Jorge de Sena nasceu em Lisboa em 2 de Novembro de 1919 e morreu em Santa Barbara, Califórnia, a 4 de Junho de 1978. Foi um dos maiores intelectuais portugueses do século XX. A sua obra, uma das mais importantes e significativas da cultura portuguesa no século XX, é também uma das mais multifacetadas: poeta, crítico, ensaísta, ficcionista, dramaturgo, tradutor e professor universitário, deixou também uma vasta epistolografia que manteve com figuras tutelares da história e da literatura portuguesas.
Licenciado em Engenharia Civil, dedicou-se desde muito novo à carreira de escritor, desenvolvendo, simultaneamente, uma importante intervenção política, pedagógica e cultural. Devido ao seu posicionamento político, livre e denunciador, sofreu perseguições políticas durante a ditadura salazarista. Exilou-se no Brasil1959 e adoptou a nacionalidade brasileira em 1963. Em 1965 seguiu, como professor, para a Universidade do Wisconsin (EUA) e, cinco anos mais tarde, para a Universidade da Califórnia, onde veio a chefiar os departamentos de Espanhol e Português e o de Literatura Comparada, cargos que manteve até 1978 em
Para Jorge de Sena, a poesia era, ela mesma, uma forma de testemunhar e transformar o mundo, uma forma de intervenção, embora entendida de forma diversa do neo-realismo. Num lirismo depurado, levou muitas vezes a cabo uma crítica mordaz e irónica da realidade, que assumia, por vezes, uma forma provocadora, algo dolorosa que se consubstanciava numa visão irónica de certos mitos da tradição cultural portuguesa, satirizando frequentemente aspectos provincianos ou saudosistas do seu país e do seu povo.
Em 11 de Setembro de 2009, os seus restos mortais foram trasladados de Santa Barbara, Califórnia, onde estavam enterrados desde 1978, para o cemitério do Prazeres em Lisboa.
“A DESENHADA IMAGEM”
A desenhada imagem como forma que
Se forma no tecido distendido por
Recurvas fímbrias que de forma criam
O arredondado abrupto do pequeno seio.
Um seio que se alonga e se projecta
Em desejado enigma de se erguer em pêndulo
Que horizontal balouça contra as leis do peso
Ao resto suspendendo sobre o espaço vago.
Do róseo olhar que cego e mais obscuro
Só por promessas fita escorrem gotas
De alva humidade opaca a boca lambe-as
Antes de os lábios se fecharem nela
Ao gosto abrindo-se (por dentro) à vida
Alimentada em sonhos de a crescer bebida.
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sábado, 24 de abril de 2010
sexta-feira, 23 de abril de 2010
Semana "JORGE DE SENA" ( V )
Jorge de Sena nasceu em Lisboa em 2 de Novembro de 1919 e morreu em Santa Barbara, Califórnia, a 4 de Junho de 1978. Foi um dos maiores intelectuais portugueses do século XX. A sua obra, uma das mais importantes e significativas da cultura portuguesa no século XX, é também uma das mais multifacetadas: poeta, crítico, ensaísta, ficcionista, dramaturgo, tradutor e professor universitário, deixou também uma vasta epistolografia que manteve com figuras tutelares da história e da literatura portuguesas.
Licenciado em Engenharia Civil, dedicou-se desde muito novo à carreira de escritor, desenvolvendo, simultaneamente, uma importante intervenção política, pedagógica e cultural. Devido ao seu posicionamento político, livre e denunciador, sofreu perseguições políticas durante a ditadura salazarista. Exilou-se no Brasil1959 e adoptou a nacionalidade brasileira em 1963. Em 1965 seguiu, como professor, para a Universidade do Wisconsin (EUA) e, cinco anos mais tarde, para a Universidade da Califórnia, onde veio a chefiar os departamentos de Espanhol e Português e o de Literatura Comparada, cargos que manteve até 1978 em
Para Jorge de Sena, a poesia era, ela mesma, uma forma de testemunhar e transformar o mundo, uma forma de intervenção, embora entendida de forma diversa do neo-realismo. Num lirismo depurado, levou muitas vezes a cabo uma crítica mordaz e irónica da realidade, que assumia, por vezes, uma forma provocadora, algo dolorosa que se consubstanciava numa visão irónica de certos mitos da tradição cultural portuguesa, satirizando frequentemente aspectos provincianos ou saudosistas do seu país e do seu povo.
Em 11 de Setembro de 2009, os seus restos mortais foram trasladados de Santa Barbara, Califórnia, onde estavam enterrados desde 1978, para o cemitério do Prazeres em Lisboa.
"A PORTUGAL"
Esta é a ditosa pátria minha amada. Não.
Nem é ditosa, porque o não merece.
Nem minha amada, porque é só madrasta.
Nem pátria minha, porque eu não mereço
A pouca sorte de nascido nela.
Nada me prende ou liga a uma baixeza tanta
quanto esse arroto de passadas glórias.
Amigos meus mais caros tenho nela,
saudosamente nela, mas amigos são
por serem meus amigos, e mais nada.
Torpe dejecto de romano império;
babugem de invasões; salsugem porca
de esgoto atlântico; irrisória face
de lama, de cobiça, e de vileza,
de mesquinhez, de fátua ignorância;
terra de escravos, cu pró ar ouvindo
ranger no nevoeiro a nau do Encoberto;
terra de funcionários e de prostitutas,
devotos todos do milagre, castos
nas horas vagas de doença oculta;
terra de heróis a peso de ouro e sangue,
e santos com balcão de secos e molhados
no fundo da virtude; terra triste
à luz do sol calada, arrebicada, pulha,
cheia de afáveis para os estrangeiros
que deixam moedas e transportam pulgas,
oh pulgas lusitanas, pela Europa;
terra de monumentos em que o povo
assina a merda o seu anonimato;
terra-museu em que se vive ainda,
com porcos pela rua, em casas celtiberas;
terra de poetas tão sentimentais
que o cheiro de um sovaco os põe em transe;
terra de pedras esburgadas, secas
como esses sentimentos de oito séculos
de roubos e patrões, barões ou condes;
ó terra de ninguém, ninguém, ninguém:
eu te pertenço.
És cabra, és badalhoca,
és mais que cachorra pelo cio,
és peste e fome e guerra e dor de coração.
Eu te pertenço mas seres minha, não.
Licenciado em Engenharia Civil, dedicou-se desde muito novo à carreira de escritor, desenvolvendo, simultaneamente, uma importante intervenção política, pedagógica e cultural. Devido ao seu posicionamento político, livre e denunciador, sofreu perseguições políticas durante a ditadura salazarista. Exilou-se no Brasil1959 e adoptou a nacionalidade brasileira em 1963. Em 1965 seguiu, como professor, para a Universidade do Wisconsin (EUA) e, cinco anos mais tarde, para a Universidade da Califórnia, onde veio a chefiar os departamentos de Espanhol e Português e o de Literatura Comparada, cargos que manteve até 1978 em
Para Jorge de Sena, a poesia era, ela mesma, uma forma de testemunhar e transformar o mundo, uma forma de intervenção, embora entendida de forma diversa do neo-realismo. Num lirismo depurado, levou muitas vezes a cabo uma crítica mordaz e irónica da realidade, que assumia, por vezes, uma forma provocadora, algo dolorosa que se consubstanciava numa visão irónica de certos mitos da tradição cultural portuguesa, satirizando frequentemente aspectos provincianos ou saudosistas do seu país e do seu povo.
Em 11 de Setembro de 2009, os seus restos mortais foram trasladados de Santa Barbara, Califórnia, onde estavam enterrados desde 1978, para o cemitério do Prazeres em Lisboa.
"A PORTUGAL"
Esta é a ditosa pátria minha amada. Não.
Nem é ditosa, porque o não merece.
Nem minha amada, porque é só madrasta.
Nem pátria minha, porque eu não mereço
A pouca sorte de nascido nela.
Nada me prende ou liga a uma baixeza tanta
quanto esse arroto de passadas glórias.
Amigos meus mais caros tenho nela,
saudosamente nela, mas amigos são
por serem meus amigos, e mais nada.
Torpe dejecto de romano império;
babugem de invasões; salsugem porca
de esgoto atlântico; irrisória face
de lama, de cobiça, e de vileza,
de mesquinhez, de fátua ignorância;
terra de escravos, cu pró ar ouvindo
ranger no nevoeiro a nau do Encoberto;
terra de funcionários e de prostitutas,
devotos todos do milagre, castos
nas horas vagas de doença oculta;
terra de heróis a peso de ouro e sangue,
e santos com balcão de secos e molhados
no fundo da virtude; terra triste
à luz do sol calada, arrebicada, pulha,
cheia de afáveis para os estrangeiros
que deixam moedas e transportam pulgas,
oh pulgas lusitanas, pela Europa;
terra de monumentos em que o povo
assina a merda o seu anonimato;
terra-museu em que se vive ainda,
com porcos pela rua, em casas celtiberas;
terra de poetas tão sentimentais
que o cheiro de um sovaco os põe em transe;
terra de pedras esburgadas, secas
como esses sentimentos de oito séculos
de roubos e patrões, barões ou condes;
ó terra de ninguém, ninguém, ninguém:
eu te pertenço.
És cabra, és badalhoca,
és mais que cachorra pelo cio,
és peste e fome e guerra e dor de coração.
Eu te pertenço mas seres minha, não.
quinta-feira, 22 de abril de 2010
Semana "JORGE DE SENA" ( IV )
Jorge de Sena nasceu em Lisboa em 2 de Novembro de 1919 e morreu em Santa Barbara, Califórnia, a 4 de Junho de 1978. Foi um dos maiores intelectuais portugueses do século XX. A sua obra, uma das mais importantes e significativas da cultura portuguesa no século XX, é também uma das mais multifacetadas: poeta, crítico, ensaísta, ficcionista, dramaturgo, tradutor e professor universitário, deixou também uma vasta epistolografia que manteve com figuras tutelares da história e da literatura portuguesas.
Licenciado em Engenharia Civil, dedicou-se desde muito novo à carreira de escritor, desenvolvendo, simultaneamente, uma importante intervenção política, pedagógica e cultural. Devido ao seu posicionamento político, livre e denunciador, sofreu perseguições políticas durante a ditadura salazarista. Exilou-se no Brasil1959 e adoptou a nacionalidade brasileira em 1963. Em 1965 seguiu, como professor, para a Universidade do Wisconsin (EUA) e, cinco anos mais tarde, para a Universidade da Califórnia, onde veio a chefiar os departamentos de Espanhol e Português e o de Literatura Comparada, cargos que manteve até 1978 em
Para Jorge de Sena, a poesia era, ela mesma, uma forma de testemunhar e transformar o mundo, uma forma de intervenção, embora entendida de forma diversa do neo-realismo. Num lirismo depurado, levou muitas vezes a cabo uma crítica mordaz e irónica da realidade, que assumia, por vezes, uma forma provocadora, algo dolorosa que se consubstanciava numa visão irónica de certos mitos da tradição cultural portuguesa, satirizando frequentemente aspectos provincianos ou saudosistas do seu país e do seu povo.
Em 11 de Setembro de 2009, os seus restos mortais foram trasladados de Santa Barbara, Califórnia, onde estavam enterrados desde 1978, para o cemitério do Prazeres em Lisboa.
“BEIJO”
Um beijo em lábios é que se demora
e tremem no abrir-se a dentes línguas
tão penetrantes quanto línguas podem.
Mais beijo é mais. É boca aberta hiante
para de encher-se ao que se mova nela.
É dentes se apertando delicados.
É língua que na boca se agitando
irá de um corpo inteiro descobrir o gosto
e sobretudo o que se oculta em sombras
e nos recantos em cabelos vive.
É beijo tudo o que de lábios seja
quanto de lábios se deseja.
Um beijo em lábios é que se demora
e tremem no abrir-se a dentes línguas
tão penetrantes quanto línguas podem.
Mais beijo é mais. É boca aberta hiante
para de encher-se ao que se mova nela.
É dentes se apertando delicados.
É língua que na boca se agitando
irá de um corpo inteiro descobrir o gosto
e sobretudo o que se oculta em sombras
e nos recantos em cabelos vive.
É beijo tudo o que de lábios seja
quanto de lábios se deseja.
quarta-feira, 21 de abril de 2010
Semana "JORGE DE SENA" ( III )
Jorge de Sena nasceu em Lisboa em 2 de Novembro de 1919 e morreu em Santa Barbara, Califórnia, a 4 de Junho de 1978. Foi um dos maiores intelectuais portugueses do século XX. A sua obra, uma das mais importantes e significativas da cultura portuguesa no século XX, é também uma das mais multifacetadas: poeta, crítico, ensaísta, ficcionista, dramaturgo, tradutor e professor universitário, deixou também uma vasta epistolografia que manteve com figuras tutelares da história e da literatura portuguesas.
