domingo, 28 de fevereiro de 2010

Semana "EUGÉNIO DE ANDRADE" (VII)

Eugénio de Andrade, pseudónimo escolhido pelo poeta que, nasceu em Póvoa da Atalaia, concelho de Fundão, em 19 de Janeiro de 1923. Viveu na cidade do Porto a maior parte da sua vida, desempenhado as funções de funcionário dos Serviços Médico-Sociais. A cidade concedeu-lhe o título de cidadão honorário e nela foi criada uma Fundação com o seu nome. Aí morreu em 13 de Junho de 2005. É, sem sombra de dúvida, um dos maiores poetas contemporâneos da língua portuguesa. Numa linguagem de grande sobriedade, mas extraordinariamente elaborada, atinge uma grande plenitude poética exprimindo sensualidade, dor, afectos e factos do viver quotidiano, com um depurado sentido do ritmo, e numa inteligente utilização de imagens e símbolos que traduzem uma emoção lúcida perante a realidade.


 
SURDO, SUBTERRÂNEO RIO
 
Surdo, subterrâneo rio de palavras
me corre lento pelo corpo todo;
amor sem margens onde a lua rompe
e nimba de luar o próprio lodo.
 
Correr do tempo ou só rumor do frio
onde o amor se perde e a razão de amar
--- surdo, subterrâneo, impiedoso rio,
para onde vais, sem eu poder ficar?
 
                            Eugénio de Andrade

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Semana "EUGÉNIO DE ANDRADE" (VI )

Eugénio de Andrade, pseudónimo escolhido pelo poeta que, nasceu em Póvoa da Atalaia, concelho de Fundão, em 19 de Janeiro de 1923. Viveu na cidade do Porto a maior parte da sua vida, desempenhado as funções de funcionário dos Serviços Médico-Sociais. A cidade concedeu-lhe o título de cidadão honorário e nela foi criada uma Fundação com o seu nome. Aí morreu em 13 de Junho de 2005. É, sem sombra de dúvida, um dos maiores poetas contemporâneos da língua portuguesa. Numa linguagem de grande sobriedade, mas extraordinariamente elaborada, atinge uma grande plenitude poética exprimindo sensualidade, dor, afectos e factos do viver quotidiano, com um depurado sentido do ritmo, e numa inteligente utilização de imagens e símbolos que traduzem uma emoção lúcida perante a realidade.



 
AS PALAVRAS
 
São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
 
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
 
Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
 
Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?
 
                   Eugénio de Andrade

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Semana "EUGÉNIO DE ANDRADE" ( V )


Eugénio de Andrade, pseudónimo escolhido pelo poeta que, nasceu em Póvoa da Atalaia, concelho de Fundão, em 19 de Janeiro de 1923. Viveu na cidade do Porto a maior parte da sua vida, desempenhado as funções de funcionário dos Serviços Médico-Sociais. A cidade concedeu-lhe o título de cidadão honorário e nela foi criada uma Fundação com o seu nome. Aí morreu em 13 de Junho de 2005. É, sem sombra de dúvida, um dos maiores poetas contemporâneos da língua portuguesa. Numa linguagem de grande sobriedade, mas extraordinariamente elaborada, atinge uma grande plenitude poética exprimindo sensualidade, dor, afectos e factos do viver quotidiano, com um depurado sentido do ritmo, e numa inteligente utilização de imagens e símbolos que traduzem uma emoção lúcida perante a realidade.


 
OS AMANTES SEM DINHEIRO
 
Tinham o rosto aberto a quem passava.
Tinham lendas e mitos
e frio no coração.
Tinham jardins onde a lua passeava
de mãos dadas com  a água
e um anjo de pedra por irmão.
 
Tinham como toda a gente
o milagre de cada dia
escorrendo pelos telhados;
e olhos de oiro
onde ardiam
os sonhos mais tresmalhados.
 
Tinham fome e sede como os bichos,
e silêncio
à roda dos seus passos.
Mas a cada gesto que faziam
um pássaro nascia dos seus dedos
e deslumbrado penetrava nos espaços.
 
