segunda-feira, 19 de abril de 2010

Semana "JORGE DE SENA" ( I )


Jorge de Sena nasceu em Lisboa em 2 de Novembro de 1919 e morreu em Santa Barbara, Califórnia, a 4 de Junho de 1978. Foi um dos maiores intelectuais portugueses do século XX. A sua obra, uma das mais importantes e significativas da cultura portuguesa no século XX, é também uma das mais multifacetadas: poeta, crítico, ensaísta, ficcionista, dramaturgo, tradutor e professor universitário, deixou também uma vasta epistolografia que manteve com figuras tutelares da história e da literatura portuguesas.
Licenciado em Engenharia Civil, dedicou-se desde muito novo à carreira de escritor, desenvolvendo, simultaneamente, uma importante intervenção política, pedagógica e cultural. Devido ao seu posicionamento político, livre e denunciador, sofreu perseguições políticas durante a ditadura salazarista. Exilou-se no Brasil1959 e adoptou a nacionalidade brasileira em 1963. Em 1965 seguiu, como professor, para a Universidade do Wisconsin (EUA) e, cinco anos mais tarde, para a Universidade da Califórnia, onde veio a chefiar os departamentos de Espanhol e Português e o de Literatura Comparada, cargos que manteve até 1978 em
Para Jorge de Sena, a poesia era, ela mesma, uma forma de testemunhar e transformar o mundo, uma forma de intervenção, embora entendida de forma diversa do neo-realismo. Num lirismo depurado, levou muitas vezes a cabo uma crítica mordaz e irónica da realidade, que assumia, por vezes, uma forma provocadora, algo dolorosa que se consubstanciava numa visão irónica de certos mitos da tradição cultural portuguesa, satirizando frequentemente aspectos provincianos ou saudosistas do seu país e do seu povo.
Em 11 de Setembro de 2009, os seus restos mortais foram trasladados de Santa Barbara, Califórnia, onde estavam enterrados desde 1978, para o cemitério do Prazeres em Lisboa.

«ESTÃO PODRES AS PALAVRAS...»

Estão podres as palavras - de passarem
por sórdidas mentiras de canalhas
que as usam ao revés como o carácter deles.
E podres de sonâmbulos os povos
ante a maldade à solta de que vivem
a paz quotidiana da injustiça.
Usá-las puras - como serão puras,
se caem no silêncio em que os mais puros
não sabem já onde a limpeza acaba
e a corrupção começa? Como serão puras
se logo a infâmia as cobre de seu cuspo?
Estão podres: e com elas apodrece a mundo
e se dissolve em lama a criação do homem
que só persiste em todos livremente
onde as palavras fiquem como torres
erguidas sexo de homens entre o céu e a terra.

 

Sem comentários: