quinta-feira, 11 de junho de 2009

A ingratidão prepotente do presente

Se serviste a pátria que vos foi ingrata, vós fizestes o que devíeis, ela o que costuma
Padre António Vieira (1608-1697)
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Esta habitual ingratidão é mais dos homens que detêm o poder de decisão do que propriamente das pátrias. Porque, enquanto os poderosos actuam apenas no presente, a pátria, porque intemporal, acaba por reconhecer o mérito. Muitas vezes é apenas uma questão de tempo. Desvanecidas as arrogâncias dos prepotentes, a História baseia a sua avaliação na durabilidade e projecção que os feitos têm no futuro. Os que agem movidos apenas pela intenção de tornarem o mundo melhor e mais habitável, acabam por serem reconhecidos pelo mérito dos seus actos. Pena que, em grande parte dos casos, não puderam ter em vida esse reconhecimento.
Mas há uma certa justiça histórica que prevalece.
Tomemos como exemplo Camões: em vida tão incompreendido e tão desprezado. Mas, que juízo faz da sua obra e pessoa a História e que juízo faz do arrogante e alucinado jovem D. Sebastião que tão altiva e estupidamente desprezou a homenagem e conselho que Luís de Camões com a sua obra lhe prestava?
Camões morreu de pobreza e do esquecimento e desprezo a que foi votado.
Isto escrito um dia depois do dia que leva o seu nome e que se tornou nome de pátria: diz-se dia de Camões simbolizando que é o dia de Portugal que se pretende comemorar. E os escritores da lusofonia recebem como honra máxima o prémio que leva o seu nome.
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O Nobel escritor da língua pátria, José Saramago escreveu este
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Epitáfio para Luís de Camões
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Que sabemos de ti, se versos só deixaste,
Que lembrança ficou no mundo que tiveste?
Do nascer ao morrer ganhaste os dias todos,
Ou perderam-te a vida os versos que fizeste?

1 comentário:

carlos disse...

Para aquele que bem pode ter sido o inspirador deste post - Salgueiro Maia - aqui fica uma palavra de reconhecimento e gratidão.