              Eugénio de Andrade





quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Semana "EUGÉNIO DE ANDRADE" ( IV)


Eugénio de Andrade, pseudónimo escolhido pelo poeta que, nasceu em Póvoa da Atalaia, concelho de Fundão, em 19 de Janeiro de 1923. Viveu na cidade do Porto a maior parte da sua vida, desempenhado as funções de funcionário dos Serviços Médico-Sociais. A cidade concedeu-lhe o título de cidadão honorário e nela foi criada uma Fundação com o seu nome. Aí morreu em 13 de Junho de 2005. É, sem sombra de dúvida, um dos maiores poetas contemporâneos da língua portuguesa. Numa linguagem de grande sobriedade, mas extraordinariamente elaborada, atinge uma grande plenitude poética exprimindo sensualidade, dor, afectos e factos do viver quotidiano, com um depurado sentido do ritmo, e numa inteligente utilização de imagens e símbolos que traduzem uma emoção lúcida perante a realidade.
 
URGENTEMENTE
 
É urgente o Amor,
É urgente um barco no mar.
 
É urgente destruir certas palavras
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.
 
É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
 
Cai o silêncio nos ombros,
e a luz impura até doer.
É urgente o amor, 
É urgente permanecer.
 
                     Eugénio de Andrade


quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Semana "EUGÉNIO DE ANDRADE" (III)

Eugénio de Andrade, pseudónimo escolhido pelo poeta que, nasceu em Póvoa da Atalaia, concelho de Fundão, em 19 de Janeiro de 1923. Viveu na cidade do Porto a maior parte da sua vida, desempenhado as funções de funcionário dos Serviços Médico-Sociais. A cidade concedeu-lhe o título de cidadão honorário e nela foi criada uma Fundação com o seu nome. Aí morreu em 13 de Junho de 2005. É, sem sombra de dúvida, um dos maiores poetas contemporâneos da língua portuguesa. Numa linguagem de grande sobriedade, mas extraordinariamente elaborada, atinge uma grande plenitude poética exprimindo sensualidade, dor, afectos e factos do viver quotidiano, com um depurado sentido do ritmo, e numa inteligente utilização de imagens e símbolos que traduzem uma emoção lúcida perante a realidade.

RESPIRO O TEU CORPO
 
Respiro o teu corpo:
sabe a lua-de-água
ao amanhecer,
sabe a cal molhada,
sabe a luz mordida,
sabe a brisa nua,
ao sangue dos rios,
sabe a rosa louca,
ao cair da noite
sabe a pedra amarga,
sabe à minha boca.
 
            Eugénio de Andrade
 
 

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Semana "EUGÉNIO DE ANDRADE" ( II )

Eugénio de Andrade, pseudónimo escolhido pelo poeta que, nasceu em Póvoa da Atalaia, concelho de Fundão, em 19 de Janeiro de 1923. Viveu na cidade do Porto a maior parte da sua vida, desempenhado as funções de funcionário dos Serviços Médico-Sociais. A cidade concedeu-lhe o título de cidadão honorário e nela foi criada uma Fundação com o seu nome. Aí morreu em 13 de Junho de 2005. É, sem sombra de dúvida, um dos maiores poetas contemporâneos da língua portuguesa. Numa linguagem de grande sobriedade, mas extraordinariamente elaborada, atinge uma grande plenitude poética exprimindo sensualidade, dor, afectos e factos do viver quotidiano, com um depurado sentido do ritmo, e numa inteligente utilização de imagens e símbolos que traduzem uma emoção lúcida perante a realidade.


POEMA XVIII
 
Impetuoso, o teu corpo é como um rio
onde o meu se perde.
Se escuto, só oiço o teu rumor.
De mim, nem o sinal mais breve.
 
Imagem dos gestos que tracei,
irrompe puro e completo.
Por isso, rio foi o nome que lhe dei.
E nele o céu fica mais perto.
 
                       Eugénio de Andrade
 

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Semana "EUGÉNIO DE ANDRADE" ( I )

Eugénio de Andrade, pseudónimo escolhido pelo poeta que, nasceu em Póvoa da Atalaia, concelho de Fundão, em 19 de Janeiro de 1923. Viveu na cidade do Porto a maior parte da sua vida, desempenhado as funções de funcionário dos Serviços Médico-Sociais. A cidade concedeu-lhe o título de cidadão honorário e nela foi criada uma Fundação com o seu nome. Aí morreu em 13 de Junho de 2005. É, sem sombra de dúvida, um dos maiores poetas contemporâneos da língua portuguesa. Numa linguagem de grande sobriedade, mas extraordinariamente elaborada, atinge uma grande plenitude poética exprimindo sensualidade, dor, afectos e factos do viver quotidiano, com um depurado sentido do ritmo, e numa inteligente utilização de imagens e símbolos que traduzem uma emoção lúcida perante a realidade. 
 