Licenciado em Engenharia Civil, dedicou-se desde muito novo à carreira de escritor, desenvolvendo, simultaneamente, uma importante intervenção política, pedagógica e cultural. Devido ao seu posicionamento político, livre e denunciador, sofreu perseguições políticas durante a ditadura salazarista. Exilou-se no Brasil1959 e adoptou a nacionalidade brasileira em 1963. Em 1965 seguiu, como professor, para a Universidade do Wisconsin (EUA) e, cinco anos mais tarde, para a Universidade da Califórnia, onde veio a chefiar os departamentos de Espanhol e Português e o de Literatura Comparada, cargos que manteve até 1978 em
Para Jorge de Sena, a poesia era, ela mesma, uma forma de testemunhar e transformar o mundo, uma forma de intervenção, embora entendida de forma diversa do neo-realismo. Num lirismo depurado, levou muitas vezes a cabo uma crítica mordaz e irónica da realidade, que assumia, por vezes, uma forma provocadora, algo dolorosa que se consubstanciava numa visão irónica de certos mitos da tradição cultural portuguesa, satirizando frequentemente aspectos provincianos ou saudosistas do seu país e do seu povo.
Em 11 de Setembro de 2009, os seus restos mortais foram trasladados de Santa Barbara, Califórnia, onde estavam enterrados desde 1978, para o cemitério do Prazeres em Lisboa.
“BUCÓLICA E NÃO”
Há sempre poetas para fazer versos à terra,
às plantas, animais, num cheiro de bucólico,
mistura de verduras podres, resinas escorrendo,
flores perfumadas, terra humedecida, e o adocicado
e acre também estrume: é sexo o que cheiram?
Amor o que respiram? As ervas que no vento
se abaixam e se entesam, e o arvoredo erecto,
Há sempre poetas para fazer versos à terra,
às plantas, animais, num cheiro de bucólico,
mistura de verduras podres, resinas escorrendo,
flores perfumadas, terra humedecida, e o adocicado
e acre também estrume: é sexo o que cheiram?
Amor o que respiram? As ervas que no vento
se abaixam e se entesam, e o arvoredo erecto,
de ramos balançando mas retesos, é de si mesmos sem baixar os olhos
ao longo do seu corpo e sem tocar-se
com as mãos - que lhes recordam?
E aqueles nós peludos de musguentos
em troncos. Ou no chão buracos de formigas,
e de si mesmos, fêmeas, que lhes lembram?
É orvalho em flores ou folhas ou nos troncos,
rios e regatos murmurantes - que serão?
Acaso podem ser opacos e leitosos,
Jorrando intermitentes num agudo jacto?
que terra o amor mostra que não seja
o amor que não se abriu ou não saltou,
o amor que não foi feito ou não se deu?
ao longo do seu corpo e sem tocar-se
com as mãos - que lhes recordam?
E aqueles nós peludos de musguentos
em troncos. Ou no chão buracos de formigas,
e de si mesmos, fêmeas, que lhes lembram?
É orvalho em flores ou folhas ou nos troncos,
rios e regatos murmurantes - que serão?
Acaso podem ser opacos e leitosos,
Jorrando intermitentes num agudo jacto?
que terra o amor mostra que não seja
o amor que não se abriu ou não saltou,
o amor que não foi feito ou não se deu?
terça-feira, 20 de abril de 2010
Semana "JORGE DE SENA" ( II )
Jorge de Sena nasceu em Lisboa em 2 de Novembro de 1919 e morreu em Santa Barbara, Califórnia, a 4 de Junho de 1978. Foi um dos maiores intelectuais portugueses do século XX. A sua obra, uma das mais importantes e significativas da cultura portuguesa no século XX, é também uma das mais multifacetadas: poeta, crítico, ensaísta, ficcionista, dramaturgo, tradutor e professor universitário, deixou também uma vasta epistolografia que manteve com figuras tutelares da história e da literatura portuguesas.
Licenciado em Engenharia Civil, dedicou-se desde muito novo à carreira de escritor, desenvolvendo, simultaneamente, uma importante intervenção política, pedagógica e cultural. Devido ao seu posicionamento político, livre e denunciador, sofreu perseguições políticas durante a ditadura salazarista. Exilou-se no Brasil1959 e adoptou a nacionalidade brasileira em 1963. Em 1965 seguiu, como professor, para a Universidade do Wisconsin (EUA) e, cinco anos mais tarde, para a Universidade da Califórnia, onde veio a chefiar os departamentos de Espanhol e Português e o de Literatura Comparada, cargos que manteve até 1978 em
Para Jorge de Sena, a poesia era, ela mesma, uma forma de testemunhar e transformar o mundo, uma forma de intervenção, embora entendida de forma diversa do neo-realismo. Num lirismo depurado, levou muitas vezes a cabo uma crítica mordaz e irónica da realidade, que assumia, por vezes, uma forma provocadora, algo dolorosa que se consubstanciava numa visão irónica de certos mitos da tradição cultural portuguesa, satirizando frequentemente aspectos provincianos ou saudosistas do seu país e do seu povo.
