Mário de Sá-Carneiro, nasceu em Lisboa a 26 de Maio de 1890.
A Mãe morreu quando ele tinha apenas dois anos e, dois anos depois, quando ele tinha apenas quatro anos de idade, o pai iniciou uma vida de sucessivas viagens, deixando-o com os avós na Quinta da Vitória, em Camarate. Aos nove anos morreu a avó. No ano seguinte, começou a frequentar o Liceu do Carmo, tendo sido transferido em 1909 para o Liceu Camões. Começou a escrever poesia no tempo em que era aluno liceal. Entretanto, com o pai que regressara dos Estados Unidos, viajou até Paris, Suíça e Itália. Em 1911, entrou no curso de Direito da Universidade de Coimbra mas nem chegou a terminar o primeiro ano. Por essa altura terá iniciado a sua amizade com Fernando Pessoa. Seguiu depois para Paris, para estudar Direito na Sorbonne. Mas dedicou-se à vida boémia e ao convívio com os meios intelectuais e artísticos de Paris. Numa passagem por Lisboa, com Fernando Pessoa e outros amigos, fundou a revista “Orpheu” cujo primeiro número saiu em Abril de 1915. Logo depois regressou a Paris, onde se suicidou com vários frascos de estricnina em 26 de Abril de 1916. O sentido trágico da existência, a perda de uma grandeza quimérica perdida mas que sentira ao seu alcance e o drama da solidão, são os temas que atravessam a sua obra.
ÁLCOOL Guilhotinas, pelouros e castelosResvalam longemente em procissão;Volteiam-me crepúsculos amarelos,Mordidos, doentios de roxidão. Batem asas de auréola aos meus ouvidos,Grifam-me sons de cor e de perfumes,Ferem-me os olhos turbilhões de gumes,Descem-me a alma, sangram-me os sentidos. Respiro-me no ar que ao longe vem,Da luz que me ilumina participo;Quero reunir-me, e todo me dissipo ---Luto, estrebucho... Em vão! Silvo pra além... Corro em volta de mim sem me encontrar...Tudo oscila e se abate como espuma...Um disco de oiro surge a voltear...Fecho os meus olhos com pavor da bruma... Que droga foi a que me inoculei?Ópio de inferno em vez de paraíso? ...Que sortilégio a mim próprio lancei?Como é que em dor genial eu me eternizo? Nem ópio nem morfina. O que me ardeu,Foi álcool mais raro e penetrante:É só de mim que ando delirante …Manhã tão forte que me anoiteceu.
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