AS AMORAS
 
O meu país sabe as amoras bravas
no verão.      
Ninguém ignora que não é grande,
nem inteligente, nem elegante o meu país,
mas tem esta voz doce
de quem acorda cedo para cantar nas silvas.
Raramente falei do meu país, talvez
nem goste dele, mas quando um amigo
me traz amoras bravas
os seus muros parecem-me brancos,
reparo que também no meu país o céu é azul.

 
                   Eugénio de Andrade ("O Outro Nome da Terra")

domingo, 21 de fevereiro de 2010

A VIDA

A vida, as suas perdas e os seus ganhos, a sua
mais que perfeita imprecisão, os dias que contam
quando não se espera, o atraso na preocupação
dos teus olhos, e as nuvens que caíram
mais depressa, nessa tarde, o círculo das relações
a abrir-se para dentro e para fora
dos sentidos que nada têm a ver com círculos,
quadrados, rectângulos, nas linhas
rectas e paralelas que se cruzam com as
linhas da mão;
a vida que traz consigo as emoções e os acasos,
a luz inexorável das profecias que nunca se realizaram
e dos encontros que sempre se soube que
se iriam dar, mesmo que nunca se soubesse com
quem e onde, nem quando; essa vida que leva consigo
o rosto sonhado numa hesitação de madrugada,
sob a luz indecisa que apenas mostra
as paredes nuas, de manchas húmidas
no gesso da memória;
a vida feita dos seus
corpos obscuros e das suas palavras
próximas.

Nuno Judice, in "Teoria Geral do Sentimento"

Nuno Júdice, escritor, poeta e ensaísta português, natural de Mexilhoeira Grande, Portimão. Estudou Filologia Românica na Universidade de Lisboa, vindo depois a ser professor do ensino secundário. Actualmente, é professor da Universidade Nova de Lisboa, onde se doutorou em 1989 com uma tese sobre Literatura Medieval. Publicou o primeiro livro de poesia em 1972: A Noção do Poema. Seguiram-se Crítica Doméstica dos Paralelepípedo (1973), O Mecanismo Romântico da Fragmentação (1975), O Voo de Igitur Num Copo de Dados (1981), A Partilha dos Mitos (1982), Lira de Líquen (1985, Prémio Pen Club Português), A Condescendência do Ser (1988), Enumeração de Sombras (1989), As Regras da Perspectiva (1990), Um Canto na Espessura do Tempo (1992), Meditação sobre Ruínas (1994, Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores, 1995), O Movimento do Mundo (1996), A Fonte da Vida (1997), Raptos/Enlévements/Kidnappings (1998, poemas escolhidos, com ilustrações de Jorge Martins), Teoria Geral do Sentimento (1999), Linhas de Água (2000) e A Árvore dos Milagres (2000).

Em 2001, publicou Pedro, Lembrando Inês e Cartografia de Emoções, um livro de poesia. No mesmo ano, Rimas e Contas, integrada na colectânea Poesia Reunida 1976/2000, foi reconhecida com o Prémio Crítica 2000, pelo Centro Português da Associação Internacional dos Críticos Literários (AICL)

Recebeu os mais importantes prémios de poesia portugueses: Pen Clube (em 1985), D. Dinis da Fundação Casa de Mateus (1990) e da Associação Portuguesa de Escritores (1994), este último com o livro Meditação sobre Ruínas que foi finalista do Prémio Europeu de Literatura, Aristeion. Nuno Júdice recebeu ainda o Prémio de Poesia Pablo Neruda e o Prémio da Fundação da Casa de Mateus.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

SONETO DE AMOR

Dos amantes dichosos hacan un solo pan,
una sola gota de luna en la hierba,
dejan andando dos sombras que se reúnen,
dejan un solo vacío en una cama.

