Nasceu a 6 de Novembro de 1919 na cidade do Porto e faleceu a 2 de Julho de 2004, esta poetisa que, durante cerca de sessenta anos, marcou de forma tão notável a literatura portuguesa. Poetisa se intitulou sempre, ao contrário de outras que se apelidaram de poetas, assim no masculino. Ela quis sempre sublinhar que a sua poesia emergia da sua matricial condição de mulher.
Cinco anos depois, a sua voz, como profeticamente anunciara, ressoa através dos versos que deixou:
O poema me levará no tempo
Quando eu já não for eu
E passarei sozinha
Entre as mãos de quem me lê
O poema alguém o dirá
Às searas
Sua passagem se confundirá
Como rumor do mar com o passar do vento
O poema habitará
O espaço mais concreto e mais atento
No ar claro nas tardes transparentes
Suas sílabas redondas
(Ó antigas ó longas
Eternas tardes lisas)
Mesmo que eu morra o poema encontrará
Uma praia onde quebrar as suas ondas
E entre quatro paredes densas
De funda e devorada solidão
Alguém seu próprio ser confundirá
Com o poema no tempo
In "Livro Sexto"