tradutor e professor universitário, deixou também uma vasta epistolografia que manteve com figuras tutelares da história e da literatura portuguesas.
Licenciado em Engenharia Civil, dedicou-se desde muito novo à carreira de escritor, desenvolvendo, simultaneamente, uma importante intervenção política, pedagógica e cultural. Devido ao seu posicionamento político, livre e denunciador, sofreu perseguições políticas durante a ditadura salazarista. Exilou-se no Brasil1959 e adoptou a nacionalidade brasileira em 1963. Em 1965 seguiu, como professor, para a Universidade do Wisconsin (EUA) e, cinco anos mais tarde, para a Universidade da Califórnia, onde veio a chefiar os departamentos de Espanhol e Português e o de Literatura Comparada, cargos que manteve até 1978 em
Para Jorge de Sena, a poesia era, ela mesma, uma forma de testemunhar e transformar o mundo, uma forma de intervenção, embora entendida de forma diversa do neo-realismo. Num lirismo depurado, levou muitas vezes a cabo uma crítica mordaz e irónica da realidade, que assumia, por vezes, uma forma provocadora, algo dolorosa que se consubstanciava numa visão irónica de certos mitos da tradição cultural portuguesa, satirizando frequentemente aspectos provincianos ou saudosistas do seu país e do seu povo.
Em 11 de Setembro de 2009, os seus restos mortais foram trasladados de Santa Barbara, Califórnia, onde estavam enterrados desde 1978, para o cemitério do Prazeres em Lisboa.

“BUCÓLICA E NÃO”

Há sempre poetas para fazer versos à terra,
às plantas, animais, num cheiro de bucólico,
mistura de verduras podres, resinas escorrendo,
flores perfumadas, terra humedecida, e o adocicado
e acre também estrume: é sexo o que cheiram?
Amor o que respiram? As ervas que no vento
se abaixam e se entesam, e o arvoredo erecto,
de ramos balançando mas retesos, é de si mesmos sem baixar os olhos
ao longo do seu corpo e sem tocar-se
com as mãos - que lhes recordam?
E aqueles nós peludos de musguentos
em troncos. Ou no chão buracos de formigas,
e de si mesmos, fêmeas, que lhes lembram?
É orvalho em flores ou folhas ou nos troncos,
rios e regatos murmurantes - que serão?
Acaso podem ser opacos e leitosos,
Jorrando intermitentes num agudo jacto?
que terra o amor mostra que não seja
o amor que não se abriu ou não saltou,
o amor que não foi feito ou não se deu?
 

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