De todas las verdades escogieron el día:
no se ataron com hilos sino con un aroma,
y no despedazaron la paz ni las palabras.
La dicha es una torre transparente.

El aire, el vino van con los amantes,
la noche les regala sus pétalos dichosos,
tienen derecho a todos los claveles.

Dos amantes dichosos no tienen fin ni muerte,
nacen y mueren muchas veces mientras viven,
tienen la eternidad de la naturaleza.

Pablo Neruda, pseudónimo de um poeta que, de seu nome de cidadão, se chamava Ricardo Eliézer Neftalí Ryes Basoalto, que nasceu em Parral no dia 12 de Julho de 1904 e morreu em Santiago do Chile no dia 23 de Setembro de 1973. Começou por ser professor, serviu como cônsul na Birmânia, no Ceilão, em Singapura, em Barcelona, em Madrid onde estava quando se desencadeou a Guerra Civil, passando depois desta a desempenhar as funções de cônsul para emigração espanhola, com residência em Paris.
Desde há muitos anos que era militante do Partido Comunista Chileno. Quando este foi ilegalizado, pela ditadura militar que derrubou o governo de Allende, exilou-se tendo passado temporadas em países da Europa Ocidental e na Rússia e outros países de Leste.

Entre muitas distinções, recebeu, em 1953, o prémio Lenine da Paz e, em 1971, o Prémio Nobel da Literatura. Deixou uma extensa obra poética que, partindo do pós-modernismo, passou pelo vanguardismo e pela poesia de temática social. Também publicou uma peça de teatro "Fulgor y Muerte de Joaquín Murieta" (1967) e "Confesso que vivi", obra de carácter autobiográfico (1974).

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Se houvesse degraus na terra...



Se houvesse degraus na terra e tivesse anéis o céu,
eu subiria os degraus e aos anéis me prenderia.
No céu podia tecer uma nuvem toda negra.
E que nevasse, e chovesse, e houvesse luz nas montanhas,
e à porta do meu amor o ouro se acumulasse.

Beijei uma boca vermelha e a minha boca tingiu-se,
levei um lenço à boca e o lenço fez-se vermelho.
Fui lavá-lo na ribeira e a água tornou-se rubra,
e a fímbria do mar, e o meio do mar,
e vermelhas se volveram as asas da águia
que desceu para beber,
e metade do sol e a lua inteira se tornaram vermelhas.

Maldito seja quem atirou uma maçã para o outro mundo.
Uma maçã, uma mantilha de ouro e uma espada de prata.
Correram os rapazes à procura da espada,
e as raparigas correram à procura da mantilha,
e correram, correram as crianças à procura da maçã.


Herberto Helder, Luís Bernardes de Oliveira. Este que alguns consideram entre os maiores poetas portugueses da actualidade, é de ascendência judaica, natural da cidade do Funchal onde nasceu em 23 de Novembro de 1930. Frequentou a Faculdade de Letras em Coimbra. Depois, já em Lisboa, foi jornalista, apresentador de programas radiofónicos e tradutor. Viajou por vários países da Europa, trabalhando em coisas que nada terão a ver com a literatura. Sempre recusou prémios, incluindo o Prémio Pessoa que lhe foi atribuído em 1994. Algo misantropo, nunca concedeu entrevistas.

A sua poesia liga-se a um surrealismo algo tardio, evocando um universo de mistério algo místico e edipiano. "Passos em volta" é provavelmente a sua obra de ficção mais conhecida. Em "Poesia Toda", sua antologia poética pessoal, que passou a intitular "Ofício Cantante", tem vindo a fazer uma depuração de poemas de uma para outra das edições.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

RONDEL DO ALENTEJO

Em minarete
mate
bate
leve
verde neve
minuete
de luar.

Meia-noite
do Segredo
no penedo
duma noite
de luar.

Olhos caros
de Morgada
enfeitada
com preparos
de luar.

Rompem fogo
pandeiretas
morenitas
bailam tetas
e bonitas,
bailam chitas
e jaquetas,
são as fitas
desafogo
de luar.

Voa o xaile
andorinha
pelo baile
e a vida doentinha
e a ermida
ao luar.

Laçarote
escarlate
de cocote
alegria
de Maria
la-ri-rate
em folia
de luar.

