sábado, 18 de dezembro de 2010

Ó Noite, Coalhada nas Formas de um Corpo de Mulher


Ó noite, coalhada nas formas de um corpo de mulher
vago e belo e voluptuoso,
num bailado erótico, com o cenário dos astros, mudos
                                                                                   [e quedos.
Estrelas que as suas mãos afagam e a boca repele,
deixai que os caminhos da noite,
cegos e rectos como o destino,
suspensos como uma nuvem,
sejam os caminhos dos poetas
que lhes decoraram o nome.
Ó noite, coalhada nas formas de um corpo de mulher!
Esconde a vida no seio de uma estrela
e fá-la pairar, assim mágica e irreal,
para que a olhemos como uma lua sonâmbula.

Fernando Namora, in "Mar de Sargaços"

Fernando  Namora nasceu em Condeixa-a-Nova, no distrito de Coimbra,  em 15 de Abril de 1919. Licenciou-se em Medicina na Universidade de Coimbra. Exerceu como médico na Beira Baixa, no Alentejo e na sua terra natal, Condeixa. Essa experiência clínica e humana permitiu-lhe viver múltiplas experiências que aparecem reflectidas  na sua obra literária, como em "Retalhos da Vida de um Médico" que traduz a sua experiência de médico rural, enquanto em "Casa da Malta" retrata a vida dos ganhões alentejanos. Além da ficção e da poesia, cultivou uma espécie de crónica romanceada, em que se fundem a reportagem e o ensaio. Algumas das suas obras foram adaptados para o cinema e também para a televisão. Morreu em Lisboa em 31 de Janeiro de 1989.

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