Em 11 de Setembro de 2009, os seus restos mortais foram trasladados de Santa Barbara, Califórnia, onde estavam enterrados desde 1978, para o cemitério do Prazeres em Lisboa.
“GÉNESIS”
De mim não falo mais: não quero nada.
De Deus não falo: não tem outro abrigo.
Não falarei também do mundo antigo,
pois nasce e morre em cada madrugada.
De mim não falo mais: não quero nada.
De Deus não falo: não tem outro abrigo.
Não falarei também do mundo antigo,
pois nasce e morre em cada madrugada.
Nem de existir, que é a vida atraiçoada,
para sentir o tempo andar comigo;
nem de viver, que é liberdade errada,
e foge todo o Amor quando o persigo.
Por mais justiça... - Ai quantos que eram novos
em vão a esperaram porque nunca a viram!
E a eternidade...Ó transfusão dos povos!
Não há verdade: O mundo não a esconde.
Tudo se vê: só se não sabe aonde.
Mortais ou imortais, todos mentiram.
segunda-feira, 19 de abril de 2010
Semana "JORGE DE SENA" ( I )
Jorge de Sena nasceu em Lisboa em 2 de Novembro de 1919 e morreu em Santa Barbara, Califórnia, a 4 de Junho de 1978. Foi um dos maiores intelectuais portugueses do século XX. A sua obra, uma das mais importantes e significativas da cultura portuguesa no século XX, é também uma das mais multifacetadas: poeta, crítico, ensaísta, ficcionista, dramaturgo, tradutor e professor universitário, deixou também uma vasta epistolografia que manteve com figuras tutelares da história e da literatura portuguesas.
Licenciado em Engenharia Civil, dedicou-se desde muito novo à carreira de escritor, desenvolvendo, simultaneamente, uma importante intervenção política, pedagógica e cultural. Devido ao seu posicionamento político, livre e denunciador, sofreu perseguições políticas durante a ditadura salazarista. Exilou-se no Brasil1959 e adoptou a nacionalidade brasileira em 1963. Em 1965 seguiu, como professor, para a Universidade do Wisconsin (EUA) e, cinco anos mais tarde, para a Universidade da Califórnia, onde veio a chefiar os departamentos de Espanhol e Português e o de Literatura Comparada, cargos que manteve até 1978 em
Para Jorge de Sena, a poesia era, ela mesma, uma forma de testemunhar e transformar o mundo, uma forma de intervenção, embora entendida de forma diversa do neo-realismo. Num lirismo depurado, levou muitas vezes a cabo uma crítica mordaz e irónica da realidade, que assumia, por vezes, uma forma provocadora, algo dolorosa que se consubstanciava numa visão irónica de certos mitos da tradição cultural portuguesa, satirizando frequentemente aspectos provincianos ou saudosistas do seu país e do seu povo.
Em 11 de Setembro de 2009, os seus restos mortais foram trasladados de Santa Barbara, Califórnia, onde estavam enterrados desde 1978, para o cemitério do Prazeres em Lisboa.
«ESTÃO PODRES AS PALAVRAS...»
Estão podres as palavras - de passarem
por sórdidas mentiras de canalhas
que as usam ao revés como o carácter deles.
E podres de sonâmbulos os povos
ante a maldade à solta de que vivem
a paz quotidiana da injustiça.
Usá-las puras - como serão puras,
se caem no silêncio em que os mais puros
não sabem já onde a limpeza acaba
e a corrupção começa? Como serão puras
se logo a infâmia as cobre de seu cuspo?
Estão podres: e com elas apodrece a mundo
e se dissolve em lama a criação do homem
que só persiste em todos livremente
onde as palavras fiquem como torres
erguidas sexo de homens entre o céu e a terra.
Estão podres as palavras - de passarem
por sórdidas mentiras de canalhas
que as usam ao revés como o carácter deles.
E podres de sonâmbulos os povos
ante a maldade à solta de que vivem
a paz quotidiana da injustiça.
Usá-las puras - como serão puras,
se caem no silêncio em que os mais puros
não sabem já onde a limpeza acaba
e a corrupção começa? Como serão puras
se logo a infâmia as cobre de seu cuspo?
Estão podres: e com elas apodrece a mundo
e se dissolve em lama a criação do homem
que só persiste em todos livremente
onde as palavras fiquem como torres
erguidas sexo de homens entre o céu e a terra.
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