Giram pés
giram passos
girassóis
e os bonés,
e os braços
destes dois
giram laços
ao luar.

O colete
desta Virgem
endoidece
como o S
do foguete
em vertigem
de luar.

Em minarete
mate
bate
leve
verde neve
minuete
de luar.


(Escrito em 1913. Publicado in Contemporânea, Junho de 1922)

José Sobral de Almada Negreiros Nasceu na roça Saudade, ilha de S. Tomé, em 7 de Abril de 1893 e morreu em Lisboa no dia 15 de Junho de 1970. Personalidade multifacetada, quase sempre genial, mesmo quando resolve apenas divertir e, sobretudo, divertir-se como neste poema-cantilena, onde se recria em sonoridades e hábeis jogos de imagens. De qualquer modo - poeta, pintor, visionário, polémico, provocador, panfletário ou romancista - uma das mais curiosas personalidades da cultura portuguesa no século XX e um dos mais seguros e decisivos construtores do modernismo em Portugal.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

ENCRUCIJADA

Viento de Este:
un farol
y el puñal
en el corazón.
La calle
tiene un temblor
de cuerda
en tensión,
un temblor
de enorme moscardón.
por todas partes
yo
veo el puñal
en el corazón.


Frederico García Lorca , nascido em 5 de Junho de 1892, em Fuentevaqueros, Granada e barbaramente assassinado pelos franquistas em Viznar, Granada, em 19 de Agosto de 1936. É considerado o maior poeta da chamada geração de 27. Atingiu também elevado nível como dramaturgo. Contudo, é tal a intensidade poética do seu teatro, que não podemos criar uma separação nítida entre as duas vertentes da sua obra. Mergulhando profundamente as raízes da sua poesia na canção tradicional e no folclore andaluz, revestiu-a de um tom triste e melancólico de que foi emergindo um simbolismo e uma perfeição formal que o fizeram aproximar do surrealismo e o colocaram justamente na vanguarda da poesia do seu tempo. Assumiu sempre posições próximas das ideias de esquerda, mas nunca militou em qualquer partido político. Foi uma das primeiras vitimas da Guerra Civil de Espanha.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

ALENTEJO

A luz que te ilumina,
Terra da cor dos olhos de quem olha!
A paz que se advinha
Na tua solidão
Que nenhuma mesquinha
Condição
Pode compreender e povoar!
O mistério da tua imensidão
Onde o tempo caminha
Sem chegar!...

(Sousel, 20 de Outubro de 1974)


Miguel Torga é o pseudónimo adoptado pelo médico que, de seu verdadeiro nome que estava numa janela do seu consultório na Praça da Portagem na cidade de Coimbra, onde exercia a sua actividade clínica, se chamava Adolfo Correia da Rocha.
Nasceu a 12 de Agosto de 1907 em São Martinho da Anta, Trás-os-Montes. Morreu em 17 de Janeiro de 1995.
Tantos foram os prémios que recebeu que seria exagero enumerá-los. Basta que se diga o que todos quase sabem: Foi um dos maiores poetas portugueses contemporâneos. A sua obra está traduzida em todas as línguas e tem servido de tema a uma imensidão de textos de análise crítica e trabalhos académicos.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Melodia I

Neste momento
um pássaro qualquer
canta, explica as flores
perto da margem do rio.

Nunca ouvi esse pássaro cantar
nem sei onde o rio corre...

Mas todas as noites no meu quarto
tento aprender de cor
essa melodia que não ouço
- sentindo o coração pesado
como um pássaro morto.

Um belíssimo poema, uma verdadeira melodia de palavras, escritas em 1932 pelo grande poeta, hoje injustamente muito esquecido, que foi José Gomes Ferreira, que nasceu no Porto em 9 de Julho de 1900 e morreu em Lisboa em 8 de Fevereiro de 1985. A sua importância literária não se resume às obras que publicou em prosa e em verso. O significativo título duma delas, Poeta Militante, publicada em 1977-1978, indicia outro campo da sua importante acção pois foi sempre grande o seu contributo cívico em prol da liberdade e da democracia.Como poeta antecipou em Portugal movimentos como o surrealismo, o neo-realismo e o existencialismo. Foi o poeta da solidão numa Terra cercada pelo infinitude dum universo silencioso e indiferente ao destino do homem.